Login
E-mail
Senha
|Esqueceu a senha?|

  Editora


www.komedi.com.br
tel.:(19)3234.4864
 
  Texto selecionado
IMPERSCRUTÁVEL
El-Buainin

Quando se caminha por aquela rua estreita, feita de terra batida, em horário crepuscular, esse momento do dia em que não se sabe se é dia ou se é noite, apenas se veem os vultos e se escutam os sons do que talvez seja uma bicicleta apressada ou um menino arrastando os chinelos que, pequeninos, levantam a poeira fina às narinas dos que passam. No meio da luminosidade azul e sufocante, que abraça todas as formas e que se expande a quaisquer olhares e sentidos presentes, o único ponto claro se encontra atrás do cercadinho de madeira, dentro do barraco em que um homem preto assiste à brilhante televisão.

Esse senhor, que parece preto no breu que se faz, embora não seja gordo, é pesado e ocupa três assentos que ficam no canto do velho sofá esqueletiforme. O controle remoto jamais sai debaixo de sua mão direita, que se estende sobre o braço do móvel. Não é certo que ele realmente esteja vendo a programação transmitida, pois seu pensamento, ao que indica sua compenetração, está bem longe ou muito próximo, no profundo de sua alma. Dizem alguns parentes seus que ele é só infelicidade; outros, que é pura indiferença. Há, ainda, os que defendem haver, em seu coração, grande compaixão que lhe cause angústia estagnante. Mas simplesmente não se pode entender aquele, ou o que ocorre na mente daquele, que jamais estabelece contato com quem quer que seja. Não é possível definir coisa alguma sobre quem somente se ouvem cogitações e suspeições.

Em véspera de Natal ou de ano-novo, seus familiares e seus vizinhos se reúnem todos em torno do grande sofá, e do gigante preto não se consegue expressão que seja interpretável. Há expressões? Palavras, também, nenhumas. A cada tentativa de toque e de aproximação dos que festejam, uma queda ao chão sujo. Alguém se levanta e tenta, de novo, tocá-lo e outrem chora; depois volta a querê-lo. No ano-novo ou no Natal daquela estreita e poeirenta rua, o silêncio, o desentendido e o misterioso permanecem.


Biografia:
É pesquisador, principalmente, na área de Estudos Literários. É comum que escreva contos.
Número de vezes que este texto foi lido: 59429


Outros títulos do mesmo autor

Contos É preciso conversar El-Buainin
Contos A PORTA El-Buainin
Contos 1945 El-Buainin
Contos Suely Aparecida El-Buainin
Poesias José e Maria El-Buainin
Contos Multidão de palavras El-Buainin
Poesias Livro El-Buainin
Contos Único El-Buainin
Contos Ódio acumulado El-Buainin
Roteiros Entrecruzados [um roteiro] El-Buainin

Páginas: Próxima Última

Publicações de número 1 até 10 de um total de 22.


escrita@komedi.com.br © 2025
 
  Textos mais lidos
RECORDE ESTAS PALAVRAS... - MARCO AURÉLIO BICALHO DE ABREU CHAGAS 62535 Visitas
Fragmento-me - Condorcet Aranha 62258 Visitas
LIBERDADE! - MARIA APARECIDA RUFINO 62066 Visitas
PRA LÁ DE CAIPIRA - Orlando Batista dos Santos 61778 Visitas
RODOVIA RÉGIS BITTENCOURT - BR 116 - Arnaldo Agria Huss 61637 Visitas
Humanizar o ser humano - jecer de souza brito 61136 Visitas
O filme "A Instituição" e a Criminologia Psicanalítica - Isadora Welzel 60781 Visitas
A ELA - Machado de Assis 60723 Visitas
Viver! - Machado de Assis 60654 Visitas
Anistia para a imprensa - Domingos Bezerra Lima Filho 60639 Visitas

Páginas: Próxima Última