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NOSSA LÍNGUA DE CADA DIA!
Valdecir dos Santos

Na sala de aula um aluno faz o seguinte pedido: professor, pode ir no banheiro? Ou, uma senhora logo pela manhã, diz: aproveitarei as primeiras horas do dia para ir no mercado. Ou, então, o pedreiro diz para o dono da obra: você se esqueceu de comprar o cal e, também, as lajotas para mim levantar o muro.
E o que dizer daquele aluno que é flagrado no maior bate papo com o colega da carteira ao lado quando, de repente, o professor pergunta-lhe: __ Entendeu a explicação, Zezinho? Ele responde: __ Eu estava intertido.
Construções como estas são comuns no cotidiano e representa um grande número de falantes que fazem uso do maior instrumento de comunicação que temos: a Língua Portuguesa e suas linguagens.
A Gramática Normativa repele de forma incisiva falas como as que mencionei no início do texto. Segundo a Norma Culta, quem vai, vai a algum lugar, logo, em relação ao exemplo do aluno que pediu para ir “no” banheiro, ele deveria ter dito: professor, posso ir ao banheiro? Utilizando o pronome “eu”em primeira pessoa, porque quando ele diz: “pode” ir no banheiro, neste caso o sujeito, pronome elíptico é “ele” ele pode ir no banheiro. Ainda assim a oração estaria transgredindo o código linguístico da Norma Culta porque, se ele for no banheiro, certamente irá sobre... porque quem vai “no” vai em cima de alguma coisa ou objeto.
Semelhantemente, atentemos para o caso da senhora que acordou pela manhã e disse que iria “no” mercado, persistindo esta idéia, ela iria sobre o mercado.
No tocante as palavras cal e lajota, conforme o dicionário da Língua Portuguesa de Sérgio Ximenes, edição revista, ampliada e atualizada, a primeira possui o gênero feminino, pois é uma substância branca, cáustica, obtida pela calcificação de pedras calcárias, por isso, lê-se “a cal” e não “o cal” como muitos o conhecem.
Em relação à lajota, é sinônimo de piso, logo a construção frasal: “preciso das lajotas para levantar o muro” está equivocada, porquanto, ninguém constrói muro utilizando piso, a não ser no revestimento de suas paredes.
Ainda sobre a frase com os substantivos “cal e lajota” e o pronome “mim”, certa feita, conversando com uma senhora de aproximadamente 80 anos, disse-me: __ Professor, hoje não vai dar para eu ir à igreja porque estou muito cansada. A fala daquela senhora chamou-me a atenção e perguntei-lhe: __ Até que série a vovó estudou? Respondeu-me: __ Até a 4.ª série, por quê?
Ponderei: __ Porque percebi que a senhora utilizou a palavra “eu” em lugar de “mim”.
Ela, então, respondeu-me: professor, o “mim” não faz nada, quem faz é o “eu”, e continuou: é para eu fazer isto ou aquilo, é para eu viajar, é para eu comer, é para eu trabalhar, é para eu ir à igreja... e nunca, é para mim fazer isto, é para mim viajar, etc.
A senhora estava correta do ponto de vista da Gramática Normativa, pois diz a regra que antes de um verbo no infinitivo se usa eu e não mim. Veja: É para eu guardar este objeto? Este objeto é para mim?
No caso do Zezinho que estava ‘intertido” quando o professor chamou-lhe a atenção, caso resolva procurar esta palavra no dicionário, não encontrá-la-á, haja visto sua não existência. Mas, se for curioso e procurar “entretido ou entreter” certamente distrair-se-á e, pesquisará sobre outras mais.
Quando era criança, minha mãe cozinhava em fogão à lenha, por isso, as panelas empretavam-se, depois que cresci entendi que, por mais que a panela fique ao fogo recebendo a maior quantidade, possível, de fumaça, nunca empretar-se-á, o que poderá acontecer, neste caso, é pretejar-se.
E o que falar de uma antiga frase que cansamos de ouvir, dita por jornalistas (telejornais) e outros meios de comunicação: “o paciente (não) corre risco de vida”. Primeiramente, farei uma analogia a uma empresa que vai muito bem em seus negócios, caso aconteça algum problema muito sério de ordem financeira em sua trajetória, ela correrá o risco de falir. Logo, se o paciente está muito mal, ele corre o risco de morrer e não, de viver, se o doente estiver melhor, é provável que viva. No plano da compreensão, viver não é nenhum risco.
Essa é a nossa língua de cada dia: rica, cheia de influências e falada por mais de 230 milhões de pessoas no mundo, está presente nas escolas, nas ruas, na zona rural, nos bares, nos meios de comunicação, na política, nas favelas, nos palácios, unindo pessoas, ricas e pobres, negras e brancas... língua que, na sua dimensão, não pode ser vista como meio de discriminação, mas instrumento que possibilita a interação e comunicação entre falantes dos mais variados setores sociais, afinal, este é o seu principal objetivo.


Biografia:
Valdecir dos Santos – Docente na Rede Estadual de Ensino de MS Pós-Graduado em Língua e Literatura Professorvaldecir.santos@gmail.com
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