POETA:
Parece-me que não sou
Aquele que escreve o verso
A musa sufoca o amante
Do preto no branco impresso
Sussurras ao ouvido com força
Desfazes a tal segurança
Que havia no precoce talento
Que tinha quando era criança
E se fores tu o "logos"
E eu mero instrumento
Calo-me, desamparado,
Ou traduzo teu sofrimento?
MUSA:
No fundo, que importa!
Quem seja o autor do gesto
Sem mim não podes nada
Sem ti para nada presto
Escravo sou da pena
Aqui encontras consolo
Fugir não posso, desisto
De ser uma musa pequena
Se escrever nos dá desgosto
Calados somos, meu caro,
Piores ainda!
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