Escuta, moço, o constrangimento em melodia
que meus olhos tão desafinados tocam,
em débeis notas que ao peito chocam,
numa batalha entre o tormento e a fantasia.
Minhas primaveras as tuas superaram,
velozes e vitoriosas na corrida do tempo,
ganhando como prêmio só o lamento
pelo escândalo que nossos beijos inspiraram.
Quisera paralisar os ponteiros dos anos
e à tua espera abrandar meu penar,
no consolo da hipócrita ventura de estar
agradando tanto gregos como troianos.
Entendes, moço, porque no incêndio de teu toque
não permito que me queime inteira?
Sofro por não poder arder nessa fogueira
e aceitar que teu desejo me sufoque.
Saiba que teu amor foi o verde ramo,
que se impôs à aridez de meu coração,
e se floresceu desafiando a razão
é porque, moço, eu também te amo.
Tua paixão é o estandarte da pureza,
erigido sobre os teus imberbes pêlos,
que flutuam sedutores com o desvelo,
de quem é sol e lua e mar e natureza.
Quem sabe, um dia, o mundo abrande a fúria
com que apedreja o amor que o preconceito não poda.
Então, moço, na paixão de meu seio te acomoda
e vamos juntos romantizar o tabu da luxúria.
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