Login
E-mail
Senha
|Esqueceu a senha?|

  Editora


www.komedi.com.br
tel.:(19)3234.4864
 
  Texto selecionado
O DUPLO CAINHO DA CORRUPÇÃO
João Justiniano da Fonseca



SSA, 26.03.2010.


Você é meu, está seguro aqui, ó! (faz com as mãos alguma como um símbolo – dinheiro). Queria dizer corrupção. Tratava com um senador da república da Candelária.
Os hábitos de corrupção na pessoa humana, não são novos nem unicamente do Brasil. Antes são universais e parece que vem desde o começo do mundo, quando as pessoas começaram a entender de negócios e de política, governo. De governo, sobretudo, homens comandando homens, tributando-os para fazer caixa de gastos para os negócios públicos. Dá para entender. Dinheiro coletado de outras pessoas para uso ou aplicação comum. O sujeito que comanda os negócios públicos em regra se entusiasma com estes e esquece os seus pessoais. Precisa de dinheiro para o custeio de suas coisas, aliás, das coisas necessárias à sua vida e ao seu uso e gozo. Tira do público. É como um salário pelo trabalho, o seu trabalho. Começa em regra limitando-se ao necessário. Sente que precisa de mais, tem maior representação, crescidas vagens. E vai ampliando a cobrança. Como todas as pessoas precisa ter. E a medida do ter nunca enche... Aí começa a corrupção. Não pode comer só. Ninguém faz nada só nem ninguém come só. Chegou a hora de corromper-se e corromper o próximo.
Foi assim com o empresário Magnânimo e o senador Magnovulto. Este precisava de dinheiro para sustentar suas despesas eleitorais, que salário, subsídio, como se diz ao estipêndio remunerativo do legislador, não chega para tanto. E pediu uma contribuição do velho amigo, a quem havia prestado algum favor político, como encaminhamento de papeis para receber o pagamento de serviços prestados ao governo etc.
- Olhe senador Magnovulto, amigo velho, tudo bem. Estou disposto a ajudá-lo. Você me ajuda também. É aquele velho dizer – u´a mão lava a outra. Sabe como é a licitação. É dura! Muitos concorrem apresentando valores abaixo do viável ganham o trabalho e o fazem mal, empregam material de baixa qualidade... Eu não sei fazer isso. Meu negócio é sério e fico na pior, pegando as beiradas. As rabeiras, amigo velho! Não dá para ganhar que sobre ao favor político, financiamento de campanha, essas coisas. Vê se o amigo velho pode me facilitar uma licitação maior, mais vantajosa que essas que hei conseguido. Aí dá para a gente negociar financiamentos. Este de hoje, outros no futuro, para o amigo velho e seus companheiros de legenda.
- É rapaz, isso só consultando. Envolve presença de diretor, secretário, ministro, de tanta gente... Vou ver, vou ver!
O senador andou gabinetes, votou de favor com projetos oficiais que lhe desagravam, enxertou emendas ao orçamento para engordar um pouco mais a verba, essas coisas e afinal conseguiu o sucesso de Magnânimo em uma licitação muito vantajosa.
Aí pronto dinheiro para uma campanha rica, com ampla divulgação, cachê a caciques e cabos eleitorais e todo mundo da equipe, contados os recursos inclusive para a campanha de seus candidatos a federal e estadual. Coisa fora do comum.
Mas, obra contratada se conclui, precisa-se vencer nova licitação para ter nova oportunidade de trabalho e lucros. Magnânimo venceu nova licitação. Na oportunidade seguinte, quatro anos depois, para dar uma demão aos deputados, que apoiariam daí a mais quatro anos, quando Magnovulto procurou Magnânimo, este desconversou.
- Amigo velho, amigo velho, desta vez não posso ajudar-te a ajudar teus amigos. Sabe como é trato com senadores, não com deputados. E preciso de novos parceiros para ampliar meus negócios. Na próxima, aliás, na tua, daqui a quatro anos estarei contigo.
- Não Magnânimo, isso não, temos um compromisso de honra. Eu enchi as tuas burras de ouro! E se não eleger os deputados, com que votos contarei daqui a quatro anos? Não, não! Seu compromisso é comigo. Fui eu que arrumei sua vida. E esses que você financia hoje, onde estavam quando quebrei os teus galhos. Não eram, nada e talvez nem venham a ser. Estão do lado oposto ao governo e eu sou governo!
- É, amigo velho, não posso fazer nada agora, tenho outros compromissos. Desculpa.
O senador magnânimo engrossou a voz.
- Não vai ser assim não! Derrubo todas as concessões que te foram feitas. Te ensino a ter honra e honrar os compromissos. Todas tuas licitações foram vencidas com a minha presença. Sem esta não as teria. E vou derrubá-las.
- Olha senador, não engrossa não. (Foi aí que fez o gesto) – você está preso aqui, nestas mãos. Gravei todas as nossas conversas. E tem mais, além das gravações tenho documentos. Se esqueceu dos bilhetes que me fez, acusando o recebimento de valores?
- Canalha! Vou arrumar isso direitinho.
- Já te disse, não engrossa! Poderei até ir para a cadeia, mas você irá comigo.
- Desgraçado, infeliz, canalha – gritou o senador tremendo. E caiu desmaiado.
Para o hospital, deste para o velório.
- Desse velho rato estou livre - teria dito o empresário ao saber do final.


Biografia:
João Justiniano da Fonseca, Rodelas, Bahia,30-061920. Escritor, poeta. E só,
Número de vezes que este texto foi lido: 61673


Outros títulos do mesmo autor

Contos O DUPLO CAINHO DA CORRUPÇÃO João Justiniano da Fonseca
Contos MENELÉU E MENALÁ. João Justiniano da Fonseca
Contos COITÉ E A RODA DO SÃO GONÇALO João Justiniano da Fonseca
Contos ONDE ESTÁ A FELICIDADE. João Justiniano da Fonseca
Biografias PEDRO PANTINHA. João Justiniano da Fonseca
Crônicas NATAL CEM ANOS DEPOIS João Justiniano da Fonseca
Poesias DESENCONTROS. João Justiniano da Fonseca
Artigos UM TOQUE DE DESPERTAR PARA O PRESIDENTE LULA João Justiniano da Fonseca
Crônicas DE CRÍTICA E GROSSERIA João Justiniano da Fonseca
Poesias CARTA SEM RESPOSTA João Justiniano da Fonseca

Páginas: Próxima Última

Publicações de número 1 até 10 de um total de 12.


escrita@komedi.com.br © 2025
 
  Textos mais lidos
Os Dias - Luiz Edmundo Alves 63150 Visitas
Jornada pela falha - José Raphael Daher 63089 Visitas
O Cônego ou Metafísica do Estilo - Machado de Assis 63008 Visitas
Negócio jurídico - Isadora Welzel 62940 Visitas
Namorados - Luiz Edmundo Alves 62937 Visitas
Viver! - Machado de Assis 62894 Visitas
Insônia - Luiz Edmundo Alves 62880 Visitas
A ELA - Machado de Assis 62833 Visitas
PERIGOS DA NOITE 9 - paulo ricardo azmbuja fogaça 62826 Visitas
Eu? - José Heber de Souza Aguiar 62757 Visitas

Páginas: Próxima Última