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O HOMEM SEM CORAÇÃO - Capítulo XIX
QUE FLAGRA!
Vicente Miranda

Mirtes telefonou duas vezes à tarde para o apartamento de Ana. E como não foi atendido nenhum dos telefonemas, Mirtes concluiu que a irmã não se encontrava em casa. Não quis tentar o celular, decidiu-se por fazer uma visita surpresa à noite. “Certamente para o jantar Ana deve estar de volta”, pensava.
A única pessoa com quem Mirtes se abria ultimamente era com a irmã. Ana era para ela, durante o difícil período que se estendeu de sua separação à superação do trauma causado pela morte prematura dos filhos, o seu sustentáculo. Como retribuição cuidava com carinho de Ana, após a morte de Mário há três meses. As duas irmãs precisavam realmente uma da outra mais do que nunca.

* * * * * * *

Por volta das oito horas da noite, Mirtes chegou ao apartamento de Ana. Notou que a porta de entrada do apartamento não estava trancada à chave, “Que estranho”, pensou, “Bem, Ana deve ter se esquecido de trancar a porta”. Mirtes entrou no apartamento da irmã e logo percebeu que havia roupas espalhadas pelo chão, uma saia, um sutiã, admirou-se que havia também uma camisa masculina e no corredor que dava acesso aos quartos havia uma calça de homem com cinto, toda amarrotada, parecia que as roupas tinham sido tiradas às pressas. Na porta de entrada do quarto da irmã, uma calcinha também estava no chão. Mirtes, que observava da sala, entendeu o momento e preferiu dar meia-volta, voltaria em melhor ocasião, estranhou que a irmã já estivesse namorando decorridos apenas três meses da morte do marido, mas, enfim, deveria respeitar a privacidade alheia, “Cada um faz o que bem entende da vida”. Quando Mirtes começou a caminhar lentamente em direção à porta para ir embora, ouviu uma frase de Ana vinda do quarto:
– Ai, Alberto! Que gostoso, Alberto! – e o sussurro – Faz mais! Faz! Faz!
Mirtes parou por um instante, “Alberto? Não. Não pode ser”, deu mais um passo para ir embora, mas a curiosidade foi maior, precisava certificar-se de que o nome do parceiro da irmã era homônimo ao de seu ex-marido, apenas coincidência. Lentamente, sem fazer barulho, ela caminhou, desvencilhando-se das roupas no chão, até a porta do quarto onde a irmã se entregava ao prazer total. A porta do quarto estava entreaberta, era lógico que o momento de desfrute não deixou margem para que se tomasse maiores precauções em relação a portas. Mirtes olhou da porta do quarto e viu que os dois amantes se entregavam completamente, a irmã sentada sobre o ex-marido parecia uma amazona domando um cavalo enfurecido e, num encaixe perfeito, os dois abdomens formavam um ângulo reto. Mirtes assistia a dois corpos nus entregues ao prazer completo. Mesmo estarrecida com a cena, Mirtes não pronunciou uma palavra, achou melhor assim. Ana, que estava de costas para a porta não percebeu a presença silenciosa da irmã. Alberto, no entanto, notou que a ex-mulher observava o ato de entrega total. Enquanto Ana continuava a cavalgada, Alberto, ainda deitado, dirigiu um olhar de desprezo e indiferença para a ex-mulher que permanecia na porta do quarto. Em seguida, Alberto, enlouquecido, começou a gargalhar, gargalhar e gargalhar. Mirtes virou-se, indo-se embora no mesmo instante, aquilo tudo era demais para ela. Ana estranhando a gargalhada do parceiro, questionou-o:
– Que foi, Alberto? Por que a gargalhada?
Ao que ele respondeu:
– Tesão, amor. Tesão. Muito Tesão.
Dito isso, Alberto possuiu Ana com mais fúria e de todas as maneiras, era como se o fato de Mirtes, sua ex-mulher, o ter flagrado com a irmã houvesse dado um tempero especial para o seu apetite sexual. Ana continuava apaixonada e entregue ao prazer supremo. Os dois formavam um par perfeito na cama.

* * * * * * *

Durante mais de dois meses, depois do assassinato de Mário, Alberto fez o que pôde para conquistar Ana, telefonava quase todo dia para demonstrar preocupação e atenção com a cunhada, visitava-a quase sempre, mas sem forçar a barra ou demonstrar qualquer interesse por ela. Essas coisas foram cativando a triste e solitária viúva. Quinze dias atrás, antes do flagrante de Mirtes, tendo ele, estratégica e calculadamente, passado uma semana sem ligar ou procurar por Ana, recebeu um telefonema dela à noite. Ana lhe disse que havia ligado para retribuir o carinho e o respeito que ele estava tendo por ela, “Mentira.”, pensou, “As mulheres são tão previsíveis e tolinhas”, e arrematou, “ A Ana já está no papo”. Era a hora certa para agir, a fruta estava madura e precisava ser colhida. Naquela mesma noite, Alberto apareceu no apartamento de Ana dizendo que estava com saudade e declarando-se perdidamente apaixonado por ela. Ana, que com quase quarenta anos conservava toda a beleza e charme de sua juventude, fragilizada e deprimida desde a morte do marido se entregou completamente a um beijo de Alberto que a arrastou para a cama.
Daí pra frente, eles se entregavam um ao outro todos os dias, era no apartamento de Ana, no Palácio dos Bandeirantes, no motel, qualquer local era perfeito para que eles se amassem. Ana via amor em tudo aquilo, Alberto só via sexo. Por vezes, Ana dizia:
– Alberto, e a Mirtes quando descobrir que a gente se ama, o que pensará da gente?
– Ana, eu estou separado da Mirtes faz alguns anos e você está viúva. O amor não deve satisfação nenhuma a ninguém.
Ana, mesmo contrariada pelas ciladas da vida que jogou o ex-marido da irmã no seu caminho, não podia deixar de viver aquele grande amor.
– Alberto, eu te amo!
– Ana, eu quero você todo dia.

* * * * * * *

Alguns dias depois do flagrante de Mirtes, um assessor no Palácio dos Bandeirantes informava um fato importante ao governador:
– Excelência! Excelência! Com licença.
– Pois não?
– Acabamos de receber um telefonema do Corpo de Bombeiros para o senhor.
– O que eles querem? Aumento de novo?
– Não, Excelência! Não era um telefonema para o governo, era particular, era para a sua pessoa.
– E então? O que eles queriam?
– Eu nem sei como falar, senhor. Desculpe-me.
– Fala logo! – retrucou o governador.
– Bem, Excelência. Eles informaram-nos de que a sua ex-esposa, a senhora Mirtes Monteiro, cometeu suicídio está manhã. Parece-me que ela se atirou do prédio em que morava.
– Putz! Que loucura!
– Eu sinto muito, Excelência! Minhas condolências!
– Obrigado! O senhor já pode se retirar.
– Com licença.
Alberto, assim que o assessor saiu, abriu um sorriso de satisfação e prazer com o que havia ocorrido, esse tipo de acontecimento parecia excitá-lo e diverti-lo. “Que gente mais idiota! Matam-se a troco de nada. Eu sempre achei a Mirtes meio fraca da cabeça mesmo. Que cretina! Eu não queria que fosse assim, mas o que posso fazer? Morreu, morreu, né? Morrer é verbo intransitivo”. Alberto tomou dois copos de uísque para comemorar a morte da ex-mulher, “Essa não me enche mais o saco!”, concluiu.

* * * * * * *


Este texto é administrado por: Vôgaluz Miranda
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