Ferreiro ingênuo, no ígneo ferro moldas a lida,
que malha em suor da ferramenta à ferradura,
foges do espeto afiado da vil ditadura,
pois tua bigorna criou o que malhará tua vida.
Teu inculto coração tem mãos tão rudes
que o mundo resumem em trabalho e força e suor,
e a opressão te fez crer que a liberdade é pior
que este mísero cárcere em que sozinho te iludes...
Só despertarás na rebeldia do teu primogênito
distorcido como limalha nas brasas do carrasco?
Será tarde, caro, para fitares as mãos com asco
quando tua covardia afogares numa dose de arsênico.
E tua alma sofrerá pela ignorância da matéria
penando pela inércia que te acorrentou ao feudo,
sob doada lápide fitarás na cruz de cedro:
"Aqui jaz quem da verdade fez pilhéria."
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