SSA, 26.03.2010.
Você é meu, está seguro aqui, ó! (faz com as mãos alguma como um símbolo – dinheiro). Queria dizer corrupção. Tratava com um senador da república da Candelária.
Os hábitos de corrupção na pessoa humana, não são novos nem unicamente do Brasil. Antes são universais e parece que vem desde o começo do mundo, quando as pessoas começaram a entender de negócios e de política, governo. De governo, sobretudo, homens comandando homens, tributando-os para fazer caixa de gastos para os negócios públicos. Dá para entender. Dinheiro coletado de outras pessoas para uso ou aplicação comum. O sujeito que comanda os negócios públicos em regra se entusiasma com estes e esquece os seus pessoais. Precisa de dinheiro para o custeio de suas coisas, aliás, das coisas necessárias à sua vida e ao seu uso e gozo. Tira do público. É como um salário pelo trabalho, o seu trabalho. Começa em regra limitando-se ao necessário. Sente que precisa de mais, tem maior representação, crescidas vagens. E vai ampliando a cobrança. Como todas as pessoas precisa ter. E a medida do ter nunca enche... Aí começa a corrupção. Não pode comer só. Ninguém faz nada só nem ninguém come só. Chegou a hora de corromper-se e corromper o próximo.
Foi assim com o empresário Magnânimo e o senador Magnovulto. Este precisava de dinheiro para sustentar suas despesas eleitorais, que salário, subsídio, como se diz ao estipêndio remunerativo do legislador, não chega para tanto. E pediu uma contribuição do velho amigo, a quem havia prestado algum favor político, como encaminhamento de papeis para receber o pagamento de serviços prestados ao governo etc.
- Olhe senador Magnovulto, amigo velho, tudo bem. Estou disposto a ajudá-lo. Você me ajuda também. É aquele velho dizer – u´a mão lava a outra. Sabe como é a licitação. É dura! Muitos concorrem apresentando valores abaixo do viável ganham o trabalho e o fazem mal, empregam material de baixa qualidade... Eu não sei fazer isso. Meu negócio é sério e fico na pior, pegando as beiradas. As rabeiras, amigo velho! Não dá para ganhar que sobre ao favor político, financiamento de campanha, essas coisas. Vê se o amigo velho pode me facilitar uma licitação maior, mais vantajosa que essas que hei conseguido. Aí dá para a gente negociar financiamentos. Este de hoje, outros no futuro, para o amigo velho e seus companheiros de legenda.
- É rapaz, isso só consultando. Envolve presença de diretor, secretário, ministro, de tanta gente... Vou ver, vou ver!
O senador andou gabinetes, votou de favor com projetos oficiais que lhe desagravam, enxertou emendas ao orçamento para engordar um pouco mais a verba, essas coisas e afinal conseguiu o sucesso de Magnânimo em uma licitação muito vantajosa.
Aí pronto dinheiro para uma campanha rica, com ampla divulgação, cachê a caciques e cabos eleitorais e todo mundo da equipe, contados os recursos inclusive para a campanha de seus candidatos a federal e estadual. Coisa fora do comum.
Mas, obra contratada se conclui, precisa-se vencer nova licitação para ter nova oportunidade de trabalho e lucros. Magnânimo venceu nova licitação. Na oportunidade seguinte, quatro anos depois, para dar uma demão aos deputados, que apoiariam daí a mais quatro anos, quando Magnovulto procurou Magnânimo, este desconversou.
- Amigo velho, amigo velho, desta vez não posso ajudar-te a ajudar teus amigos. Sabe como é trato com senadores, não com deputados. E preciso de novos parceiros para ampliar meus negócios. Na próxima, aliás, na tua, daqui a quatro anos estarei contigo.
- Não Magnânimo, isso não, temos um compromisso de honra. Eu enchi as tuas burras de ouro! E se não eleger os deputados, com que votos contarei daqui a quatro anos? Não, não! Seu compromisso é comigo. Fui eu que arrumei sua vida. E esses que você financia hoje, onde estavam quando quebrei os teus galhos. Não eram, nada e talvez nem venham a ser. Estão do lado oposto ao governo e eu sou governo!
- É, amigo velho, não posso fazer nada agora, tenho outros compromissos. Desculpa.
O senador magnânimo engrossou a voz.
- Não vai ser assim não! Derrubo todas as concessões que te foram feitas. Te ensino a ter honra e honrar os compromissos. Todas tuas licitações foram vencidas com a minha presença. Sem esta não as teria. E vou derrubá-las.
- Olha senador, não engrossa não. (Foi aí que fez o gesto) – você está preso aqui, nestas mãos. Gravei todas as nossas conversas. E tem mais, além das gravações tenho documentos. Se esqueceu dos bilhetes que me fez, acusando o recebimento de valores?
- Canalha! Vou arrumar isso direitinho.
- Já te disse, não engrossa! Poderei até ir para a cadeia, mas você irá comigo.
- Desgraçado, infeliz, canalha – gritou o senador tremendo. E caiu desmaiado.
Para o hospital, deste para o velório.
- Desse velho rato estou livre - teria dito o empresário ao saber do final.
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