Numa mesma semana, três eventos políticos marcaram a sociedade brasileira entre os dias 4 a 10 de julho. Todos eles alertam para os riscos do extremismo, da corrente insatisfação popular com a ausência de políticas públicas e má representatividade política e a violência em campanhas eleitorais. O presente cenário é algo a ser analisado para que o Brasil não siga o mesmo rumo.
O primeiro evento foi o ex-premiê japonês Shinzo Abe, morto aos 67 anos em campanha eleitoral. O incidente ocorreu em 8 de julho, sexta-feira, próximo à estação de metrô Yamato-Saidaiji, cidade de Nara. O suspeito de assassinato cometeu o atentado com uma arma de fogo de fabricação caseira, disparou duas vezes, e foi detido pelos guardas do político. O suspeito flagrado pelas câmeras era um ex-oficial da Marinha nipônica.
O segundo evento, foi a invasão das residenciais oficiais do governo pelos cingaleses em 9 de julho. Sri Lanka, ilha ao sul da Índia, já estava em crise política e econômica, agravada pela pandemia de COVID-19, o que gerou desabastecimento de itens básicos. Manifestações contra o tenente-coronel e presidente Gotabaya Rajapaksa e o primeiro-ministro Ranil Wickremesinghe há meses, a invasão só reforçou a rejeição e os pedidos de renúncia de ambos os políticos. Os protestos foram violentamente reprimidos pela polícia e forças militares, sem êxito.
Por fim, na noite do dia 9 de julho, às 23 horas, o bolsonarista Jorge José da Rocha Guaranhos invadiu armado a festa de aniversário de 50 anos do petista Marcelo Arruda em Foz do Iguaçu e promoveu um atentado, vitimando o membro da Guarda Municipal. O agressor foi baleado, e está internado no hospital. Jorge Guaranhos era policial penal, e grande apoiador do presidente Jair Messias Bolsonaro (PL).
Esses três fatos, embora se apresentem isolados, possuem mesmo teor: os militares como uma fonte constante de instabilidade política e risco para a democracia. Os militares se atribuem o papel de salvadores da pátria, se assenhoram do poder, destituem governos legitimamente eleitos, destroem as políticas públicas, promovem o nepotismo, o autoritarismo, incitam e praticam todo tipo de violência motivados por teorias conspiratórias, desandam com a economia, distorcem as instituições até que percam toda a sua função social etc. poderia falar por horas a fio sobre o tema.
Embora não constitua um dos poderes da República, e seja um corpo estanho aos sistemas partidários, os militares, ainda assim são uma força política dentro das democracias contemporâneas. O problema nunca é sanado. Levando em conta a história do Brasil e da América Latina, os militares foram os responsáveis pelos maiores déficits democráticos. Um verdadeiro elemento de atraso do progresso e da civilização.
Seja enquanto Forças Armadas, ou como lobos solitários, os militares são um verdadeiro câncer político para as democracias fragilizadas do terceiro mundo, do mundo subdesenvolvido, do sul global. O militarismo usa a linguagem da violência, unido ao conservadorismo piegas e teorias conspiratórias alucinadas, se tornam a ideologia mais perigosa para a sociedade. Seu instrumento político são as armas, e apenas as armas.
As repúblicas democráticas necessitam de armas que as protejam, é verdade. Mas quando aqueles que as portam são os que mais as colocam em risco, vemos o túnel para o passado ser construído com sucesso. Nunca precisamos de militares políticos, nem de política militarizada. Ou as democracias neutralizam suas forças militares, ou elas continuaram a promover risco, instabilidade e perturbações cada vez maiores a democracia.
|