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AMEAÇAS À HUMANIDADE
CAPÍTULO 5 - OS OLHOS QUE TUDO VÊEM
By: FerDatteBayo2015
Enquanto espera sua amiga pegar o café no aeroporto, Joel observa as sombras dançarem em sua frente. Algumas delas apenas passeiam e se alternam enquanto as pessoas passam para a esquerda e para a direita abaixo das lâmpadas de led que iluminam a sala de espera para o embarque.
Aquele estava sendo um dia longo, pois ja estava próximo das 23 horas e não parecia perto de acabar. Pra ajudar o fuso horário do vôo ainda aumentaria mais sua demora em chegar ao mês de março.
Em meia hora eles sairiam do Aeroporto de Mato Grosso rumo as cataratas do Niágara, e o fuso horário diminuiria em três horas, fazendo com que pousassem no Chile ainda em pleno dia 28 de fevereiro.
Mas o que realmente incomoda ele não é o fuso horário nem o vôo mas as sombras. Desde cinco anos atrás que elas incomodam muito a vida de Joel. Diana chega com os cafés. Eles servem para que ele não durma.
Se ele dormir as sombras invadirão seu subconsciente e então ele terá pesadelos, visões ou premonições. Todas as hipóteses nao favorecem um bom sono. Nem sequer um pequeno cochilo para descansar.
Cinco anos atrás Joel passeava com sua ex namorada pelas ruas de Campo Grande quando notou algo seguindo o casal. Se virou e viu uma sombra grande e comprida sobre a cabeça da loura namorada. Com o susto ele caiu no chão e bateu a cabeça. Enquanto acordava assustado no quarto de um hospital viu enquanto as sombras consumiam sua namorada em terríveis pesadelos contínuos dos quais não podia acordar.
Quando sua mãe o visitou ele descobriu que ficou 3 dias desacordado e que nesse tempo a casa da Ex namorada havia pegado fogo e ela não tinha conseguido sair a tempo. O choque se misturou com a confusão. As sombras não eram apenas assombrações. Elas contaram a ele o que ia acontecer.
A partir deste dia trágico ele não parou mais de ver as sombras. Escondidas, aguardando. Esperando para escolher suas vítimas. E não notavam ele. Era como se ele fosse invisível.
As sombras escolhiam aleatoriamente uma vítima e começavam a persegui-la, ficando sobre a cabeça ou flutuando ao lado do corpo ate que a visão se mostrasse a Joel. Quando estava perto da vítima os espíritos se contorciam enquanto ele tinha a visão de como a pessoa morreria. Então acontecia. Algumas visões eram claras como a luz do dia. Outras eram enigmas do tipo um pulmão e muita água: e então a vítima morria afogada.
Algumas dezenas de pessoas mortas depois, e Joel começou a se perguntar se ele podia mudar uma visão e salvar uma pessoa. Foi quando a sombra branca apareceu.
- Você não pode salvar eles. Não pode interferir no ciclo da vida. Se impedir alguém de morrer outro inocente pode acabar morto no lugar dele.
- Você consegue me ver?
Ele havia aberto uma brecha entre os dois mundos sobrepostos. Como simples pensamento de mudar a linha do tempo Joel abriu espaço pra um espírito conseguir vê-lo.
- Me deixe em paz. Algumas dessas pessoas nao mereciam morrer. Por que minha namorada tinha que morrer?
- Os mistérios da vida e morte nao nos pertencem. Mas eles sabem quando alguém vai morrer. E pelo visto você também ja aprendeu a ver.
O espírito nao estava sendo amigável com ele. Estava respondendo como se Joel o controlasse. E então ele desapareceu. Do nada. Como todos os espíritos faziam.
Joel analisava algumas coisas sobre os novos habitantes da sua realidade e nao compreendia. Para ele, os espíritos estavam entre nós para buscar a alma das pessoas que morriam. Mas não parecia ser apenas isso.
Uma tarde ensolarada ele caminhava numa praça quando viu uma criança com três sombras a seguindo. Ao olhar na mente do menino, ele viu o carro em alta velocidade esmagando o crânio da criança enquanto suas todas passam sobre o pequeno corpo inocente.
Agindo por instinto, ele retirou a criança da frente do carro, que passou a um milímetro deles. O carro explodiu e o motorista morreu a hora. As sombras viraram para Joel e se aproximaram.
- Você! Salvou ele! Como fez isso?
- Vamos levar ele junto!
Os espíritos levam algo do carro em chamas e se aproximam de Joel. E desaparecem. Agora eles sabiam que ele podia ver.
As próximas semanas foram se tornando complicadas. Um vulto seguia Joel nas ruas. Uma sombra estava no armário. Um monstro debaixo da cama. Todos os pesadelos de criança se tornaram realidade para ele. Mas eles não podiam machucá-lo. Não enquanto ele estava acordado.
- Eles não podem te tocar por causa da visão. Se você dormir eles te levarão para o outro lado.
- O outro lado? Como assim?
- O lado negro do Universo. A dimensão do Nada. De onde eles vêm. A matéria escura. Onde nada pode existir se possuir massa. Você não pode dormir.
O espirito branco aparecera do nada e agora sumia de novo. Com respostas. Depois daquele dia nunca mais dormiu. Pequenos cochilos traziam pesadelos sobre a sua morte, de todas as maneiras possíveis e com muita crueldade.
Vultos e espíritos o observavam enquanto ele fingia dormir. Ao se aproximarem, eram dizimados e desapareciam.
Agora ele não era mais normal. Aqueles espíritos estavam em todos os cantos da Terra. Sem conseguir derrotar eles, Joel começou a salvar algumas pessoas da morte, o que deixou o jogo mais irritante para os vultos negros que começaram a se acumular perto dele.
Agora muitas premonições eram sobre ele. A morte seguia sempre em seu encalço, mas ele acabou se tornando um ótimo sobrevivente, esquivando-se de todas as armadilhas que o aguardavam em todos os lugares em que ele entrava.
Como em qualquer dia 28 de fevereiro, Joel e sua amiga Hanna chegaram ao aeroporto pra colocar em prática uma viagem as cataratas do Niágara. Mas enquanto espera na sala de embarque, uma visão toma conta dele.
Hanna morreria naquela noite. Ao chegar com os cafés nas mãos, e quatro vultos no seu encalço, ela parecia notar o olhar estranho de Joel.
Mas o inesperado aconteceu: Uma premonição acabou se mostrando um saco para ser impedida: O avião cairia e ninguém sobreviveria. Nem mesmo ele.
Joel se vira e começa a tomar o café que melhora os níveis de adrenalina em seu corpo e ele desperta um pouco mais. O dilema que ele tem é: Salvo a minha vida e alguém morre? Salvo a vida dela e alguém morre? Salvo todos e outras centenas de pessoas morrem?
- Você vai abrir a porta para muitos deles entrarem.
- O que você disse?
O espírito branco havia invadido o corpo de Hanna. Joel sabia que eles estavam ali. Muitos deles. Mas foi a primeira vez que ele via um entrar no corpo de alguém vivo.
- Imagine todos eles tomando os humanos. Se salvar centenas vai criar uma rachadura na dimensão que vai deixar eles mais fortes e poderão dominar a todos neste universo.
- O que devo fazer?
- Deixe o destino acontecer. Você e todos eles precisam morrer hoje.
- E isso vai fazer o quê? Vai fazer eles desaparecerem?
- Sim. A sua morte vai fechar a rachadura entre as dimensões e eles ficarão presos na dimensão do Nada para sempre. Eles verão a nossa dimensão mas não poderão mais entrar.
O espírito sai do corpo de Hanna, que derrama um pouco de café.
- Você sentiu isso? Uma sensação de frio.
- Não. Não senti.
Joel sabia que deveria obedecer o espírito branco. Ele estava a tanto tempo ali e sempre ajudava contra os vultos. A escuridão ficaria presa fora do universo. Joel deveria se sacrificar para salvar bilhões.
Sem analisar os pelos do braço de todos que entraram naquele avião, Joel decidiu pela humanidade. Todos estavam com a pele tomando um leve tom azulado. Após uma hora de viagem, o avião sobrevoa o Acre e cai. Joel se pergunta se o espírito branco era um anjo ou algo assim.
Vários espíritos negros se aproximam dele, que tenta se manter acordado. O espirito branco os afasta e sorri.
- Você será lembrado como o salvador. Como um herói.
Os espíritos negros e vultos se aproximam todos de Joel, como se quisessem proteger ele da queda. Ele ja havia ouvido o branco dizer que ele devia morrer. Mas parecia que os negros queriam dizer outra coisa.
- Ele vai destruir tudo!
Joel ouviu o que parecia ser o líder dos vultos gritar antes que o avião atingisse as pedras. Ao tentar se virar ele nota que pedaços de pessoas estão por todos os lados.
O avião havia explodido e não restava ninguém vivo. Uma luz parecia estar se formando. Joel não conseguia notar o que era, pois não podia mover o que restava de seu corpo. Uma lâmina cai na direção de seus olhos e mostra no reflexo o que está acontecendo: Uma espécie de portal havia sido aberto.
De dentro do portal o espírito branco puxava outros espíritos brancos com armaduras reluzentes. Eles não eram apenas espíritos. Eram guerreiros. Guerreiros fantasmas com lâminas finas. Os olhos do vidente se fecham.
O futuro estava morto.
The End
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