Boneco lindo, teu coração pulsante
e essa tez jambo são prendas que cobiço.
Por elas até a lua quedou-se pálida, perdeu o viço,
e esposou a noite para te espiar sob o negro amante.
Quem me dera ser eu o brinquedo
saciado de peraltices na prostração desse ombro...
-com vidrados olhos enfeitiçaria meu dono
e criaríamos um mundo de deliciosos folguedos.
Que divinas mãos fez desse corpo uma arte?
Teria Gepêto na perfeição de Adônis se inspirado
ao moldar essa boca que é a diva do meu pecado?
Ah, esse teu toque é passagem de ida pelos sóis de Marte.
Possível fosse, morreria todos os dias do ano
e de novo nasceria a festejar aniversários,
até vislumbrar em meio aos presentes vários
esse boneco moreno que já em sonhos amo.
Meu ciúme é chaga que só tua paixão cura,
mas teu desejo é chama que me consome a raiva.
Por que teu fogo em mim batalha trava
para apagar a brasa que meu amor apura?
Ah, não já fosses de outra vida a razão
o teu cárcere daria no travesseiro cetim,
com laços de fita a te prenderem para mim,
e serias de ursinho à fogoso alazão.
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