No deserto escuro e gelado, a multidão corria em desespero e, embora o espaço de chão fosse imensurável para qualquer um dos flancos, as pessoas seguiam apertadas o mesmo caminho. Sob a luz parca da Lua Minguante e das estrelas, elas se empurravam, caíam e se levantavam, erguendo enorme poeira. De uns para com outros não havia cuidado; apenas a aflição permeava aqueles corpos. Todos, fugindo do som estrondoso que os ameaçava, tentavam alcançar o único abrigo evidente: um casebre iluminado por apenas uma lâmpada de brilho amarelo no cume de uma escadaria torta, que se curvava sinuosamente à direita.
Um menino, driblando agilmente cada pessoa, parecia ter asas nos pés de tão velozes suas pernas. Ele corria, não por medo de um possível monstro invisível, mas porque adorava correr, ultrapassar quem quer que fosse e, é claro, muito curioso, queria saber o que havia de tão especial no pequenino abrigo.
Os que chegaram à metade da escadaria ficaram premidos por suas muretas. O menino, que também chegara lá, sempre apressado, não enxergava outra maneira de atingir o topo, senão pulando da esquerda à direita sem passar pela curva que ligava os dois lados. Saltou confiante, mas, como ainda não sabia voar, mergulhou no profundo abismo que se fazia embaixo da escadaria e sentiu a maior das aflições quando seu rosto ficou bem próximo do chão seco.
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