A ESTRADA
Eu te adoro...
E cada vez que venho aqui me perco
porque não tenho vontade de ir embora
vou tentar amanhã...
Os passos cada vez mais pesados
e lentos faz-me ver que sou
a soma de toda uma historia de ventos, poeira e sol.
Alcançar o cume é coisa de sacrifício,
cortar as mãos, verter o suor, o sangue
e depois olhar, quase sem rumo, o sonho feito.
E nada mais...
Belo é te ver quase no fim da estrada,
querer e não saber, ouvir o som da tua voz
contra o vento e tudo que ele traz, cadê você?
Teu cheiro passa por mim,
agora sou caçador na estrada
que se assemelha as pernas de um mulher,
caminhos de desejos, embriaguez coisa fúlgas,
coisa de vida, coisa de andar de joelhos
coisa de pedir perdão, palavras de dizer te amo
para Deus e o mundo ouvir, contra todo o vento.
Na rutilância de não dizer o que se quer,
sentimos que o contra desejo é uma coisa de muita covardia, ter medo de dizer eu te amo.
Pela dúvida combativa e a falta
de uma certeza que não podemos ter.
Mas sentir que dá para ser feliz
por brevidades de tempos.
Não mais longos do que a estrada.
Não parta agora, fique comigo,
você indo é como um disparo de morte.
Quando escrever cartas de amor,
seja tão ridícula como Fernando Pessoa.
Diga apenas coisas que são consideradas besteiras.
Besteiras e nada mais.
Diga as coisas que você mais se envergonha,
pois são todas ridículas, perca tempo
procurando o belo muito longe
voltamos por caminhos diferentes
para as mesmas pessoas diferentes,
num tempo diferente.
Ai sentimos o coração, o pulso e tudo latejando
como o fogo que espoca de dentro da terra.
Isto é, eu te adoro .
E cada vez que você vem me perco
porque não tenho vontade de ir embora.
A estrada e quase tudo estão no mesmo lugar
aparentemente nada mudou,pura ilusão do concreto.
Beleza que o tempo não consegue segurar...
Você tão longe e tão perto.
Quando aparece é puro suave encanto.
Chico Canindé 18.02.04
|