A ARTE LITERÁRIA.
Há, entre os modernistas, especialmente na área dos auto-entendidos como vinculados à contemporaneidade, quem condene a poesia tradicional, fundada no clássico e no romântico, quero dizer, o verso métrico e a rima. Sobretudo há os que estigmatizam o soneto. Isso é coisa antiga, ultrapassada, ninguém lê - fala-se.
Ninguém lê ou poucos o escrevem bem, de modo que dê gosto à leitura? - eu perguntaria sem medo à resposta.
E iria adiante, na pergunta: Se a poesia tradicional não tem valor, por que as escolas de letras ainda a contemplam no currículo e a ensinam? Apenas como informação histórica, como resguardo da memória e das tradições? Bem, então, bastaria noticiar, esclarecer que teve o seu tempo áureo, não comentar ou ensinar.
O que me parece certo nessa ojeriza é que a relação entre as pessoas muda. A pressa, o corre-corre da vida moderna, não deixa tempo ao zelo no texto poético... Não, não, não é isso. Os bons modernistas primam pelo cuidado na escrito, pela escorreita linguagem, pela busca do tropo literário. Há até quem chegue a dizer que poesia é metáfora.
Aí a gente para querendo alcançar o entendimento. A metáfora é um tropo literário tão antigo quanto a escrita. Quem ler os sermões de Vieira, os discursos de Rui vai encontrar isso quase a cada parágrafo. Quando Cristo elevou a taça de vinho dizendo - tomai e bebei, esse é o meu sangue, a seguir repartindo o pão enalteceu - este é o meu corpo, deixou o registro do tropo literário na literatura evangélica.
Na verdade, quem se inicia no verso tradicional, especialmente no soneto, vive uma primeira fase castigada buscando a rima, desencontrando-se da métrica una para o poema. Curto tempo. Se domina bem o vocabulário e marca ponto no talento, logo, logo comanda a arte. Chega a um ponto que a métrica flui naturalmente. Quanto à rima, entendo que é alguma coisa como a decoração do poema, do soneto inclusive – a moldura. Dá beleza, não se faz necessária à boa qualidade. Há belíssimos sonetos sem uma única rima. Demais, modernamente, o soneto dispensa o encadeamento rimário. Importa, neste, sobretudo, que ofereça ritmo, sonoridade. Também já não agrada ao poeta o rimário chorão dos românticos. O choro é coisa de cada um de nós, diz com o sentimento humano, não com a arte. O negócio hoje está para o amor moderno e até para o erótico. Pessoalmente, não obstante o culto ao soneto tradicional, com a rima encadeada, cultivo o soneto de rima irregular e até produzo-o sem rima nenhuma. Acho que o ideal é o poeta não ter complexo ou prevenção contra o moderno e o contemporâneo, contra o tradicional e o clássico. O ideal será, sim, aperfeiçoar-se, dominar a escrita, ser poeta ou prosador zeloso de seu ofício. De mim, busco a sonoridade. Dessa não me afasto mesmo no verso moderno. Até porque poesia é música, gerou-se como voz do som, letra para composição musical. Aprendi assim.
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