Quanta sensatez, meu caro!
Você que construiu castelos,
Jardins e monumentos,
E que os contemplou com tanto esmero...
Tantas belas coisas que o sonho moldou
Para delírio dos teus olhos crédulos.
Como se fossem de pedra,
Como se fossem do mais puro
E indestrutível concreto.
Tu que pensavas plantar lágrimas,
Esperando colher jóias.
Pobre de ti, meu amigo!
Agora assistes, atônito,
Ao esfacelamento do eu.
Agora nem pedra, nem pérola
Muito menos diamante.
Agora aquilo que se esconde te faz um convite
Que não podes recusar;
Que é temerário recusar...
Não há mais tempo para sonhos, meu velho.
Teus trinta e três que são quarenta,
Que são milhares e milhões de eras,
Te gritam aos ouvidos, esgoelam-se
Contra a máscara criada para o mundo,
A mentira que suportas, a insensatez sem trégua.
Teus quarenta que te seguem desde os dois
Quando choraste diante daquele quadro,
Quando a inocência restou perdida.
Chora de novo, meu irmão
Que o novo campo é fértil.
Aquele que morre, com suas cinzas,
Semeia o fim do Tempo.
O que se vai desvenda o mistério
Que tanto anseias sem saber.
Deposita sobre o mármore teu suspiro
De cujo som brotará o riso
Que te fará renascer.
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