Ó, mãos que afagam o meu ser!
Quantas vezes fizestes de mim
Teu escravo em fuga
Acorrentado ao tronco da subordinação
Ó, mãos que massageiam o meu ego!
Batestes-me até o sangue vir ao chão
Sangue este que gerou muitos filhos
Filhos bastardos para escravidão
Sou teu e não meu
Ó, meu Brasil varonil!
Estou na cidade portuário
Sou vendido qual rês do teu curral
Tenho o selo da tirania
Do meu feitor sou capataz
Do meu senhor da fazenda grande
Sou gado marcado
Do passado obscuro tentaste esconder
E qual bloco de gelo ao sol do semi-árido
Tua máscara derrete,
No entanto, outra é posta no lugar
A presença da tirania é notória
Em tempos de aldeia global,
Mas sou mesmo ovelha do teu curral
Ás margens do Ipiranga
Não se ouve o grito da independência
Nem o júbilo da autonomia
Ouve-se o júbilo da diplomacia
Ás margens de rio algum
Ouvi-se a voz de mais um
Sedento, solitário,
Miserável produto da indústria da seca
A tua carne, ó Brasil!
Não serve para exportação
A não ser a carne que alimenta a prostituição
Essa sim, é exportada, massacrada.
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