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CARTA SEM RESPOSTA
Uma palavra de amor e solidariedade
João Justiniano da Fonseca

Resumo:
Uma jovem em desespero escreve ao amigo, lamentando-se, queixando-se da vida. Não diz precisamente dos problemas e das mágoas, silencia as dores.

CARTA SEM RESPOSTA.


Jovem e querida amiga.
Respondo à sua carta-desabafo.
Suas palavras pregam-me um susto. Não só porque a vejo pessimista. Sobretudo porque a sinto desiludida, sem esperança, sem fé, sem perspectiva, e isso é muito ruim. Afinal, que há com você? Que tanto mal lhe fazem no momento, ou fizeram no passado? O mundo é grande, a vida é boa e o tempo longo. Há uma velha expressão atribuída a Vieira, muito sugestiva: "Atreve-se o tempo a colunas de mármore, quanto mais a corações de cera". Não gosto da cera no coração, que pulsa o quente sangue da vida. Vale a metáfora. O pensamento quer significar que o tempo cura todas as dores morais ou espirituais e que os corações, por mais empedernidos que sejam lá um dia se cerificam (agora, sim, cabe a cera), isto é, amolecem, cedem. Vamos esperar pelo tempo. Você é muito jovem, tem vida e tempo de sobra para a cura. Crie esperança, tenha fé, ame, sobretudo ame e ponha confiança no amor. Se tem problemas de família, tente resolvê-los, e sendo isto impossível, deixe que o tempo os resolva. Se a caluniam, deixe a onda passar, que a verdade ressurge. Se tem de abandonar o serviço público, por incapacidade física, busque outra profissão, que lhe seja adaptável - só para a morte não há recurso, porque gente não ressuscita. Se lhe doem os músculos, busque alivio às dores e ao cansaço com exercícios apropriados, repouse o necessário e vá adiante. Nisso, eu quase poderia dizer, faça como eu. Você nem avalia como me castigam os músculos lombares! Lute paciente e resignadamente, sem queixas e sem tréguas para obter a cura da poli nevrite, sempre advertida para o fato de que isso, por si só, não mata. E espere pela publicação do seu primeiro livro, persevere nisso, enquanto produz outro e outros sem parar. Um cidadão que se chamou Pedro Nava publicou o primeiro livro aos 80 anos. Produziu nove e se imortalizou. Tenha fé, criatura! Sei que é fácil dizer e custoso viver, mas, viver é essencial. Viva!
Agora, uma pergunta: há limite de idade para o estudo, para a matrícula em um curso e freqüência? Idade para casar, há certamente, aqui, há idade. E é também certo que nos tempos atuais, as pessoas nem precisam casar-se, basta que tenham um namoro. Mas, quem disse que casar ou ter cama de casal é tudo? Vamos repetir que o essencial é viver! Que mais, além da palavra posso oferecer-lhe? Diga sem constrangimento. Quem sabe, terei algum meio de ajudar?

* * *

Minha amiga, que escrevera desesperada, pedindo uma palavra de fé para o seu momento de angústia inconfessada e jamais sabida de mim, não respondeu a essa palavra de amor. Não sei se chegou a receber, ou, se desesperada, nem a esperou. Soube uma semana depois que se jogou do décimo andar, deixando todos os seus problemas e desgostos para solução do nunca mais. Cometeu o derradeiro erro da vida, se é que erros outros cometera. Nunca se apela para a morte, joga-se, se necessário, com a vida de forma limpa, paciente e corajosa.


Biografia:
João Justiniano da Fonseca, Rodelas, Bahia,30-061920. Escritor, poeta. E só,
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