Milagres.
Parecem estar tão distantes, quase impossíveis.
Um dia eu pedi um milagre a Deus.
Que Ele concedesse uma segunda chance a minha mãe, quando ela adoeceu.
Só um milagre poderia salvá-la.
O tempo foi passando e o milagre que eu tanto pedia não chegava.
Naquele tempo minha fé ainda era grande e por isso eu acreditava que mais cedo ou mais tarde ele chegaria.
Sabe, o milagre nunca aconteceu.
E com ele foram-se embora minha esperança, minha fé, e minha confiança em Deus. Tudo que eu tinha de mais valor, saiu de minhas mãos de repente. É muito duro perder de uma hora para a outra todas as coisas nas quais a gente acredita, e pela primeira vez na vida, eu me senti terrivelmente sozinho.
Todavia, a vida continuou sua jornada, e com o tempo passei a perceber que não era simplesmente a vida que estava errada, e sim a maneira como eu a enxergava. Era preciso vê-la com outros olhos.
Percebi que a gente tende a encarar a morte como uma punição para os atos errados que talvez tenhamos cometido ao longo da vida. Quando na verdade deveríamos encarar a vida, mesmo que por um breve período, como nosso maior presente. Nosso egoísmo é tamanho, que nos recusamos a aceitar a perda, e queremos que nosso desejo se sobressaia, a qualquer custo, acima de todas as leis da natureza.
Dessa forma eu pude descobrir que crescemos na renúncia.
Que ganhamos forças na coragem que supera o medo, que podemos ser mais felizes se encararmos a morte como uma passagem para algo maior.
Não é sempre que Deus nos concede uma segunda chance, mas Ele pode dar a importância da serenidade nos úlitmos momentos, além de uma despedida digna e feliz. Foi o que Ele deu para mim e para minha família.
Ele abriu nosso coração e permitiu que ali repousasse a dádiva da aceitação.
Ele nos trouxe de volta o sorriso.
Então comecei a perceber que aonde quer que eu fosse, Deus estava lá.
Quando o dia nasce, todas as coisas belas se abrem. E quando a noite cai, chegam as estrelas com seu brilho, trazendo uma madrugada singela e segura.
O canto dos pássaros, o perfume das flores, o sorriso das crianças no parque.
Essa vida que se agita freneticamente, e me convida todos os dias a viver.
No fundo, são milagres.
Hoje, eu acredito.

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