Você me conhece? Sou negro, sou branco, mestiço e cafuzo. Estou na cidade, no campo, nos guetos, marquises ou até andarilho. Sou moço, sou velho e quem sabe criança. Sou sábio, mediano ou louco, que aos poucos deslizo nas páginas em linhas ou sem pautas. Prefiro o lápis ao rascunho, ou até a caneta na preguiça do não reciclar. Sou moderno, antigo, perfeito ou não. Não me conhecem? Me concentro nos bastidores da vida, sofrida ou sem luxo. Minha herança foi trabalho e desejos não tive. Não nasci em berço de ouro e meus pais não deixaram tesouros. Meu nome insignificante talvez, não trago a monarca no sangue e a descendência era sem fama, sem trama e sem circo. A oportunidade não me deram razão, com pão me mantenho de pé e com fé me rasgo no tempo, sem saber onde será meu limite. Acredito na força e na garra de vencer esta dura batalha, transformar os meus feitos na prática, divulgando os meus traços teóricos e assim ser alguém, deixar o ninguém de lado, esquecido. Sapiência me define e conduz, no papel sou rei sem coroa, construo meus textos silábicos, na gramática desmonto e refaço. Sintaxe redijo e transformo, neurônios queimados a fênix, sou eu escritor anônimo, almejo um sonho maior, antes que eu vá pra outra vida, muitos verão o meu feito. Perfeito, imperfeito e será minha obra sincera e humilde, aos olhos brilhantes a correr, deleitar e transpassar a imaginação do leitor, que ao me avaliar me explica o que está certo ou errado e feliz eu irei consertar. A felicidade do escritor anônimo é ver a obra prima nas bancas, seu ego se eleva ao céu, mas, sempre com os pés ao chão, não pode o orgulho avançar, caso isto aconteça, a caneta perde o vigor, o intelecto não terá mais valor e não seremos mais escritor.
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