Login
E-mail
Senha
|Esqueceu a senha?|

  Editora


www.komedi.com.br
tel.:(19)3234.4864
 
  Texto selecionado
A fronteira das mentalidades
Caliel Alves dos Santos

Resumo:
O texto trata da questão do choque das mentalidades dos povos nativos do Novo Mundo e dos colonizadores ibéricos.

Quando os limiares geográficas e mentais foram rompidos, o Novo Mundo se apresentou à Europa Ocidental. Diversos relatos de viagem e de navegação foram publicados na Europa. Clérigos, navegantes, soldados e naturalistas representavam esse mundo desconhecido, quase místico.
     A filósofa Marilena Chauí traça a genealogia dessa representação mistificada e edênica do que viria a se tornar o continente americano. Monges irlandeses já no século XIV tratavam de uma fantasiosa ilha à Ocidente chamada Hy Brazil, de acordo Chauí (2014, p. 114): “os escritos medievais consagraram um mito poderoso, as chamadas Ilhas Afortunadas ou Ilhas Bem-Aventuradas, lugar abençoado (...). Os fenícios as designaram com o nome Braaz, e os monges irlandeses as chamaram de Hy Brazil.”.
     No ano de 1492, um misterioso genovês, sob comando de uma esquadra castelhana, chegou as Antilhas. De acordo o autor do livro O Mediterrâneo, Fernand Braudel, criava-se aí um novo sistema-mundo, marco da Era Moderna (BURKE, 1992; BOURDÉ & MARTIN, 1983). A partir desse evento, os relatos de viagem ganham uma enorme proporção.
     Se antes a fantasia imperava cegamente, agora os europeus presenciavam em pessoa aquele Novo Mundo, os seus povos, sociedades e cultura. O choque não é apenas intenso, mas inevitável. A visão dos ibéricos estava carregada com as imagens mitológicas greco-romanas.
     O antropólogo Serge Gruzinski analisa as diferentes visões de mundo entre os povos nativos e ibéricos. Organização social, agricultura, línguas, e vestimentas são apenas alguns dos latentes traços de diferenciação entre esses dois povos (GRUZINSKI, 1994).
     Os padres jesuítas no Brasil e os conquistadores espanhóis produziram os mais ricos relatos sobre as populações nativas. E essas imagens criaram mitos legitimadores da colonização. Os indígenas até na historiografia do século XX eram vistos como indolentes, selvagens e sorumbáticos, vide os livros de Varnhagen (s/d) ou Abreu (1998). O índio sempre foi concebido como o indivíduo a ser civilizado.
     A antropofagia foi um choque na Europa. Nem mesmo o Indianismo de obras como Moema e Iracema vão desfazer essa imagem do índio como um ser selvagem, sem fé, sem lei nem rei. Isso fomentou as práticas tutelares do Estado brasileiro em relação a esses povos.
     Talvez a resposta que a historiografia ainda precisa fornecer é como os povos nativos viam os colonizadores. As fontes, embora existam, são de difícil acesso ou carecem de uma metodologia mais apropriada. O que sabemos é que esse encontro entre povos distintos provocou um choque e mudanças profundas, assim se corroboram as revoltas e guerrilhas, a mestiçagem e o sincretismo religioso.



REFERÊNCIAS

ABREU, Capistrano. Antecedentes indígenas; Fatores exóticos; Os descobridores. In: Capítulos de História Colonial: 1500-1800. Brasília: Conselho Editorial do Senado, 1998. p. 13-40.
BOURDÉ, Guy; MARTIN, Hervé. A escola dos Annales. In: ______. As escolas históricas. Portugal: Publicações Europa América, 1983. p. 119-135.
BURKE, Peter. A Era Braudel. In: ______. A Escola dos Annales 1929-1989: A revolução francesa da historiografia. 2. ed. São Paulo: Editora UNESP, 1992. p. 35-61.
CHAUÍ, Marilena. Brasil: mito fundador e sociedade autoritário. In: ROCHA, André (org.). Manifestações ideológicas do autoritarismo brasileiro. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora; São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2014.
GRUZINSKI, Serge. La guerra de las imágenes. De Cristóbal Colón a "Blade Runner" (1492-2019). México: Fondo de Cultura Económica, 1994.
VARNHAGEN, Francisco Adolfo de. História Geral do Brazil: antes da sua separação e independência de Portugal. Tomo Primeiro, Rio de Janeiro: Em Casa de E. & H. Laemmert, s/d, Seção XIII e XIV. p. 203-229.


Biografia:
Caliel Alves nasceu em Araçás/BA. Desde jovem se aventurou no mundo dos quadrinhos e mangás. Adora animes e coleciona quadrinhos nacionais de autores independentes. Começou escrevendo poemas e crônicas no Ensino Médio. Já escreveu contos, noveletas, resenhas e artigos publicados em plataformas na internet e em algumas revistas literárias. Desde 2019 vem participando de várias antologias como Leyendas mexicanas (Dark Books) e Insólito (Cavalo Café). Publicou o livro de poemas Poesias crocantes em e-book na Amazon.
Número de vezes que este texto foi lido: 52983


Outros títulos do mesmo autor

Resenhas Poetize a vida Caliel Alves dos Santos
Artigos O Brasil não é hexa, mas Lula é tri! Caliel Alves dos Santos
Artigos O romper das cordas Caliel Alves dos Santos
Resenhas Mirar na lua acima das estrelas Caliel Alves dos Santos
Artigos Representação política como parâmetro da divisão do Brasil Caliel Alves dos Santos
Artigos O que é dívida histórica? Caliel Alves dos Santos
Resenhas Iraci Gama: intérprete de Alagoinhas Caliel Alves dos Santos
Ensaios Militares como fator de risco a democracia Caliel Alves dos Santos
Resenhas A cidade em palavrório Caliel Alves dos Santos
Resenhas A poética feminina Caliel Alves dos Santos

Páginas: Próxima Última

Publicações de número 1 até 10 de um total de 139.


escrita@komedi.com.br © 2024
 
  Textos mais lidos
JASMIM - evandro baptista de araujo 68968 Visitas
ANOITECIMENTOS - Edmir Carvalho 57889 Visitas
Contraportada de la novela Obscuro sueño de Jesús - udonge 56707 Visitas
Camden: O Avivamento Que Mudou O Movimento Evangélico - Eliel dos santos silva 55783 Visitas
URBE - Darwin Ferraretto 55022 Visitas
Entrevista com Larissa Gomes – autora de Cidadolls - Caliel Alves dos Santos 54905 Visitas
Sobrenatural: A Vida de William Branham - Owen Jorgensen 54828 Visitas
Caçando demónios por aí - Caliel Alves dos Santos 54799 Visitas
O TEMPO QUE MOVE A ALMA - Leonardo de Souza Dutra 54707 Visitas
ENCONTRO DE ALMAS GENTIS - Eliana da Silva 54702 Visitas

Páginas: Próxima Última