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Engenharia Poética
Uma possível visão
Rogério Gattai Siffert

Resumo:
Trata da máquina como gente e termina com uma avaliação econômica do mundo.

Uma máquina, fruto de muito trabalho, deve ter que conter algo de especial. Uma Ferrari tem em si seu grande valor. Mas qual a diferença entre a Ferrari e um liquidificador?
Ambas são máquinas, constituídas por um projeto, mas é claro que a Ferrari tem um apelo emocional muito forte, antes de qualquer coisa por ser um automóvel, e de uma marca muito valorizada.
Nós só pensamos num liquidificador quando precisamos de seu uso.
E um bate-estaca. Só serve para nos enervar com seu tum-tum.
Os exemplos de máquinas são muitos no nosso dia-a-dia. Mas existem as máquinas que fazem outros produtos. São aquelas que ficam dentro das indústrias e que fabricam cerveja, pasta de dente e televisão, além, claro, da nossa Ferrari.
A tecnologia está por toda parte, mas voltemos à questão inicial: como uma máquina mexe com nossa emoção?
Podemos perguntar ao contrário, ou seja, por quê certas máquinas não nos dizem nada?
Carros, motos, geladeiras, televisão, celulares, todas essas máquinas são desejadas e mexem com o emocional de todos. Muito pelo forte apelo da publicidade.
Torno, fresa, esmeril, também são máquinas, mas só interessam aos metalúrgicos e projetistas. Não se fala muito do trabalho do Pedro em seu torno para fazer uma peça de um carro ou celular.
Aliás, ninguém pensa nos Pedros e suas máquinas operatrizes, fazendo a construção das mais cobiçadas máquinas.
Existe, como foi dito, um grande esforço de muitas pessoas para trazer ao mundo uma máquina.
Mas persiste a questão da emoção que as máquinas produzem em nós.
Existem no mundo máquinas aos milhares, fazendo dos mais variados produtos, incessantemente, 24 horas por dia.
Mesmo nos recônditos do mundo existem máquinas em operação, basta lembrar que tudo que transforma pode ser considerado uma máquina.
Todos nós, sem exceção, no dia-a-dia utilizamos uma máquina em algum momento, não tem como escapar.
Qual atributo de uma máquina deve ser considerado: sua utilidade, seu valor monetário, seu projeto, sua cor ou sua forma, entre tantos outros atributos?
Alguma coisa existe que diferencia claramente umas das outras: um parafuso pode ficar esquecido na caixa de ferramenta por anos, enquanto muitos não ficam sem seu celular nem por um minuto.
É preciso fazer estes questionamentos e procurar as respostas para que se possa chegar à alma de uma máquina.
Alma da máquina?
O que seria isso?
Máquinas não são um amontoado de peças concretas?
Nós, seres humanos também somos feitos de “peças” concretas. Uma célula é bem concreta. Quando falamos da alma do homem, existe um respeito quanto a esta afirmação, mesmo para um cético.
Um ser vivo funciona.
Por quê esta afirmação?
Porque toda máquina funciona. Uma Ferrari estacionada existe e funciona em potencial. Tudo nela está pronto para funcionar, mas o que a faz sair a 200 km/h?
É o homem que quando interage com ela, pilotando-a, a faz viver e funcionar direitinho para o que ela está destinada.
Nós seres humanos também interagimos uns com os outros, pensamos e isto parece nos fazer diferente de uma máquina.
Não é preciso inteligência artificial, ou procurar por uma máquina que pense.
Uma máquina pensa.
Parece uma afirmação tola, mas se tivermos o ponto de vista da interação e da funcionabilidade, podemos ter um novo olhar para a máquina e um novo jeito de ver o pensar.
Tudo é interação, nada está isolado. Isto não é difícil de aceitar, portanto podemos aceitar que, por ser perfeita em seu funcionamento, quando uma máquina interage com seu operador, ela está pensando.
Vamos trazer para essa discussão um conceito da Física Quântica que diz que o observador interfere nas partículas no momento mesmo da observação.
Se por observação entendermos interação, e como a partícula se altera quando interage com o observador (o homem), podemos ver aí o princípio de um pensamento.
Interagiu, mudou.
Interagiu, funcionou.
As máquinas cabem na segunda afirmação e como sempre mudam algo em sua atuação, cabem também na primeira afirmação.
Se aceitarmos esse ponto de vista, chegamos ao principal atributo de uma máquina, ou seja, as máquinas pensam.
Elas são projetadas para funcionar sob a batuta do homem, mas suas partes constituintes são tão bem concatenadas que são como as células do corpo humano. Nós não pensamos para respirar e nosso metabolismo faz muitas coisas enquanto assistimos televisão.
Existe uma ordem natural, tanto para os seres humanos, quanto para as máquinas. Uma ordem tal que faz realizar sua função perfeitamente, com muita harmonia (lembra da Ferrari?).
O pensamento é um atributo em potencial. Se quando existe interação é provocada uma alteração qualquer, podemos afirmar que ouve pensamento. Sendo assim, afirmar que uma máquina pensa não é absurdo.
É preciso que se de à máquina sua verdadeira dimensão, tendo em conta seu atributo de interagir, modificando algo e isso é pensar.
Não se pode perder de vista que tudo está conectado, interagindo incessantemente, sem parar, a todo instante e sempre existe uma máquina presente.
A máquina é um agente social, nos termos da sociologia, por estar presente na vida de todos, e conforme seu comportamento, altera a vida das pessoas.
Uma máquina tem vida.
Também é uma afirmação que pode ser encarada com naturalidade. Quando todas as nossas células e órgãos estão bem, estamos vivos, quando algo está errado, podemos morrer.
O mesmo pode-se dizer das máquinas, quando seus componentes se danificam ela morre, ou seja, não mais tem condições de realizar as atividades à que foi destinada.
Assim como é tudo muito bem orquestrado no nosso organismo, o mesmo acontece com as máquinas.
Um homem sentado e um carro estacionado são potencialmente a mesma coisa. Se o homem receber um impulso ele age, se alguém acionar o motor do carro ele passa a funcionar.
É tudo uma questão de potencial e interação. Com isso em mente tudo fica muito claro.
Potencialmente uma máquina tem condições de interagir e funcionar para uma atividade. Todas suas partes constituintes foram projetadas para tal. O projeto de uma máquina é algo divino, já que traz ao mundo algo novo, que não existia. Pela transformação de matéria, trabalho e atividade mental, eis que surge uma máquina. Para trazer à luz uma máquina muitas coisas acontecem. É como o nascimento de um feto.
A idéia de uma máquina na mente de um engenheiro é como o potencial encontro do espermatozóide com o óvulo. Encontro que é uma interação.
O primeiro ato de nossas vidas foi essa interação, fundamental para nossa existência. Toda carga genética que nos constitui se estabelece neste momento e somos únicos.
Todo projeto de uma máquina é único e contêm todo código genético através das soluções construtivas dos tecnólogos envolvidos na sua criação. Os genes das máquinas são os traços na prancheta do projetista. Por trás desses traços existem cálculos e, portanto, números.
Os códigos genéticos de uma máquina são os números que a constituem e lhe dão forma e função.
Todo projeto de engenharia é fundamentalmente traduzido em números. Cada parte que a constitui tem números e no todo esses números estão perfeitamente harmonizados na máquina. Uma máquina e números são em essência uma coisa só.
Será que em uma máquina esses números poderiam ser outros?
Claro que sim, poderiam ser outros sem alterar a funcionabilidade da máquina. Muitas vezes, um diâmetro de 10 milímetros poderia ser de 9 milímetros, sem alterar o todo.
Existe uma grande elasticidade nos valores que constituem o projeto de uma máquina. No momento em que estão definidos estes constituem o código genético desta máquina, mas poderiam ser diferentes aqui ou ali.
Existe um projeto exatamente perfeito, em que seus números não poderiam ser outros, sem alterar sua funcionabilidade?
Todo projeto otimizado ao máximo pode chegar perto desta perfeição, mas, mesmo assim podemos desconfiar que algum número poderia ter outro valor.
A Engenharia Poética (EP) pode ser uma ferramenta de otimização de um projeto dando aos números um tratamento especial.
Quem sabe, então, a partir daí encontrar a alma da máquina.
É um caminho que se descortina.
Falar de pensamento, vida e alma de uma máquina pode ser o princípio de uma maneira nova de encarar uma máquina. Não se trata de Cibernética ou a busca de uma máquina que seja humana. O ponto de partida é considerar, sem titubear, que uma máquina, qualquer que seja, já possui as qualidades discutidas aqui. E sempre foi assim, desde o advento da roda.
Não é um robô ou um computador que joga xadrez que fazem da máquina algo mais próximo de um ser humano.
Existe a espécie máquina, assim como qualquer outra espécie da fauna e da flora. Uma máquina não precisa realizar atos humanos para ser tida como viva. Ela é viva, e compõe a sua espécie, simplesmente por existir de uma maneira muito contundente na sociedade, na vida de cada indivíduo do planeta.
Nesta discussão fica claro que é preciso ter um viés no olhar para conceitos como pensamento, vida e alma.
Se a interação gera ação, consideramos que há um pensamento no processo.
Se a ação gera acontecimentos, consideramos que há vida no processo.
Se os acontecimentos se sucedem no caminho da perfeição, consideramos que há alma no processo.
Na sua árdua história, acredita-se que o homem caminha para a perfeição e as máquinas estarão ao seu lado.
Conquistar o Universo talvez seja a nossa saga, mas como fazer isso sem máquinas?
Precisamos cada vez mais de máquinas que contribuam para o caminho da perfeição. Elas próprias evoluíram junto com o desenvolvimento da humanidade.
A espécie máquina está em evolução paripassu com o homem. É preciso buscar a perfeição no projeto das máquinas.
O que vem primeiro, o desenvolvimento do homem ou o desenvolvimento das máquinas?
É preciso uma nova máquina para um novo passo do homem e vice-versa.
É uma simbiose perfeita, onde o homem e a máquina caminham de mãos dadas rumo ao futuro, que se pretende perfeito. Rumemos para a utopia sem medo. Avante com as mentes inquietas dos tecnólogos por cada vez mais, fazendo surgir novas máquinas e com estas outras e mais outras, cada vez mais perfeitas.
“Que perfeição! ” Exclama o admirador de uma obra de arte.
É uma grande obra de arte que as espécies homem e máquina buscam. A Engenharia Poética quer colaborar neste processo.
A natureza participa e colabora. Ela é o substrato de tudo e devemos inseri-la na simbiose como a espécie fundamental, alicerce de tudo. Fazer máquinas que não agridam a natureza e sim sejam também naturais. Essa também é a busca de um projeto da Engenharia Poética. Máquinas que toquem a natureza com delicadeza, extraindo dela como da flor o néctar e nada mais.
Este discurso está desconectado da realidade?
Absolutamente não!
As questões políticas e sócias são de suma importância, mas aqui está sendo dito de um Projeto maior, para onde a humanidade pode rumar ou não, aniquilando-se ou desenvolvendo-se.
As máquinas fazem direitinho o que foi projetado. O uso que se faz delas é uma questão que o homem deve questionar.
Com a tecnologia que temos hoje poderíamos parar de fazer novos desenvolvimentos, olhar ao redor com toda calma e resolver cada problema que nos assola.
Isso é uma utopia também e seria ótimo se assim fosse.
Mas nosso sistema político e econômico nos impelem ao avanço desenfreado e, atualmente, caótico.
Esse caminho talvez não leve à perfeição como exposta aqui, mas o caminho é longo, difícil e temos de trilha-lo, fazendo o melhor para as gerações futuras.
Serão precisos séculos para que não tenhamos nenhum animalzinho passando fome, mas talvez tudo exploda neste caminho. Não se pode ter a resposta para onde iremos a não ser indo.
Muito tem de ser feito para que a simbiose seja de fato uma simbiose e não algum tipo de parasitismo.
A Engenharia Poética quer a utopia, seja parando para o novo, seja seguindo para o incerto (será?).
É preciso parar para olharmos olhos nos olhos e juntos dizermos: “vamos! ”.
Caminhando sempre à frente, rumo ao futuro.
Mas como deve ser esse caminho?
Deve buscar a perfeição. Mas o que é perfeição? Será que ela é possível de existir para todos seres humanos?
O caminho é mais político que qualquer outra coisa.
Mas esse não é o foco deste texto. Voltemos à questão da perfeição, questionando seu aspecto de possibilidade de realização.
Será que o mundo absurdo e caótico em que vivemos comporta a perfeição? É a busca que se propõe aqui, mas para muito longo prazo...
Para agora podemos fazer nossa lição de casa e, pelo menos, não atrapalhar. Isso já é algo realmente muito bom.
Sabemos, do pitagorismo, que os números inteiros são sagrados. A descoberta dos números irracionais, conta a lenda, levou Pitágoras ao desespero.
Para temperar a questão, vale dizer que o número pi é um número irracional, mais que isso, transcendente, já que não pode ser obtido por nenhuma operação algébrica. Muito bem, o número pi é obtido pela divisão do perímetro de uma circunferência pelo seu diâmetro.
Hoje já se obtêm o valor de pi com milhões de casas decimais. O valor de pi é, com alguns decimais, igual a 3,1415927.
Por que falar de pi enquanto o assunto é a perfeição?
Porque a circunferência sempre foi considerada, principalmente pelos gregos, como algo da mais elevada perfeição e dela resulta uma relação (pi) que é, como vimos, um número irracional.
Isso não soa como uma brincadeira da natureza?
Não leva ao questionamento de que a perfeição não existe?
Fica uma vontade louca de perguntar: por que o número pi não vale o lindo número 3.
Por que a vírgula com milhões de algarismos depois do 3?
Dá vontade de afirmar que existe uma imperfeição inerente na natureza pelo fato de pi não ser simplesmente igual a 3.
A partir daí concluir que a perfeição não existe como essência, apenas existe na mente humana.
Não seria uma busca insana, então, o caminho da perfeição?
Melhor seria seguir por sendas como: o belo, o simples, o prazer, enfim a estética e a ética.
Uma sociedade estética e ética é uma possibilidade interessante para o futuro. Pelo menos é menos pretensiosa e já a trilhamos atualmente.
Acontece que falta muito por ser feito: existem pessoas passando fome e isso é horrível, totalmente antiestético e antiético.
Enquanto um animalzinho passar fome, o progresso da humanidade estará comprometido. Isso não pode ser tolerado.
Pode-se afirmar que existe um imperativo para todos: o prazer.
Proporcione prazer a uma pessoa e isso será belo e ético. Não passar fome, frio, sede, calor, tormento psicológico é o supra-sumo de qualquer um que não seja masoquista. Esse deve ser o caminho e, dentro do contexto aqui exposto, é uma forma de perfeição.
Ah, se o pi valesse 3!
Para se atingir essa meta, pensando em termos de tempo, falta muito.
É o que todos pensamos, mas isso não é verdade. Aqui se tem uma vertente política que tentamos afastar, mas não é fácil deixá-la de lado.
Diz-se que o mundo foi criado em sete dias, pode ser, mas com certeza e com vontade política, poderíamos concertá-lo também em sete dias.
Não ter mais dor, só prazer, em sete dias. Reescrever o Gênesis.
Imagens à parte, o que se pretende afirmar é que com a tecnologia e a ciência que dispomos hoje, agora, já, pode-se fazer um mundo muito mais justo. Muito se discute sobre o tema, mas assim como o número pi é uma pulga atrás da orelha, dá vontade de perguntar: por que não se para tudo, para que olhando ao redor, todos façamos juntos um mundo melhor já, agora?
Para que avançar com tanto ímpeto. Isso parece com o caminhão de lixo que vai apressado com os garis correndo, recolhendo o lixo como podem e deixando um rastro do próprio lixo no caminho. A limpeza não é perfeita, fica algo para trás.
Faz o trabalho com calma que não sobrarão arestas. Para que tanta pressa? Para ir aonde?
Há tanto por fazer e tantos desempregados...que contra-senso!
Existem milhões de anos-luz de distância entre um laboratório de tecnologia de ponta e uma favela...
Se não é possível parar, olhar e arrumar, sempre vamos ter um caminho cada vez mais difícil ao mundo prazeroso para todos.
Elites sempre existiram e existem, em toda parte, mas o que pode acontecer é que essa elite parta para o espaço numa nave espacial rumo ao nada, e que o mundo acabe.
A Engenharia Poética é humana e não é contra o desenvolvimento da ciência e da tecnologia, mas tem como pressuposto a pergunta: para que serve isso?
Estamos aqui tateando a igualdade entre todos. Isto deve estar na Constituição de muitas nações e é muito bonito. Mas a economia capitalista tem o imperativo: crescer sempre!
Ora, é isso que se interroga aqui: crescer sempre até aonde?
A que preço? Por que o PIB tem sempre que crescer ano após ano?
São crescentes as necessidades, como gêneros alimentícios para uma população crescente, isso é fato, mas essa equação tem um quê de inquietante, mesmo que ocorra o mais imediato pensamento que é a escassez dos recursos naturais.
Será que iremos buscar recursos em outros planetas? Talvez um dia se consiga isso e, talvez, até venha a ser necessário.
Já são centenas de espécies da fauna e flora que estão extintas...o homem é um problema ecológico. Sem ele, o mundo giraria em paz e tranqüilo com sua natureza imaculada.
Mas existimos aqui, e somos seres humanos, portanto façamos jus à nossa condição de pensantes.
Fica uma proposta de pergunta para pensarmos: qual é o principal fator para tanto absurdo no planeta?
As respostas seriam muitas, se muitos fossem responder.
Qual a gênese das dificuldades de um ser humano neste nosso planeta?
Vamos por de lado diferenças como crença religiosa, partindo do pressuposto que se Deus existe ele é igual para todos.
Vamos por de lado diferenças de raças, partindo do pressuposto que todos temos coração, pulmão, etc e, portanto, somos todos fisiologicamente iguais. Temos a nossa individualidade, isso é único para cada cidadão e faz o colorido do planeta. Isso não é problema. Cada um deve saber de suas habilidades e limitações e viver de acordo com isso.
Para apimentar a questão: o que é imprescindível no dia a dia de qualquer ser humano deste planeta sem exceção?
O ar que respiramos. Ótimo, isso realmente é necessário.
Mas tem algo que está presente, nos envolvendo e que é lembrado a todo o momento com as tentações que nos cercam. Tentações que das mais diferentes formas e que atuam em todos os sentidos.
Existe um verbo que aprendemos bem cedo a utilizar e que é amalgamado com este algo. É o verbo querer.
Tem tanta gente a querer, que faz uma teia crescer que é de enlouquecer e, realmente, está deixando muita gente com distúrbios mentais.
Nesta nossa sociedade capitalista querer significa comprar e, portanto, chegamos à resposta da pergunta: o dinheiro é que faz toda a diferença entre os seres humanos.
Desejo, necessidade e vontade trazem embutidos um custo.
Não somos todos iguais perante o dinheiro.
O que fazer com relação à igualdade de oportunidades?
Este é o maior desafio da humanidade: superar o capitalismo.
Aqui não se trata de um panfleto revolucionário, apenas levanta-se a questão, que se entende como a questão capital (desculpe o trocadilho) da nossa época.
Quem duvida que o dinheiro é a gênese dos problemas individuais e nacionais, basta prestar atenção em quantas vezes se pressente o dinheiro no dia-a-dia. Não se passa mais que cinco minutos sem o invocar, como o bem mais querido.
Posto isso, fica para as futuras gerações resolverem esse problema que leva a especulações sobre uma sociedade utópica.
Utópica, mas necessária!
Podemos imaginar algo como todos trabalhando sem hierarquia, na horizontalidade, ou seja, todos com a mesma provisão das necessidades básicas. Acabar com a vertiginosa verticalização da sociedade.
E com toda individualidade preservada. Cada qual desenvolvendo sua habilidade, percebida desde criança e trabalhando no que lhe dá prazer.
Grande utopia, realmente. Uma sociedade totalmente horizontal, com todos os recursos igualmente distribuídos, e a diversidade garantida pela individualidade de cada cidadão.
O trabalho repetitivo e de baixo atrativo seria feito por máquinas.
Não se precisaria ter medo ou raiva dos empregos que uma máquina tomaria para si. Cada máquina representaria a alforria para muitos que suam muito para ter muito pouco.
O planeta é de todos. Os seus recursos também. É uma questão de lógica que todos tenham seu quinhão, sem diferenças.
A constituição do planeta teria só um artigo:
“Todo ser humano do planeta tem direito às suas riquezas naturais e tecnológicas em igual condição, sem distinção de nenhuma espécie”.
Um único artigo para mais de 6 bilhões de pessoas.
Que grande desafio administrar todo esse processo de transformação do trabalho e da riqueza. São 6 bilhões de pessoas com o mesmo direito: ”como sou filho da Terra, quero minha parte do bolo e não se questiona isso! ”. Absolutamente lógico.
Ou se interroga como realizar esta Utopia ou se parte do princípio que não se pode mudar o mundo, deixando-o seguir como está.
Pode-se perguntar se é possível que todos habitantes do planeta possam ter um carro?
Como seria o trânsito nas ruas com tantos carros?
Se for para repartir, que repartamos, e o carro é um objeto de desejo de quase toda população. E então, é possível?
E comida? Será que se todo cidadão do planeta tivesse realmente as três refeições diárias, a produção mundial de alimentos seria suficiente?
Será que se cada cidadão do planeta bebesse 1 litro de água potável por dia, faltaria água para todos?
É o caso de se perguntar se, então, sempre terá que ter alguém sem acesso às riquezas a que o homem tem direito, pois todos ricos não é materialmente possível?
Será essa a conclusão? Não há nada que se possa fazer? Os miseráveis existirão para sempre, inexoravelmente, por uma questão objetiva de falta de “espaço” para todos?

Por mais que se faça, ainda assim serão paliativos, sempre faltando recursos para todos?
É preciso que se chegue a uma conclusão: é ou não possível dividir a riqueza entre todos?
Vamos falar da água.
Diz um texto de Pedro Jacobi.
Antes de nos aprofundarmos nesse assunto é muito importante dizer que apesar de termos a impressão de que a água está desaparecendo, a quantidade de água na Terra é praticamente invariável há centenas de milhões de anos. Ou seja, a quantidade de água permanece a mesma o que muda é a sua distribuição e seu estado.
O causador deste fenômeno

É um processo chamado Ciclo Hidrológico, através do qual as águas do mar e dos continentes se evaporam, formam nuvens e voltam a cair na terra sob a forma de chuva, neblina e neve. Depois escorrem para rios, lagos ou para o subsolo formando os importantes aquíferos subterrâneos, e aos poucos correm de novo para o mar mantendo o equilíbrio no sistema hidrológico do planeta

Segundo Jacobi, a água somente passa a ser perdida para o consumo basicamente graças à poluição e à contaminação.
São esses fatores que irão inviabilizar a reutilização, causando uma redução do volume de água.
Mas qual o volume de água doce disponível no planeta?
O texto de Jacobi fornece a seguinte tabela:
                     
                         
Local     Volume (km3)     Percentual do total (%)
Oceanos     1.370.000     97,61
Calotas polares e geleiras     29.000     2,08
Água subterrânea     4.000     0,29
Água doce de lagos     125     0,009
Água salgada de lagos     104     0,008
Água misturada no solo     67     0,005
Rios     1,2     0,00009
Vapor d’água na atmosfera     14     0,0009
Fonte: R.G. Wetzel, 1983.          Tabela 1.1


Observando a tabela temos: 4.000+125+104+1,2, como volumes de água doce para utilização imediata.
Isso dá um valor total de 4.230,2 km3 de água doce.
Se tomarmos uma população mundial de 6 bilhões de habitantes, podemos fazer:

Volume por habitante = volume total no mundo / população mundial

Resulta um valor de, aproximadamente, 705.000 litros por habitante.
Daí se conclui que temos bastante água para todos. Já é o primeiro passo para acreditar em uma resposta positiva para nossas interrogações. No caso da água temos uma distribuição muito desigual ao redor do planeta e, além do mais, põe-se bandeiras para essa água, onde até se fala em guerra, não pelo petróleo, mas pela água.
O que se defende aqui é um planeta sem bandeiras. Que tal utilizar-se dos aviões e navios dos exércitos para distribuir essa quantidade enorme de água a que todos têm direito? Será melhor que usar o exército para guerrear pela água!
Muito bom que podemos ser otimistas com relação à água, o principal e fundamental é não a poluir.
Vamos verificar a alimentação. Trataremos da produção de grãos, especificamente, milho, soja e trigo.
Os dados foram tirados do boletim da DTE/FAEP, de 2004, escritos pela economista Gilda M. Bozza e a agrônoma Maria Silva Digiovani.
Os dados são referentes à produção apenas dos EUA, que corresponde a 19% da produção mundial, ou seja, o mundo produz cerca de 5 vezes mais que o que aqui se apresenta.
Vamos aos números: (para os EUA)

295 milhões de toneladas de milho / ano
59 milhões de toneladas de trigo / ano
84 milhões de toneladas de soja / ano

Para simplificar, vamos chegar ao valor por habitante, como fizemos com a água, adotando a produção total, que é a soma dos valores acima, então, teremos:
295+59+84 = 438 milhões de toneladas de grãos

Para a produção mundial, podemos estimar 5 x 438 = 2190 milhões de toneladas de grãos por ano.
Daí resulta para cada habitante, em quilos:
(Considerando 6 bilhões de pessoas)


Quilos de grãos por habitante =
= total da produção mundial / população mundial = 365 quilos por ano.

Foi considerado apenas milho, trigo e soja. Poderia se acrescentar arroz, feijão, entre outros grãos.
Mas o resultado é incrível. Equivale a 1 quilo de grãos por dia. Como pode ter tanta gente passando fome?
Mais uma vez poderíamos ter os aviões e navios dos exércitos distribuindo essa riqueza inacreditável, ao invés de fazerem guerras!
Quer coisa melhor que um prato de comida e um copo d´água, três vezes ao dia, para começar a se ter prazer na vida. Quem tem sua alimentação garantida não faz idéia do mal que é não se saber o que se vai comer no almoço (já sem o café da manhã).
Que tal pôr um copo de leite para as pessoas?

Segundo a Embrapa, a produção de leite de vaca em 2004 foi de
515.837 mil toneladas.
Considerando a densidade do leite próxima de 1 kg / litro, temos, então,
515.837 milhões de litros por ano.
Fazendo nossa conta para cada habitante:

Litros de leite por habitante = produção mundial / população mundial

Teremos 86 litros por habitante por ano.
Isso significa 860 copos de 100 ml por ano, ou seja, mais de dois copos por dia!
Acabamos de colocar o café da manhã na mesa de toda civilização e demos mais trabalho para os aviões e navios dos exércitos.
Que guerra estão travando! Acabar com a fome do mundo!
E o que dizer de um churrasco?

Conforme relatório da FAO (órgão da ONU para Agricultura e Alimentação), a produção de carnes em 2004 foi de
257,6 milhões de toneladas. Este é o total para carne de aves, suína, bovina, caprina e ovina, entre outras.
Será que dá para um churrasco?
Vejamos:

Quilos de carne por habitante por ano = produção mundial / população

Disto resulta 43 kg de carne por ano por habitante.
Considerando 2 quilos de carne por churrasco, poderemos (toda população mundial) fazer até 20 churrascos por ano.
Para um bife de 120 gramas, poderemos comer 1 bife por dia!
Aqui se faz uma analise quantitativa muito simples, apenas para responder à pergunta sobre a viabilidade de se ter o suficiente em gêneros variados para toda população do planeta.
Vimos que é possível, ou seja, materialmente, existem grãos, leite, água e carnes em quantidade suficiente para todos.
Poderíamos estender para a razão per capita de vários outros itens, não só os gêneros alimentícios.
Poderíamos pensar no aço, cimento, plástico, etc.
Talvez chegássemos a um carro e uma casa para cada habitante.
Neste ponto, entra o dinheiro, ou seja, o capital, que faz tudo se movimentar. Não será discutido isso aqui. Apenas se quer alertar que esse movimento está capenga. As soluções são discutidas em toda parte, quem sabe um dia se encontre uma solução. Existe tempo à vontade, mas enquanto isso, fica o alerta lógico: onde está o quinhão de todo filho da Terra, por direito inerente à existência?
Mas, e se nos atrevermos a mexer com valores monetários, o que será que concluiremos?
Segundo Maurinto, A expansão dos fluxos de capital tem sido ainda maior por causa da abertura dos países ao investimento estrangeiro e da enorme velocidade das transações. O movimento diário de capitais no mundo é estimado em 2 trilhões de dólares.
Ainda afirma José Lucas Alves Filho
Um movimento diário de 2 trilhões de dólares representa, ao ano, uma troca de lugar desses capitais de 730 trilhões de dólares. Ora, o PIB mundial se encontra em torno de 30 trilhões de dólares. São 24 voltas ao mundo, então, que o PIB dá, todos os anos. Duas voltas por mês. Isto, só por falar no Capital Financeiro - Especulativo, sem contar com o giro da moeda e meios de pagamento em cada país.
Vamos ter em mente esta cifra.

Vamos fazer um resumo do que já avaliamos per capita.
Grãos = 365 quilos / hab / ano
Leite   = 86 litros / hab. / ano
Carne = 43 quilos / hab. / ano

Passando esses valores para seu valor monetário, temos, aproximadamente:

365 quilos grãos    = R$ 1.000,00 / hab / ano
86 litros de leite     = R$    105,00 / hab / ano
43 quilos de carne = R$    215,00 / hab / ano

Total..........................R$ 1.320,00 / habitante / ano

Em dólares, esse total é de aproximadamente US$ 3.300,00 / hab / ano.

Vamos dividir esse valor por 365 para se ter o valor por dia:

Isso equivale a US$ 9,04 / hab / dia.

Se tomarmos este custo para toda população, temos:

Total custo para sobrevivência da população mundial =

= 6 bilhões de hab x US$ 9,04 / hab / dia = US$ 54,24 bilhões / dia

Como vimos, o dinheiro circulante é de US$ 2 trilhões / dia.
Dividindo US$ 2 trilhões / dia por US$ 54,24 bilhões / dia, teremos que o dinheiro no mundo num dia é 36,9 vezes maior que o básico para sobrevivência da população.
Isso significa que tem gente gastando muito, ou que podemos incrementar nossa cesta básica em 36,9 vezes.
Daí, fazemos: 36,9 x US$ 9,04 / hab / dia = US$ 333,58 / hab / dia.
Ao ano teríamos 365 dias x US$ 333,58 / hab./ dia =
= US$ 121.756,70 / hab / ano.
É um valor considerável. É o valor do quinhão de cada habitante do planeta, caso todo dinheiro fosse igualmente distribuído para todos.
Isso equivale a US$ 10.140,39 / hab / mês, o que é um ótimo salário!
É o equivalente a fazer com que, quem ganhe bilhões ou milhões, passe a ganhar milhares, como todos.
Chegamos à conclusão que a riqueza existe e é suficiente para todos.
Já é um bom começo, mas como vai terminar?
Sabendo agora o que sabemos, o que devemos fazer?
Devemos torcer para que dê tempo de se concertar o mundo antes que algo pior aconteça. Falamos de um planeta sem bandeira, mas na realidade elas existem, junto com as fronteiras e também os governos. Cabe a eles se entenderem e façamos nossa parte escolhendo os melhores governantes. Caso a democracia não funcione, ou seja, o governo seja falho na sua função de servir à população, então algo novo deverá surgir.
Aqui voltamos à nossa Utopia e a proposta de superar o capitalismo.
Neste ponto não há nada mais a dizer. As Utopias existiram por todos os tempos, na mente de muitos que aspiravam por um mundo melhor e, ainda hoje, somos muitos com a mesma aspiração.
E o que acontece?
O mundo continua inflexível aos apelos e protestos.
Girando sua população a mais de 3.000 km/h, que é a velocidade de translação da Terra, pelo espaço afora, o planeta clama por um fardo mais leve.
A Terra reclama e está cansada. Mas somos muitos e poderemos, quem sabe, um dia, atingir uma massa crítica de cidadãos, com poder de mudar as regras do jogo e aliviar o fardo que somos, fazendo a natureza regozijar, passando o planeta, então, a dançar no cosmos, feliz da vida.
Nesses milhões de anos de história da evolução da vida no planeta, pode-se contar em minutos os tempos de paz.
A paz eterna fica para o paraíso..., mas porque não aqui, já, tchã, agora, como um passe de mágica. Temos tudo para ter esse paraíso aqui na Terra. Devemos acreditar e ter paciência ou devemos nos enfurecer e sair às ruas, exigindo, como filhos da Terra, a paz e harmonia entre os povos já...somos muitos lembremos sempre disso...
O fato é que está mostrado aqui que existe fartura no planeta.
A fome é uma ignomínia.
Pessoas vivendo(!) com US$1,00 por dia, ou menos, é um disparate.
E os governos ufanam seu crescimento econômico. Que grande farsa!
Já nos foi mostrada a Terra lá do céu e não se vê fronteiras, somente um planeta azul que é de todos nós.

rogeriogattaisiffert@gmail.com




Biografia:
Engenheiro Mecânico pela Escola de Engenharia Mauá em 1988. Sempre atuei com projetos. Já lecionei Física e Matemática para o ensino médio. A Engenharia Poética surgiu para mim e resolvi dar voz a ela.
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