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VIVÊNCIA EM ROMA E CASAMENTO DE AGRIPINA
Vivência em Roma e casamento de Agripina
Henrique Pompilio de Araujo

Resumo:
Nero e Agripina vão para Roma. Lá ela se casa com Cláudio e Nero se torna imperador

VIVÊNCIA EM ROMA E CASAMENTO DE AGRIPINA

     A convivência em Roma foi muito conturbada no começo. Eu não me adaptava aos costumes daquele lugar. Tínhamos que viver presos dentro do palácio, havia guardas para todos os lados e parece que estavam todos de olho em nós. Cada um deles teve um quarto separado. Eu, que estava acostumado a dormir com Acte desde pequeno, tinha que dormir longe dela agora. Minha mãe foi muito dura durante todo este tempo.

     Um sujeito rude como eu, acostumado a viver no meio do mato, brincando e brigando com animais, fedendo merda de cabrito, agora tinha que fazer uma série de etiquetas para me apresentar em público. Era um verdadeiro terror para mim. As roupas que eu devia usar eram um verdadeiro martírio para mim que quase vivia pelado onde nasci. Quando chegava alguém dito importante, era-nos comunicado antes e tínhamos que correr para nos preparar: rosto todo limpo, cabelo penteado, roupa bem elaborada, etc, etc. Até o modo de andar, de nos portar perante a pessoa era corrigido pelos tais professores de ética daquele tempo. Se fosse o imperador teria que se sentar no trono, os guardas ficavam de cada lado, só então a pessoa era convidada a se apresentar. Eu achava aquilo uma parafernália sem sentido e comecei a me recusar a estas instruções, mas minha mãe vinha me dizer o sermãozinho dela e eu tinha que ceder.

     Estranho mesmo era o imperador Cláudio: andava bem devagar, era meio coxo de uma perna, parece que enxergava pouco e escutava muito menos ainda. Ao contrário dos outros, não andava tão bem vestido, quase sempre com as mesmas roupas, falava pouco, parecia estar com medo de tudo e de todos. Claudio era tio de Agripina, portanto meu parente. A única coisa boa que Cláudio fazia era comer. Comia como se fosse um verdadeiro porco. Ele se empanturrava de tudo. Às vezes comia tanto que chegava até a vomitar, mas continuava muito magro. Tinha uma saúde razoável.

     Outro grande defeito de Cláudio era que ele não tinha paciência para ler os papéis que traziam para ele assinar. Ia assinando de qualquer jeito. Muitos destes papéis eram condenações. E foi assim que houve muitos assassinatos cujas sentenças foram proferidas pelo imperador. Na verdade ele nem sabia que tinha condenado alguém. Não se sabe bem se ele tinha memória fraca. Isto aconteceu muito comigo também mais tarde. Foram muitas pessoas que foram mortas cujas sentenças eu assinei, mas não fui procurar saber a fundo o erro que tais pessoas cometeram. Eu confiava muito nas pessoas e achava que elas agiram corretamente.

     Entretanto Cláudio fez um bom governo, embora praticamente não fizesse nada. Ele deixou quase tudo ao encargo de Narciso, um escravo liberto de uma inteligência rara. Ele, praticamente, administrava Roma em nome do Imperador. Uma outra coisa que Cláudio gostava e que mais tarde eu me apaixonei, era pelas festas. Assim ele incentivou aos espetáculos no Circo Máximo e mais tarde eu dei continuidade a estes devaneios, principalmente as corridas de biga. Ah como eu gostava destes divertimentos! Aquilo eu fazia muito bem, e meu melhor porfessor para isto foi Crispus. Foi assim que fui me adaptando à nova vida..

     Por este tempo apareceu também em Roma os adoradores do Cresto. Claudio expulsou-os de Roma no ano 49. O Cresto ou o Cristo havia sido crucificado no reinado de Tibério. Eu não entendia nada daquilo e nem quis procurar saber do que se tratava.

     Cláudio era casado com Messalina. Esta sim era uma mulher alegre, animada, estranha. Tinha uma série de amantes e parecia não esconder isto de ninguém. Todos sabiam dos amantes de Messalina, mas ninguém ousava dar um pio. Talvez Cláudio também soubesse deste detalhe.

     O imperador era já um pouco idoso quando se casou com Messalina. Ela tinha apenas 17 anos e ele já estava chegando aos 50 anos, entretanto era ainda muito esbelto. Foi com Messalina que nasceu o seu primeiro varão a que ele deu o nome de Britânicus. Este seria o sucessor do império. Cláudio ficou muito feliz e por isto resolveu permitir satisfazer todos os gostos de Messalina e foi aí que as coisas se complicaram. Ela passou a ter uma série de amantes, e isto as fuças do imperador que nada reprimia.

     Os comentários corriam por todo o palácio, mas Cláudio não dava atenção a isto. O homem parecia estar em outro mundo. Não ligava com nada. Agripina procurava chamar a atenção do tio, mas não adiantava. Também Agripina pouco se importava com a queda de Messalina. Ela a considerava uma intrusa mesmo, provavelmente ela já desejava o trono naquela época. Eu não achava estranho se houvesse um casamento de Agripina com Cláudio. Seria bem melhor que Messalina. Combinava mais por causa da idade. Eu até torcia para isto, pois aí também parava um pouco também o fogo de minha mãe, mas eu não desconfiava que ela já traçava alguma coisa nesse sentido.

     A sem vergonhice foi tão grande que Messalina arrumou um amante definitivo e com ele resolveu se casar publicamente. Como ela teve aquela coragem! Cláudio estava no porto de Óstia quando retornava para Roma. Toda Roma sabia do evento de Messalina e resolveram abandonar a mulher. Ela ficou desesperada. O novo marido Sílio fugiu e ela resolveu ir ao encontro de Cláudio, somente ela e as crianças Britânicus e Otávia que já tinha nascido. Cláudio passa por ela e nem lhe dá atenção. Foi direto para Roma. Narciso sabendo do ocorrido vai atrás de Messalina, do seu amante e dos cúmplices e assassina todos eles.

     Cláudio não se pronunciou sobre o assassinato e disse já estar velho para se casar de novo. Estava agora com 58 anos de idade. Entretanto ele não se acostumou a viver solteiro e vai a procura de outra mulher. Apareceram três candidatas: Petina que já tinha sido sua esposa no passado, Lólia Paulina – ex mulher de Calígula e Agripina. Houve alguma recomendação para que se casasse com Agripina, apesar de ele ser tio dela. Não era bem visto um casamento de tio com sobrinha naquele tempo. Sinceramente tudo foi articulado por Agripina que tinha vontade de subir ao poder. Casando com Cláudio, ela se tornaria imperatriz. Assim, no ano de 49 eles se casaram. Este casamento era considerado um incesto, mas Cláudio disse que era para o bem o império. Não sabemos em que. Com este casamento ele se tornou o meu padrasto.

     Com o casamento, Agripina praticamente ditava as normas a serem seguidas. Tornou-se mandona, coisa que ela sempre foi, mas as coisas pioraram muito. Ela tinha um jeito estranho de dominar Cláudio. Primeiro falava abertamente sobre o que queria, depois vinha cobri-lo de beijos e carícias. Assim o homem amolecia. Na verdade ela queria que o imperador fosse eu.

     Foi com este objetivo que ela traçou o meu casamento com Otávia. Houve um reboliço muito grande, pois Otávia estava prometida para outra pessoa. Ela estava predestinada a casar-se com o pretor Lúcio Júnio Silano Torquato, mas o noivado foi desfeito, pois Agricpina acusou Lúcio de praticar incesto com sua irmã Júnia Calvina. Eu não sabia de nada, mas eram as artimanhas de minha mãe para forçá-la a se casar comigo. O noivado foi desfeito e ela foi prometida ao filho.

     Eu fui comunicado do fato, mas não aceitei e bati o pé várias vezes. Como é que eu iria me casar com aquela menina? Para mim, ela era uma ilustre desconhecida. Desde que chegamos ao palácio ela falava pouco comigo. Eu até mesmo procurava desviar do seu caminho. Agora suportá-la por uma vida inteira? As conversas com minha mãe foram longas. Chegaram a varar a noite com este tema. Mas ela foi colocando em minha cabeça as vantagens de um casamento com a filha do imperador. Ele se tornaria também um imperador, o novo Deus de Roma. Eu falei sobre Acte, queria me casar com Acte, mas ela não mudava uma vírgula do que pensava. Como ela não estava conseguindo, eu disse então que me casaria com Otávia e ficaria com Acte também. Não tendo outro jeito, ela aceitou. Foi assim que resolvi me casar com Otávia.

     Uma outra coisa que minha mãe lutou muito foi para que Cláudio me adotasse como filho. Foi uma verdadeira reviravolta. Ele não queria me adotar de maneira alguma. Neste caso eu passaria a ser o sucessor dele no poder depois de Britãnicus. Neste ponto eu não me meti muito. Para mim tanto fazia ser filho de um como de outro, era a mesma coisa, mas para ela não. E ela insistia para que Cláudio me adotasse. Ele se via muito relutante, mas no ano 50 ele resolveu adotar. Assim ele me adotou e me nomeou como seu sucessor. Recebi então o nome de Nero Cláudio César Druso Germânico. Eu simplesmente tinha ódio deste nome. Adorava o meu nome de Lúcius. Assim então disse que se chamaria de Nero diante do povo, mas para os meus queria que me chamassem somente por Lúcius.

     A vida continuou, agora as coisas no palácio eram mais melindrosas ainda. Eu era o novo filho do imperador. O Senado sabendo disso ficou furioso e houve muita crítica negativa a este respeito.

     Por outro lado eu tinha que andar na linha e não fazer nada errado. Tinha que seguir as etiquetas do palácio. As coisas pioraram muito para mim. Eu me considerava preso num prisão máxima, pois muitos olhos estavam sobre a minha pessoa.




       







Biografia:
Henrique Pompilio de Araújo, nascido em Campo Mourão PR e radicado em Cuiabá MT. Começou a escrever desde cedo. Professor aposentado, bacharel em Direito e Teologia. Trabalhou em diversas escolas em Cuiabá e alguns jornais do Estado. Publicou sua primeira obra em 1977: Secos & Molhados - Poemas. Ultimamente publicou outros livros: "Flores do Além" Poemas, "Contos da Espiritualidade" - Contos, "Nas curvas da vida" Memórias, "Cinquenta contos" Contos. Há muitas obras ainda esperando edição.
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