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Dor
Fernanda Meneses

Por que tantas lágrimas rolam por seu rosto, criança? Será que você não vê toda essa beleza e todas essas pessoas que te amam que estão ao seu redor? Sim, você os vê. Mas não é suficiente, não é? Há um medo de não se sabe o quê... Esse receio te persegue, te oprime, te faz sangrar por dentro. Isso não some com o tempo, e nem pode ser apaziguado pela presença de coisas belas. Mas qual o nome disso? Você não sabe. A fera mais cruel, mais horrível, não tem identidade – isso a torna ainda mais medonha.

Você se sente às vezes tão só... Não consegue se encaixar em lugar algum. É como se você fosse invisível, ou talvez estivesse vendo a vida passar por uma tela, não fazendo parte do filme realmente, apenas porque não criaram um papel para você. Naquelas noites em que você se deita em posição fetal no chão gelado do seu quarto, quando a dor é insuportável que te faz pensar que nada daquilo pode ser real, que uma dor assim não pode existir de fato, tudo que você deseja é um companheiro. Se pudesse dividir isso com alguém, se pudesse saber que não é a única, ó, poderia ser mais fácil – com certeza seria tudo mais fácil. Mas, não, você foi condenada a seguir só por esse caminho cheio de pedras e espinhos.

Mas a pior hora é quando você acorda. Por alguns minutos, antes de abrir os olhos, você diz a si mesma que tudo não passou de um sonho ruim e que estará tudo bem. Você repete isso muitas e muitas vezes antes de conseguir coragem para descerrar as pálpebras. Então, finalmente, você faz o temido movimento, apenas para perceber que tudo continua do mesmo jeito... Nesse momento você sente um aperto no peito e um misto de raiva e dor é liquidificado e escorre por seus olhos, umedecendo seu travesseiro. Você quer gritar, mas nada mais que um gemido ecoa de sua garganta. Você se pergunta por que aquilo está acontecendo com você, que mal você fez? Olha para o céu, mas não encontra a resposta. Por fim, depois dessa cena, você levanta-se, lava o rosto no banheiro e começa o seu dia.

Tenta manter sua mente ocupada a cada segundo para não dar espaço para seu vilão interior. Algumas pessoas dizem que você é uma pessoa tão dedicada, tão feliz... Se elas soubessem... Sim, pois elas não sabem. Você não tem coragem de dizer isso a elas. Não entenderiam. Somente alguém que passa pelo mesmo seria capaz de compreender, mas, como você sabe, essa pessoa não existe. Por isso, põe sua mascara todas as manhãs, entra no palco e representa o papel da pessoa perfeitamente normal.

Ao cair da tarde, você olha pela janela e admira o alaranjado do céu. Olha as pessoas passando na rua, vivendo suas vidas, alheias a você. Então o seu olhar se fixa na calçada lá em baixo e um pensamento passa por sua cabeça. Seria tão fácil acabar com tudo agora... Acalenta essa idéia por alguns segundos, mas a sua covardia e o seu receio da morte levar a algo pior a impedem de seguir com o plano.

Por fim, a noite chega. O silêncio lá fora é total, a solidão dentro de você é maior. Suas carnes tremem. Você está cansada e resolve se deitar. Todavia, as vozes da sua mente decidem que aquele é um bom momento para começar seu joguinho de tortura macabro. Você se amaldiçoa por achar que aquela seria uma noite de paz, diferente das outras.

E assim você segue, dia após dia, convivendo com essa dor, essa companheira fiel, sem esperanças de que ela tenha um fim. Já não acredita em amor, milagre ou felicidade. Qual seria a solução? Qual seria a saída desse labirinto? Teme que tais perguntas talvez nunca sejam respondidas, e é somente isso que lhe resta: o temor.

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