Vejo a Engenharia como uma pessoa a bradar:
“ Basta. Chega, não quero mais estar em mentes delirantes construindo delírios. Quero estar em mentes serenas construindo o simples. Vocês não perceberam ainda, mentes loucas e doentes a e que, enquanto tivermos um caõzinho carente, a evolução da humanidade estará comprometida.
Enquanto existo para lançar o homem ao espaço e dentro do átomo, fico aflita, olhando para o projeto da casa branca do João que talvez não tenha a chance de se concretizar.
Eu sempre existi, tal como agora, grande e poderosa, participei desde a conquista do fogo até aquela foto de Marte, que para mim é inútil, e tremo ao ver meu poder cada vez mais revelado para mentes que daí se julgam poderosas e acreditam dominar a Natureza.
A Natureza nunca foi e nunca será dominada. O que acontece é que Ela é generosa e fornece o concreto para o dique que para o seu rio e, se ela faz isso, porque o dique foi ideia do homem, e o sua represa mudou a paisagem, e a Natureza mudou para aceitar o dique.
Mas a Natureza já me segredou que está cansada e, como eu, não aguenta mais tantas ideias e, tanto quanto eu, se arrepia toda vez que um computador é acionado e, então, nos interrogamos pelo que virá.
Para tudo o que vem, desde isso ou aquilo, para tudo enfim que se concretiza, a Natureza assimila, e muda, e as ajeita, e eu me pergunto que natureza será essa que resultará composta de seres inanimados, manipulados apenas pelo homem.
Será que a árvore tombada, o minério arrancado, valem o que virá disso?
Eu sou a ponte que liga todo natural ao que o homem cria, mas ainda não acharam em mim a equação que diz: “cuidado!”.
Para frente, avançar sempre em busca do que não sabemos o que será!
Para que isso!
Colocar em risco a certeza das plantas, dos montes, do luar, por uma busca incansável que pode resultar em uma nave espacial percorrendo o Cosmo, ainda procurando e procurando acabar com tudo.
Oh! Como me dói ser instrumento de tão tresloucada civilização!
Percebam que a sua aflição é a Natureza clamando dentro de ti por um basta, apontando para uma flor e gritando: ”vejam, essa certeza não basta?”.
Seria tão simples para mim, como sou hoje, existindo em mente sãs e serenas, com um trabalho diário e tranquilo, trazer da Natureza a certeza da Natureza e fazer com que isso baste.
Eu que existo em mentes criadoras sei bem da emoção de trazer ao mundo a coisa criada e da emoção da posse disso. Bem sei, mas não participo e não sou quem traz essa emoção. Essa emoção vem porque quem vive quer participar, quer ser orgânico com o todo, quer ser e existir, quer ser aceito, enfim, porque quer. Acontece que estão querendo muito e estou sendo muito solicitada, então, permitam-me dizer o que quero: quero que se emocionem com a planta, com os montes, com o luar e que essa emoção seja serena e baste, e não queiram mais que isso, pois me dói ser o projeto de uma emoção delirante.
Estava presente no momento da ideia da roda. Fiquei admirada com a ideia do avião. Era quase inacreditável chegar até a Lua, mas conseguimos esse feito. E a máquina de criar felicidade? Este é o projeto mais simples do mundo e sempre existiu: mantenham a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo.
Ir até a Lua foi extravagante, mas fez com que uma a geração olhasse para o céu com uma emoção muito especial, principalmente para as crianças que na geração anterior viram a rosa de Hiroshima.
Cansou-me muito o projeto Apolo e para essa geração quero ser um projeto simples, como uma amarelinha riscada no chão.”
rogeriogattaisiffert@gmail.com
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