— Professor, posso ir ao banheiro?
— Já terminou seu exercício?
— To terminando.
— Lúcia...
— É sério, to quase terminando. Faltam só três itens. Deixa eu ir lá, rapidão.
— Ta. Mas bem rapidão mesmo, que eu só vou dar o visto hoje!
— Beleza.
Perfeito.
— Professor, posso ir ao banheiro?
— Todo mundo que ir ao banheiro agora?... Terminou seu exercício?
— Terminei. Ta na minha mesa.
— Trás o caderno aqui, oras.
— É que... Eu to com uns probleminhas "femininos". Deixa eu ir agora, professor? Por favor!
__ Ai... Ta bom, ta bom... Ei! Sem correr!
Sinto muito, professor, mas eu tenho que correr. Ou eu corro ou eu perco a minha oportunidade.
***
— Agora é assim? Você que vai ficar me seguindo?
— Sim Lúcia, agora é assim. - com a necessaire sobre a pia vai ficar mais fácil.
— Fale por você, porque eu já ta cansada disso...
— Jura?
— Por que a porta ta trancada? Foi você que...? Como você fez isso?
— Impressão minha ou isso é medo na sua voz?
— Medo de você, Bárbara? Por favor! Agora abre a droga dessa porta ou eu vou gritar.
— Não gaste sua voz irritante à toa. Se for pra gritar, grite com motivo.
Agora.
— B-Bárb-Bar... Bárbara...! O que... O que você quer...? Abaixa essa faca, eu não...
— Ah, pelo visto você tem trauma de faca né? Olha só como é a vida!
— B-Bárbara, não...
— Mas será que isso é trauma mesmo? Ou é plena consciência do mal que essa coisinha pode fazer?
— D-do... D-do que você ta...?
— Falando? Bom, eu tenho uma teoria e eu quero muito que você me diga se eu estou certa.
— Que teoria? Do que você ta falando? Bárbara, por favor, abaixa isso!
— Foi você que matou o Alexandre, não foi?
— ...
— E fez todo mundo acreditar que ele tinha se suicidado pela culpa de ter machucado a gente. Num foi?
— Bárbara, não faça nenhuma bobagem, eu...
Droga, quem é que ta tentando abrir à porta?
— Ta congestionado, vai no do andar de cima! - é realmente prazeroso ter a Lúcia em minhas mãos desse jeito. É muito, muito bom ver o medo nos olhos dela.
— Bárbara, por favor, não cometa nenhuma loucura! As coisas não foram assim...
— Ah não? E quem me garante? Você não mentiu da outra vez? Por que não mentiria agora?... E faz tanto o seu tipo fazer uns cortes inofensivos no rosto e nos braços depois de ter esfaqueado o Alexandre...
— Bárbara...
— Vamos recapitular comigo: depois de você ter me causado um traumatismo craniano com aquela cadeira, o Alexandre entrou no quarto pra ver o que tava acontecendo...
— Você sabe o que aconteceu. Te contaram tudo depois que você acordou, não se lembra? Para com isso, Bárbara!
— Mas essa parte não tem em lugar nenhum. Até porque, o que me contaram é que foi o Alexandre que me deixou inconsciente. E isso não é verdade. Nós duas sabemos!
— ...
— Isso. Nós duas sabemos. O que eu não entendo é o porquê de ele ter se matado, sendo que os ferimentos que ele te causou foram tão superficiais.
— Ele não se matou por minha causa...
— Cala essa sua boca, sua desgraçada! Olha só como você é baixa e capaz de dizer qualquer coisa pra se safar! Não seria a primeira vez, a propósito. E qual foi a sua versão, hein? Que ele te esfaqueou, se deu conta do que fez e se esfaqueou em seguida? Você fingiu que tava morta, esperou que ele morresse e, por sorte, ele fez tudo isso com a porta aberta, daí você pôde, finalmente, correr atrás de socorro? Você acha mesmo que eu sou idiota a ponto de não ser capaz de juntar os fatos?
— Bárbara, eu juro...
— Não jure. Eu sei muito bem o que você fez. Eu sei! E eu sei o que você ta fazendo agora. E não se preocupe, porque eu também vou deixar você sabendo o que eu fiz.
***
— Abra essa porta! Abra! Vamos, abra!
Eu não preciso me esconder. Fiz o que fiz e foi com muito orgulho.
— Bárbara, o que você ta fazendo com essa...?
— Chamem a ambulância se querem que ela sobreviva. Ela ta perdendo sangue.
|