Login
E-mail
Senha
|Esqueceu a senha?|

  Editora


www.komedi.com.br
tel.:(19)3234.4864
 
  Texto selecionado
Paulicéia, Polytheama e purgueiros...
Cidade paulista, Jundiaí de ontem e de hoje
Galdino Mesquita

Na metade do século passado, o fim da linha Santos a Jundiaí trazia esperança e oportunidades para ferroviários e sonhadores. A “Terra da Uva” também era de tijolo, cerâmica e cimento, das tecelagens, metalúrgicas e alimentícias. Nos anos 50, ergueu-se o “Bolão”, a maior estrutura de concreto em forma de concha no país e levantada em cordas de aço. Jundiaí era das pioneiras em vilas urbanizadas feitas para moradia de operários. Em volta da tecelagem Argos, casas de alvenaria, com dormitórios, banheiro, varanda etc. Os vizinhos, todos, se conheciam e as crianças brincavam nas ruas.

Na Vila Progresso, as centenas de casas da Dragão Mecânica e da Japi, estas feitas pelo ‘mau patrão’ J.J. Abdalla. Junto à Vigorelli, da família Franco, casas abrigavam os metalúrgicos que fabricavam máquinas de costura movidas a pedal. Na Agapeama, um dos primeiros condomínios habitacionais planejados do Brasil, o conjunto IAPI de 300 sobradinhos geminados. As terras dos De Vecchi e dos Menten ganharam o nome de Agapeama porque ali havia uma fábrica de formicida (mata formiga) com este nome. A vila Scavone também era aconchegante – como ainda é, atrás da garagem do Cometa.

Uma vila operária se formou atrás do cemitério e ao lado da estação de trem. Todas elas davam continuidade à aglomeração urbana iniciada com as casas do Núcleo Barão, a Colônia, construídas para os imigrantes havia meio século. Naqueles anos, a vida das cidades girava em torno do Centro: da matriz irradiavam os fatos culturais e a moda. No mesmo local até hoje, o exuberante Cine Teatro Polytheama mostrava filmes, peças e shows. De um lado da catedral, o Cine Marabá; do outro o Ipiranga. Entre eles, os “points” eram a padaria Paulicéia, a lanchonete Mirim Dog e o Dada.

Na Vila Arens, havia o cine República; na Ponte de São João o Alvorada e na Agapeama, o cine Áurea. Todos chamados de “purgueiros”, que passavam as “fitas” depois de exibidas no Centro. Os filmes enlatados arrebentavam várias vezes, parando a projeção e acendendo as luzes – para desmascarar os enamorados. O “Canal 100” mostrava, antes do Tarzan, em branco e preto, as jogadas de Pelé e Garrincha meses após a Copa de 58 na Suécia, ao som do “Que bonito é ... na cadência do samba”.

As calças jeans surgiram em Jundiaí na década de 60. Eram americanas da marca Lee, muito cultuadas, sonho de consumo e de “status”. Quando os militares deram o golpe de 1964, surgiram por aqui as calças Wrangler americanas e a Rancheira da brasileiríssima Alpargatas. Esta era de um brim azul marinho, sem botões de metal, que, diziam, era feita à noite na fábrica da Argos – quando aparecia o “diabo” no telhado. A velha Argos foi uma das maiores tecelagens das Américas e fabricou um jeans chamado Free, tão bonito e bom quanto os americanos.

Os jovens compravam discos de vinil – bolachas pretas do tamanho de uma tampa de privada, que tocavam a música quando as agulhas de uma vitrola giravam nos sulcos. Quem vendia os pesados discos de 78 rotações (RPM) era a Casa Carlos Gomes na rua Barão. Todos queriam ter uma Lee, Levis ou até uma Free, mesmo contrabandeada. O Credi Rei vendia casimira, não jeans, nem a loja Ducal, só calça de tergal e gravata borboleta (black tie). Uma década depois, a família Restum começou a vender jeans em casa, na Baronesa do Japi. Comprava-se sapatos na sapataria Relâmpago, lojas Martins ou Checchinato. A Guarda Municipal andava de bicicleta e com o carro 13. Em frente à Paulicéia, paravam cadillacs, motos e lambretas.

Para aprender a datilografar na máquina de escrever, havia a escola Remington no Centro. Para calcular, máquina de somar tocada a alavanca, sem eletricidade. O comércio de sapatos e jeans originou grandes redes de lojas jundiaienses. O armazém de secos e molhados dos irmãos Russi começou na Agapeama e tornou-se rede de supermercados. O Polytheama foi restaurado e a Argos continua um ícone da cidade; centro cultural que ainda lembra a velha fábrica de jeans.


Biografia:
Jornalista, editor, professor de jornalismo na Universidade Paulista - Unip. Com especialização em Educação Ambiental, pela FSL de Jaboticabal, tem artigos publicados em várias capitais.
Número de vezes que este texto foi lido: 59430


Outros títulos do mesmo autor

Releases Carros-fortes poluem e congestionam o calçadão Galdino Mesquita
Romance Jornais & Revistas nanicos de Jundiaí Galdino Mesquita
Crônicas Hurricane, de boxeador a escritor, um drama racista Galdino Mesquita
Crônicas Sobre liberdade e ouro para o bem do Brasil Galdino Mesquita
Crônicas Paulicéia, Polytheama e purgueiros... Galdino Mesquita
Artigos Gás, buracos e explosões Galdino Mesquita
Crônicas Natal do avesso do avesso Galdino Mesquita
Crônicas Um caso verdadeiro: o 156 e o gaúcho sumido Galdino Mesquita
Corporativo Eu já votei, legalmente, e não voto mais neste ano Galdino Mesquita
Artigos EsclareceNDO o gerundismo Galdino Mesquita

Páginas: Próxima Última

Publicações de número 1 até 10 de um total de 17.


escrita@komedi.com.br © 2024
 
  Textos mais lidos
RECORDE ESTAS PALAVRAS... - MARCO AURÉLIO BICALHO DE ABREU CHAGAS 61637 Visitas
Fragmento-me - Condorcet Aranha 61593 Visitas
RODOVIA RÉGIS BITTENCOURT - BR 116 - Arnaldo Agria Huss 61480 Visitas
🔵 SP 470 — Edifício Itália - Rafael da Silva Claro 61061 Visitas
ABSTINENCIA POÉTICA - JANIA MARIA SOUZA DA SILVA 59970 Visitas
a historia de que me lembro - cristina 59964 Visitas
Meu desamor por mim mesmo - Alexandre Engel 59951 Visitas
Colunista social português assassinado por suposto namorado - Carlos Rogério Lima da Mota 59892 Visitas
O tempo todo tempo - André Francisco Gil 59797 Visitas
Razão no coração - Joana Barbosa de Oliveira 59796 Visitas

Páginas: Próxima Última