Hoje chorei, a razão pouco importa, mas importa que chorei. E foi chorando que entendi nossa descendência do mar. Nossos ancestrais, aqueles que se confundiam com as ondas, tão humanos quanto somos hoje, lançavam-se infrenes contra as paixões que excitavam seus olhos. Assim fizeram quando alguma coisa lhes seduziu na terra firme, inabitada. Tratava-se da queda lenta e ondulada das folhas de uma árvore. Nossos ancestrais sentaram-se em volta dela, e assistiram ao ciclo inúmeras vezes, encantados de tal modo, que se esqueceram de como voltar para o mar. Foram então se adaptando a terra como podiam, e assim ensinaram também a sua prole. Hoje em dia dizemos, com falsa convicção, que somos filhos da Terra. Não, essa mágoa toda que nos pega às vezes, e a sensação de ausência constante que embala nossas vidas… Isso tudo é saudade de nosso lar. Saudade tão grande, mas tão grande, que a lágrima é tentativa indireta, angustiante e inocente de fazermos um mar à nossa volta, um mar com a água salgada de nossos olhos.
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