A chuva fina batia insistentemente na minha janela e o meu olho pesava toneladas. Resolvi dar um passeio na memória e fabriquei asas, a fim de visualizar do alto as minhas recordações. Cantei ciranda de mãos dadas numa rodinha de crianças que redopiava no gramado. Cantei “tanta laranja madura menina, que cor são elas, elas são verdes amarelas..”, viajei ao som “meu limão meu limoeiro, meu pé de jacarandá, uma vez tindolelê, outra tindolalá”, “acorda Maria bonita, levanta vem fazê o café, que o dia já vem raiando e a polícia já está de pé”, saí a procura dos adolescentes que brincavam de cair no poço, pique-esconde e queimada. Joguei bola na chuva e me sujei de lama. Por último brinquei de guerra de travesseiro na minha cama. Foi quando minha mãe me acordou: _ Você não vai para a escola não? Já são seis e meia. Que soninho gostoso! Cortou o barato do meu sonho. Num relâmpago me levantei cambaleando e já peguei minha calça, enfiando sem noção minhas duas pernas numa perna só e ti-bum..., caí com toda força de bumbum no chão, que chão frio! Exclamei.
_ Que foi isto? Perguntou minha mãe.
_ Foi nada não mãe! Mas tava doendo pra dedéu e me abri de gargalhada.
_ Cê tá rindo de quê? Tá doido?
_ Nada não mãe. Olhei minha nádega pelo espelho e tava roxo, ganhei uma carimbada. Fui para a escola pensando no sonho que tive. Se a gente começasse a brincar como nos sonhos! Como seria! Uma amiga estava aguardando no portão, abriu o sorriso e mostrou aqueles dentinhos mais lindos, resolvi a contar para ela e aí veio uma gargalhada.
_ O que foi Patrícia?
_ Nada. Deixa de ser careta! Estas brincadeiras são dos tempos da minha avó.
_ Esta deveria ser a melhor época.
_ Que nada! Aquele monte de meninos e meninas brincando de rodas. Aff... (Fez cara de repudio)
_ Pelo menos é melhor do que hoje!
_ Que nada hoje é outra realidade.
_ É Mesmo, drogas, violência e estupro.
_ Credo!
_ Credo que nada, estou sendo realista. É muito melhor brincar de roda, do que morrer no mundo das drogas.
_ Você acha que resgatando estas culturas vai adiantar?
_ Com certeza! É melhor começar agora do que esperar que os nossos jovens sejam exterminados deste mundo. Terminou a aula fui para a casa, pensando em como trazer estas coisas para o mundo de hoje.
J. Chaves
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Biografia: Jones Chaves Queiroz, nascido na cidade de Abre Campo/MG, no dia 11/06/1964, onde morou até os 11 anos. Mudou para a cidade de Contagem/MG onde concluiu seu estudos. Se casou com Maria Elza em 1990, onde teve dois filhos: Lorrana, hoje com 19 anos e Lindemberg com 15 anos. Reside atualmente na cidade de Betim/MG. Trabalha na área administrativa como funcionário público da Prefeitura de Contagem e cursa direito na faculdade Pitágoras em Betim. |