O ENGRAXATE
Tomás acordou cedo, bocejou e se espreguiçou esticando o braço. Levantou e correu pra porta do bar do seu Juquinha, na esperança de ganhar o café da manhã. Sentou junto a porta e ficou observando o trânsito louco na rua.
_ Bom dia Tomás! balbuciou o Sr. Valdomiro, dono do salão ao lado. Ele somente se virou com um meio sorriso e continuou a olhar a rua. O que interessava agora era o sagrado cafezinho nada mais. Até que uma atendente de uma loja, que já era acostumada com a cena, lhe trouxe um café com leite e um pão amanteigado.
_ Como é se fala! Resmungou o Juquinha.
_ Muito obrigado! Respondeu Tomás olhando para a moça meio cabisbaixo.
_ Todo o dia este moleque se abanca em frente ao meu bar, pedindo café e comida.
_ Há deixa ele Juquinha ele não tá fazendo nada errado.
_ Fica espantando a freguesia Sr. Valdomiro!
_ Que nada, é bem educado! _ Qualquer dia desse o juizado de menores passa aqui na rua, aí eu quero ver!
_ Deixa de ser ruim Juquinha!
Acabou de tomar seu café, pegou sua caixa de engraxate e foi em direção à praça, a fim de ganhar uns trocados, do qual serviria para pagar seu almoço. Seu Antônio vigia do banco, conhecia bem aquela rotina, sabia que aquele moleque morava sozinho nas ruas, porém quem não o conhecia, temia, devido o preconceito e o mau cheiro que exalava.
_ Quantos anos tem Tomás?
_ Eu não sei não, eu acho que é 12!
_ E sua mãe e seu pai?
_ Não sei não.
_ Eles não preocupam com você!
_ Eu não quero falar sobre isto não. Minha mãe e meu pai ficavam brigando, xingando e batendo na gente o tempo todo.
_ Não gostaria de ter um lar!
_ Não sei não. Pelo menos aqui ninguém xinga e bate na gente!
Apareceu o primeiro freguês e interrompeu a conversa.
_ Tinta e graxa?
_ Sim. Por favor!
Nem tinha terminado, já tinha outro aguardando lendo o seu jornal. Terminou o primeiro freguês, pagou a mais, comentou que era gorjeta e nem esfriou a cadeira, já sentara o outro. Seu Antônio vigia do banco ficara observando a cena.
Já se aproximara a hora do almoço e a barriga do Tomás estava rocando de fome, mas, as três pessoas que o aguardava também reclamava com o mesmo propósito.
_ Olha eu vou engraxar só estes e depois vou comer alguma coisa! Reclamava ele.
Antônio aproximou com um bom bocado em um marmitex e balbuciou: Menino trouxe para você e não vai dizer que não! Claro que vou aceitar! Do jeito que eu tô. Assim era a vida daquele menino abandonado pela família e tão cedo já era morador das marquises.
Um dia ele não apareceu. Quem estava acostumado em ver a sua carinha pela rua ficara preocupado.
_ Alguém viu o Tomás hoje? Perguntou o seu Valdomiro, o barbeiro.
_ Eu não!. Eu também não!. Responderam quase num coral seu Juquinha e seu Antônio.
Ambos foram verificar debaixo da marquise. Chegando lá constataram que o menino estava ardendo em febre e rapidamente encontraram um jeito para levá-lo ao médico.
_ Eu o levo e você pode ir para o seu bar, já que a barbearia está um pouco devagar hoje. Chegando ao pronto socorro seu Valdomiro foi logo pedindo para abrir alas, pois, Tomás já estava variando de tanta febre.
_ O que ele tem?
_ Muita febre, suando e variando
_ Não tem pediatra, vou ver se Dr. Roberto que é Clínico o atende.
_ Por favor dona ele tá muito mal.
A recepcionista vai conversar com o médico e retorna logo em seguida.
_ O senhor vai ter que ir em outra unidade de saúde quem tem pediatra.
_ Este menino não vai aguentar dona.
_ Não posso fazer nada! Retrucou aquela senhora, demonstrando impotência!
Seu Valdomiro já não tinha idade, era franzino e saiu às pressas com o menino no colo. Correu numa farmácia ao lado e pediu que o proprietário fizesse algo, pelo menos para dar tempo de socorro. Sentou o menino numa cadeira e iniciou os procedimentos. A temperatura beirava os 40 graus e foi logo levando a criança para debaixo do chuveiro frio, com intuito de baixar a temperatura do corpo e em seguida aplicou uma injeção para dar resistência aos anticorpos.
_ Ele é seu filho? Perguntou Marcelo, o farmacêutico.
_ Não, não, ele é morador de rua e sempre toma um cafezinho ao lado da minha barbearia.
_ Sendo assim eu não vou cobrar o serviço. Fica por conta. Bom que o senhor fica meu fregues.
_ Pode deixar.
_ Deixa ele deitado para repousar.
Repousar onde! Indagou consigo seu Valdomiro. Levou para casa e pediu para sua esposa cuidar dele até voltar do trabalho.
Contou para os amigos sobre o que tinha acontecido e todos ficaram indignado com a atitude do médico. À noite chegou em casa e encontrou o menino conversando animado com os outros filhos e a esposa. Parece até que já era conhecido. Estava de roupa limpa e alegre. Parecia estar agradecido pelo que aconteceu. A esposa comentou que ele alimentou feito um touro e ambos sorriram. Olhou para os quatro filhos que estavam brincando com o moleque e em seguida se dirigiu à sua esposa e comentou,
_ estou querendo fazer uma coisa não muito comum.
_ Que foi? Respondeu a esposa.
_ Vou verificar qual o procedimento de adoção.
_ Você nem conhece o menino direito!
_ Conheço o suficiente para tomar esta decisão.
_ Gostaria de morar aqui Tomás!
_ É Sério? Posso?
No outro dia Valdomiro foi procurar o juizado de infância para os devidos procedimentos.
J. Chaves
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