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Procura-se um professor...
Valdecir dos Santos



Um professor que seja comprometido com uma educação de boa qualidade, que seja obediente e não questiona muito, se possível nunca, pois, assim, não traria problemas para nossas autoridades educacionais, difícil para quem ficou, durante anos, no banco de uma academia aprendendo a melhorar a educação.

Um professor que domine bem o conteúdo que ministra e, além disso, domine, também, seus alunos para que, em perfeita harmonia, as aulas sejam proveitosas, atrativas e diferentes (professor artista) e, por falar em diferentes, que ele (professor) utilize de todos os recursos tecnológicos de que a educação disponibiliza... é claro que isso é possível numa sala lotada, apenas 35 alunos ou mais... se bem que a legislação diz que deve-se colocar, no mínimo, 25 alunos numa sala mas, quanto mais, melhor. Melhor para quem?

Um professor que seja capaz de atender e entender cada aluno na sua diversidade, cultural, religiosa, social, etc. Seja capaz, também, de entender cada criança e o universo que a cerca, afinal o professor é o responsável pelo futuro dela. E, se lá na frente, não der certo, a culpa será da escola e do professor que não a educaram direito.

Um professor que seja: pai, mãe, irmão, amigo, médico, psicólogo, juiz, tudo por um nobre salário de, no máximo 900,00 a 1, 200,00 reais mensais por 20 horas semanais.

Um professor que não fique doente, pois se isso acontecer não se encontrará outro que se habilite a ficar no lugar do mestre, haja vista a dificuldade que se tem em encontrar alguém que, além de reunir todas as qualidades que mencionei e hei de mencionar, manifeste tal vontade ou predisposição em lecionar. Sem contar que a maioria dos profissionais do serviço público ao ficar doente, sai em licença normalmente, mas quando um professor fica doente, meu Deus!

Um professor que não lê e nem conheça seus direitos; que aceite tudo quanto lhe é imposto, sem direito a questionar, colocar sua opinião para uma educação democrática onde as palavrinhas mágicas “o que vocês acham, vamos colocar em votação”? quase não se escuta.

Um professor que não se preocupa quando qualquer pessoa, colega de trabalho, aluno, responsável ou quem quer que seja, o agride com desacatos, palavras, gestos ou ações que ferem sua dignidade e moral, na sala de aula ou fora dela. Um professor que aceita ser espancado no seu local de trabalho, ante seus alunos e nada faz, fica por isso mesmo.

Um professor que acredita em tudo que “aquela” emissora diz: "seja amigo da escola", que trabalha fora de seu horário, que ajuda a construir calçadas, muros, limpar pátios; um professor que contribui para o enriquecimento dos políticos corruptos deste país fazendo o trabalho de “amigo da escola”, trabalho que compete aos governantes através da devolução, de forma honesta, do dinheiro do povo pago em tributos e investimentos em educação digna para nossos filhos, inclusive, salários justos para a classe docente; que fica até mais tarde em reuniões, que desenvolve projetos de extensão e, caso possa, leve seus alunos para passar um final de semana na casa do educador e, por falar em amigo da escola, quem será o amigo do professor? Ele tem amigo? Quem defende os seus direitos? Quem o parabeniza pelo seu aniversário ou Dia do Professor?

Um professor que, mesmo tendo estudado por longos anos, que trabalha mais de 40 horas semanais, sem contar as atividades de casa, quando chega o pagamento, diz: olha gente, ainda ganhamos bem, muito bem, tem gente que não ganha a metade do que ganhamos, otimista, mas se esquece que tem gente que não tem 0,5 por cento do grau de instrução que ele tem e ganha o mesmo valor, há, também, aqueles que não tem nem instrução, nem capacidade para o cargo que exerce, mas, o salário, dez vezes mais que o do nobre professor.

Um professor que valoriza todas as outras profissões, menos a dele, pois quando lhe pedem para que dê uma aula particular, ele dá sua aula e quando é perguntado sobre o valor, diz: isto não é nada, eu amo minha profissão. Esquece-se que quando encontra um médico pela rua e lhe questiona sobre qualquer problema de saúde, o profissional lhe responde: vai ao meu consultório, lá veremos com detalhes o seu problema. Claro que a consulta será paga.

Um professor que trabalha pelo dom, o dom em ser professor, ensinador, que começou com as mulheres, pois devido ser uma boa dona de casa no trato com seus filhos, certamente, faria assim, também, nos centros de ensino com os filhos dos outros. E quem trabalha, somente, pelo dom ou pelo amor à profissão, não precisa de dinheiro. Enquanto isso alguém está se beneficiando, certamente.

Um professor que trabalha vinte e cinco anos ou mais para se aposentar considerando a idade mínima de 50 anos para mulheres e 55 para homens e, quando chegar lá, se conseguir é claro, irá cuidar da saúde tão fragilizada, herança que conquistou, ao longo dos, penosos, anos de trabalho em sala de aula.

Procura-se um professor...     


Biografia:
Valdecir dos Santos – Docente na Rede Estadual de Ensino de MS Pós-Graduado em Língua e Literatura Professorvaldecir.santos@gmail.com
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