Oh! Maldita overdose!Lembrar-me-ei
Daquela que para trás deixei
Fazendo uso da morte, sendo narcose.
Foi regida por uma superdose
Não sou mais sujeito iluminista
Nem tão pouco sociológico
Estou nas rédeas da modernidade tardia
Sofro a mutação identitária
Oh, maldita overdose!
No labirinto, estou.
Sem fio de Ariadne
Sem ajuda de um Dédalo inventor.
Sou as asas de Ícaro derretidas ao sol
Oh, maldita overdose!
Alguém disse que o poeta é fingidor
Com esse discurso, não concordo.
Eis aqui a razão. Qual parturiente
Assim sou eu, dando ao rebento à dor.
Oh, maldita overdose!
Sinto as contrações vilipendiando o meu ser
Há um rompimento impiedoso
E nesse processo sem fim de rupturas
Deixo eclodir o meu grito de angústia
Pandemônio! Pandemônio!
Oh, maldita overdose!
A minha filha é parricida
Deixei a nascer, porém...
Ela não me deixou viver
E agora além de parricida é suicida!
Oh, maldita overdose!
Tu levaste minha filha
Transpassaste-me com dardo ardente
A minha alma em transe
Levaste-me ao rio caudaloso
Ao oceano lagrimal
Definir-me-ei “poeta maior”
Escritor da epopéia lusitana
Qual poeta lusitano, assim sou eu
Náufrago, vitima das tormentas
Que perde sua Dinamene
Mas, não aos seus escritos.
E assim, vou cantando.
Oh, maldita overdose!
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