Gaia é uma farsa.
Ela tentou tirar a própria máscara algumas vezes. "Não sou tão boa quanto pareço", disse. Ninguém acreditou. Isso poderia ser um alívio, mas palavras como "não seja tão dura consigo mesma" apenas a perturbava ainda mais.
Sentada sozinha na beira do mar, abraçada às pernas, observando os pelos dos braços recém eriçados com a ideia tenebrosa de estar conseguindo enganar toda a sua plateia, ela se perguntava se os amigos que estavam logo atrás realmente a estavam observando.
"Por favor, deem-se conta do que sou".
Tarefa complicada. Gaia estava exigindo demais de seus amigos, que simplesmente a julgavam de acordo com as suas atitudes, pois era tudo o que eles poderiam enxergar nela. Seus pensamentos estavam sempre tão guardados, que era praticamente impossível que eles atingissem a conclusão que ela tanto queria.
Difícil deduzir que ela sentiu inveja naquele "parabéns" acompanhado de um sorriso aparentemente sincero.
Difícil saber que ela se magoou naquele "tudo bem, não se preocupe" tranquilizador enunciado em um esforço disfarçado para que soasse natural
Difícil descobrirem que ela torceu contra quando dizia um "vai dar tudo certo, você vai ver".
Gaia mostrava o seu melhor, porque ela sabia o que era melhor, mas não havia nenhuma garantia de que seria assim que ela agiria caso não existisse um filtro natural de seus maus pensamentos. Nada mais justo. Enquanto ela escondia seus defeitos através de qualidades montadas, suas qualidades reais também se ocultavam.
Pensando melhor, a verdade é superestimada. É melhor assim.
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