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UM TOQUE DE DESPERTAR PARA O PRESIDENTE LULA
João Justiniano da Fonseca

Resumo:
Uma simples contestação à referência de excessso de parte da imprensa. Foi a imprensa, em tese, que levou o presidente ao poder, prestigiando-o ao tempo das "cara-pintada".

UM TOQUE DE DESPERTAR PARA O PRESIDENTE LULA
Tantos anos depois como poderia dizer que chame à verdade sem hostilizar, aliás, sem melindrar o presidente, tão longe, hoje, do menino pau de arara corrido da fome no sertão pernambucano. Tão longe do torneiro mecânico acidentado em trabalho, do sindicalista de São Bernardo, do moço franzino que dos palanques despertava a nação brasileira para os desvios morais de nossa política - o conservadorismo montado desde... Desde, digamos desde a independência do país, desde a proclamação da república - entre os muitos equívocos, “os 300 picaretas”. Que saudade, presidente, que saudade! Que saudade dos cara pintada, quando a impressa estava sob mordaça e eles iam para a rua em busca de liberdade para os moços dos jornais, vossa excelência à frente. Que saudade! Homem maduro, compromissado com o ganhar pão para o sustento do lar, sem poder ser presente, contemplava com imenso orgulho meus filhos adolescentes na rua fazendo o que não poderia pessoalmente fazer. Tinha medo. Que homem, com sete filhos a sustentar, à base de um salário modesto, pago pelo governo, que, então, ditatorialmente massacrava, não teria medo de por tudo a perder? Via-me em meus filhos adolescentes de cara pintada. E hoje sinto saudade. Será necessário, Deus, que os moços e os meninos precisem voltar à rua para por fim às falcatruas? A imprensa está livre e, trabalhada por moços sonhadores e idealistas, é porta voz do povo, de nós todos. Deixa-la solta no dizer e contestar. Algum eventual excesso? Que se corrija. E vá á luta. Agora e sempre.
A fraude “é uma coisa mais velha que a história do Brasil”? Que seja da idade da colonização, presidente, com os trezentos (ou quatrocentos? - já nem me lembro da lição) degredados da frota de Tomé de Sousa explorando o pau brasil e arrancando o ouro de nossas entranhas. Que o seja. Mas não se eternize. Não seria bem que a posteridade escrevesse – “O presidente Lula deu cobro à imoralidade de 500 anos, ao contrario de dizer que deu cobertura”? Olhe presidente, para falar me justificando, sou um homem de oitenta e nove anos. Plenamente lúcido. Vi muito. Não é hipocrisia contestar o uso do dinheiro público para pagar passagem de esposa de deputado de seu estado de origem a Brasília. Não, presidente Lula, não! Não é hipocrisia. É, antes, despertar para uma situação irregular. Ai de nós se não tivéssemos a imprensa para acordar a nação exibindo-lhe a malandragem praticada pelos poderosos em detrimento do erário público, em prejuízo da nação. Um parêntese de recado ao deputado Serginho Carneiro: não é tão velho assim, deputado, o problema. Vossa Excelência é um menino para saber disso - pergunte ao senador João Durval, seu pai e meu cantempoâneo, e ele dirá que antes de Brasília, os congressistas residiam no Rio de Janeiro, onde era a sede do Congresso Nacional. Não havia isso de ir e vir à custa do povo. Pagavam sua passagem e dos familiares, que são seus, não do povo, de cujo bolso sai o dinheiro público. O vício infeliz começou aí, na mudança para Brasília.
E essa, senhores, de congressista trabalhar de terça a quinta – vai na segunda, torna na sexta - é quase um escândalo. Lugar de residência do agente público é aquele aonde funciona o órgão público no qual trabalha. Imagina se o barnabé que tem função em Salvador residisse em Rio Branco e tivesse vôo oficial para ida e vinda semanalmente! Imagina. E não me digam que é diferente, se não responderei com uma palavra – privilégio. Por que privilégio? Suas Excelências são representantes de um povo pobre, que olha para isso bestificado. Ou seriam representantes das empresas que patrocinam eleições com dinheiro não raro alcançado por via torta? Ou é que "o uso do cachimbo põe a boca torta"?
Não meu presidente, não. Não é decente que este povo pelo qual vossa excelência tem-se mostrado tão zeloso, pague mordomias a senhoras de deputados e a políticos sindicalistas. Elevem-se, se é o caso, se se considera justo, elevem-se os subsídios dos congressistas, igualando-os ao nível mais alto do Poder Judiciário, o ministro do supremo. E ele custeie suas despesas. Como todas as pessoas. Não terceirizar rendimentos com passagens e queijadas. Basta de terceirizar. Até onde iremos com subterfúgios, com fugas à realidade, com mentiras? Venha a imprensa, bem vinda seja. Mostre os podres à nação brasileira. E se esta for insuficiente a convencer às “autoridades” de suas imoralidades, voltem os meninos à rua e este pobre velhinho da janela os aplaudirá.
Saiba presidente, presidente que do meu canto distante votei com vossa excelência da primeira à última eleição. E não me arrependo. Esta, minha autoridade para tocar a corneta. E ninguém pense que pretendo mudar. Quero só tocar a corneta.
Verdade que um chefe de governo precisa de apoio no Congresso Nacional para governar e ao que entendo do que leio, nossos congressistas, exceções à parte, vêm-se corrompendo um a um. Verdade que o político de oposição cria tempestade por qualquer vento mais forte, direito seu. Não defendamos o indefensável por causa disso. O Presidente Sarney, se não mentem os jornais – e parece que não, porque trazem provas a público – perdeu a condição de limpar a sujeira que levou o Senado ao lixo, o dito não é meu, está nos jornais, é do Senador Simon, voz reconhecidamente limpa e límpida. É tão culpado por esta situação, quanto quem mais o seja. Até por questão de dignidade, de resguardo da honra pessoal não poderia presidir à investigação dos próprios erros. O argumento em favor disso não tem, certamente, o apoio dos homens de bem que votaram quatro vezes com o Lulalá e pretendem votar com seu candidato à sucessão.


Biografia:
João Justiniano da Fonseca, Rodelas, Bahia,30-061920. Escritor, poeta. E só,
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