Acossados na procura infecunda
vivemos no sopro do último fôlego,
perseguindo o anseio do que livre abunda,
e se preso escorre qual água de córrego.
Ah, Eros! És exaltado por corações leigos,
mas desprezado pelos que já sorveram teu veneno.
Dá-nos o antídoto para os pares desfeitos,
sedentos ainda da perenidade quebrada sem um aceno.
Quero-te, embora deteste tuas sequelas,
que demarcam do amanhã a nascente
nos olhos salobos da água quente,
fluindo e escorrendo e adormecendo na espera,
de que seque a fonte ficando só pedras
- monumentos frios ao herdado vazio.
Até que o sol volta a emprestar seu brilho no cio
e os olhos de pedra ousam aparar as arestas.
E, de novo, são profundos e frágeis poços;
E, de novo, vertem dissabor pela nova perda.
E, entre limo e pedra, nós somos a presa
dos caprichos que o amor distribui sem remorsos.
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