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Feliz ano novo!
Amanda Gurgel

Era virada de ano e eu, juntamente com minha família aguardava na praia a chegada da meia noite para ver a atração principal que eram os fogos de artifício.
As pessoas estavam vestidas de branco, desejavam para si prosperidade e mais riquezas. Próximo à praia, estacionados, uma exposição dos mais novos e caros modelos de carro. Muitos traziam consigo garrafas de champanhe e vinhos de alto preço para comemorar o início de 2012 com um toque de arrebatamento dos próprios sentidos. Era um luxo dispensável, contudo ordinário ali.

Às zero horas de primeiro de janeiro de 2012 iniciaram-se as exposições dos fogos de artifício. Um exemplo de pirotecnia, um orgulho para a direção da cidade, um alto investimento financeiro.

Findada a magnífica exposição pirotécnica ouviram-se os aplausos e gritos, seguidos de abraços e votos de feliz ano novo uns aos outros.

Imersa em minhas reflexões, observava a cena julgando aquilo belo, presumindo presenciar naquele momento, a união de diferentes personalidades, ligadas através dos vínculos da humanidade. Um momento formoso em que pessoas revelam-se iguais, com sonhos e vulnerabilidades, aderidas umas às outras pelo elo do humanismo. E neste ponto, eram todos semelhantes, estavam todos juntos desejando uns aos outros um feliz ano novo.

Em meio a todas aquelas observações introspectivas, olhei mais amplamente e vi um senhor inerte. Sentado e encostado em um poste, vestindo roupas desgastadas pelo uso constante. Seu olhar era ausente, não parecia animado com os fogos. Entre suas pernas havia um pote de plástico. O senhor mendigava, pedia dinheiro para alimentar-se. Em seu rosto, as marcas da pobreza e sofrimento. Não havia recebido votos de felicidades para o próximo ano.

Mais adiante, uma família dormia no chão, faziam de caixas de papel colchões. Dentre os pais, junto ao seio da mãe, próximo ao peitoral do homem, um bebê de aproximadamente seis meses. Dormiam. A data parecia não significar grandes mudanças na vida daquelas miseráveis criaturas enxovalhadas pelo sofrimento. A multidão de comemorantes ignorantes passava perto deles, ignorando suas misérias, praticamente pisando em seus corpos lânguidos e vulneráveis. Alguns em um sentimento de compadecimento amoroso comentavam uns com os outros a desgraça da família. Todavia ao virarem a esquina entregavam-se às comemorações luxuosas, esquecendo-se completamente dos seres humanos submergidos pelas ondas da dor. Outros ainda seguravam fortemente as mãos de seus filhos, ordenando que não passassem próximo a eles, como se por estarem mais pobres, fossem maus. Ou talvez desejando que os filhos não fossem marcados por aquela cena horripilante da realidade, possivelmente causadora de alguma espécie de desconforto emocional.

Subitamente minhas reflexões sofreram baldeações e mudaram radicalmente sua lógica. Talvez o que unisse aquelas pessoas não fosse a condição humana. Talvez fosse algo mais abstrato e distante, como a condição social.

Apeguei-me àquela verdade crua e dolorosa, revelada pela dialética de minhas observações. Verdade esta doravante inescamoteável de mim.


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