Lascívia, que fazes de mim?
Aprisionas meu pudor nessas correntes,
que imprimem tua marca no seio carente,
empalidecendo a vergonha de face carmim.
Maculastes minh'alma antes pura,
despojando-a da perenidade do amor,
pois se te obsequio desfrutando teu calor,
afasto-me da única paixão que me cura.
És volúvel e queres me tornar assim
para que a teu chamado, servil, me curve,
sem que meu pejo teu ímpeto turve,
sem que meu ímpeto te roube de mim.
O esplendor cigano tua fronte cingiu,
furtando do céu esse brilho tão mágico,
do apelo envolvente que o destino faz trágico,
àquele que à tua boca sua fraqueza uniu.
Sei! Só me elevas aos ares para lançar-me ao chão,
após teu veneno ter me viciado a vontade,
e o domínio e a coragem de repudiar tua "bondade"
e desafiar tua soberania, dizendo-te: Não!
Não nego o vazio despejado e depôsto
quando teu cedro minha vida regia,
mas o depois do teu beijo se entranhava no dia
como ressaca que só curava com o desejo repôsto.
Por isso, rogo, que te afastes de mim!
E leva no bojo as olheiras do amanhecer
e os amores furtivos e tudo mais que me fez conhecer.
Só imploro: devolva-me os amigos ou apressa meu fim!
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