Uma nação que possui intérpretes, detém uma historiografia. Uma cidade que possui intérpretes, é privilegiada. Alagoinhas é essa cidade. Atualmente localizada no território de identidade Litoral Norte e Agreste Baiano, é rica em história(s), pujante em economia, com sociedade e cultura vívida. Nascida de uma freguesia inhambupense, de entreposto se tornou centro comercial da microrregião.
O município se desenvolveu em diversas áreas, o que lhe possibilitou o olhar crítico de homens e mulheres que se detiveram em escrever a sua história. Mais que pesquisadores, a esses dou o nome de intérpretes de Alagoinhas. Ao pesquisador cabe o recorte, ao intérprete cabe o panorama. A historiadora Iraci Gama Santa Luzia, em seu livro Memória, narrativa e identidade: a cidade ferroviária de Alagoinhas Vol. 1, nos apresentou uma profunda reflexão sobre a historiografia alagoinhense.
A obra foi publicada em 2022, e havia sido postergada por variados motivos, dentre eles a pandemia de COVID-19. Foi dividida em dois volumes devido à grande quantidade de imagens e documentos que a historiadora fez questão de publicar junto ao texto. O livro trata de variadas questões, desde a economia até a política alagoinhense. Se utilizou da perspectiva dedutiva, focando também a história do Brasil e da Bahia.
A fundação da urbe é marcada por mitos a exemplo do Padre João Augusto Machado, suposto fundador da Vila de Santo Antônio das Lagoinhas, ou a construção da Igreja Inacabada. Os mitos fundadores de Alagoinhas são anacrônicos e à-históricos, mas não desprovidos de intencionalidade, como a própria autora descreveu ao longo da obra. Iraci Gama fez um trabalho excepcional em desconstruir essas incongruências históricas.
A escolha de um ensaio historiográfico lhe concedeu uma vantagem. Sua escrita é leve, sem esquecer da análise-crítica; embasada em documentos; alterna em tempo síncrono e diacrônico; e é à-linear. Apesar de atribuir a Alagoinhas o sinônimo de “cidade ferroviária”, não descuida de outros elementos do espaço urbano como a indústria agroalimentícia e os seus diversos movimentos artísticos-culturais.
Iraci Gama foi e ainda é uma mulher devotada a preservação do patrimônio histórico, cultural e documental de Alagoinhas. Ela, junto a outros tantos colaboradores, construiu um acervo que auxiliou na formação de uma historiografia alagoinhense. Seu mais recente projeto se concluirá numa duologia, é mais uma contribuição a esse acervo da história do município.
Apesar de ser uma professora aposentada, continua mais ativa que nunca. Suas contribuições a cidade vão além do seu ensaio historiográfico. Formadas em Letras Vernáculas e Mestra em Educação, foi diretora e professora da Faculdade de Formação de Professores (FFPA) e depois da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), Campus II. Foi vereadora, e presidiu associações culturais, atualmente é vice-prefeita da cidade.
Minha única crítica ao ensaio se refere há algumas passagens que soaram como livro de memória. Apesar do acesso a grande quantidade de documentos, a autora foi econômica tanto na quantidade de fontes analisadas e aprofundamento destas. Certas imagens careceram de contextualização, mesmo que em notas de rodapé. Alguma revisão precisa ser feita no futuro em relação à ortografia, mas nada há que impeça a leitura.
O livro foi publicado pela Quarteto Editora, possui 184 páginas. A obra conta com orelhas e Prefácio do Prof. Dr. Jorge Damasceno, além de uma Apresentação da Prof.ª Dr.ª Edil Silva Costa. A capa e contracapa do livro ficaram a cargo do artista plástico Littusilva. O livro é indicado para discentes, professores ou curiosos da história de Alagoinhas. Leitura recomendada para todos e todas.
Para adquirir a sua edição, entre em contato com a autora em:
https://www.facebook.com/iraci.gama.547
Ou se encaminhe a Secretaria de Cultura, Esporte e Turismo (SECET), Biblioteca Municipal Maria Feijó, em frente à Praça Rui Barbosa, Alagoinhas-Centro.
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