Login
Editora
|
|
Texto selecionado
CARTA DE MICHEL TREMER PARA O PAPAI NOEL* |
*A carta foi enviada para o Coelhinho da páscoa e vazou... |
Adroaldo Barbosa Jr. |
Papai Noel,
"Verba volant, scripta manent" (As palavras voam, os escritos permanecem)
Esta é uma carta pessoal, um desabafo que já deveria ter feito há muito tempo.
Desde logo lhe digo que não preciso alardear publicamente minha lealdade. Tenho-a revelado desde meus 5 anos de idade quando finalmente você me deu aquela bicicleta cor-de-rosa da Estrela com que tanto sonhava dia e noite. Os presentes que vieram depois (o filme proibido da Xuxa, o LP do Menudo e a faca do Rambo) só fizeram com que a lealdade que eu já tinha se intensificasse ainda mais.
Entretanto, sempre tive ciência de sua absoluta desconfiança e dos gnomos e duendes em seu entorno em relação a mim e ao meu clubinho de amigos, os Lobinhos. Desconfiança incompatível com tudo o que fizemos para manter funcionando a sua casa no Pólo Norte.
Vamos aos fatos. Exemplifico alguns deles:
1. Passei os quatro primeiros anos como peça decorativa, um abajur. O Senhor sabe disso. Só acendia se alguém colocava o dedo. Isso machuca...
2. Jamais fomos chamados para escolher os brinquedinhos que estavam sendo entregues aos outros clubinhos.
3. Negou o aviãozinho que meu amiguinho Moreirinha queria tanto só por ele ser meu amiguinho. Saiba que ele era fã de “Top Gun” e tinha um pôster gigante do Tom Cruise no quarto. Ele merecia mais que ninguém.
4. De qualquer forma, mesmo eu sendo o líder dos Lobinhos o Senhor sempre me ignorou. Os melhores brinquedos sempre ficaram para os outros. Saiba que os escoteiros não são melhores que os Lobinhos. Não, não...
5. Claro que converso com Lobinhos de outras regiões, mas, isso não tem nada a ver com Déficit de atenção.
6. Querer ser o Senhor não quer dizer que eu tenha inveja. Nem que eu queria seus brinquedos, sua casinha, as renas, os gnomos, seu trono...
7. Mais recentemente, conversa nossa foi divulgada e (apesar de ser apenas entre nós dois), insisto que não fui eu quem falou pra imprensa.
8. Os Lobinhos sabem que o Senhor busca promover a nossa divisão, o que já tentou no passado, sem sucesso. Como líder dos Lobinhos, devo manter cauteloso silêncio com o objetivo de procurar o que sempre fiz: nada!
9. Faz tempo que não sou chamado pra nenhuma festinha na sua casa. Tudo porque espalharam o boato de que eu só como coxinhas. Isso é coisa de gente invejosa e fofoqueira.
10. Até o programa “As portas da esperança”, cujas propostas poderiam ser utilizadas para trazer dor de cabeça em massa e assim aumentar a economia com a venda de Dipirona, Novalgina, Anador e até Gardenal, foi tido como manobra desleal. Isso não é coisa de Deus...
11. Já que a Câmara tinha o Tiririca, tentei trazer ao Senado o Sérgio Mallandro e fui muito criticado por isso, numa visão equivocada do nosso sistema. E não foi sem razão que em duas oportunidades ressaltei que deveríamos trazer também o Patati e o Patatá.
Passados todas essas fofocas, tenho certeza que o Pólo Norte terá tranqüilidade para crescer e voltará a distribuir os presentinhos como antigamente.
Finalmente, sei que o Senhor não tem confiança em mim e nem nos Lobinhos, hoje, e não terá amanhã. Lamento, mas esta é a minha convicção.
Respeitosamente
MICHEL TREMER
(Líder dos Lobinhos, mãe-de-santo e globeleza)
|
Biografia: Descendente de Herbert Harrison, é filho de Adroaldo Barbosa e Maria Eloísa Barbosa, ambos ex-funcionários da indústria de papel e celulose Klabin. Na década de 70, em plena ditadura militar, a família mudou-se para Foz do Iguaçu, onde o pai foi trabalhar na Itaipu Binacional.
Sua produção fonográfica provém de canções dos anos 90 através da banda de rock underground "Queima de arquivo". Possui mais de 500 composições de sua autoria. Sua produção literária se baseia em poesias, contos, literatura infantojuvenil e romances.
Trabalhou como vigia de hotel, cobrador de ônibus, desenhista publicitário, frentista em um posto de gasolina, bibliotecário e, atualmente, paralelo a sua atividade principal como escritor é funcionário publico estadual pelo Governo do Paraná.
Em 2004 formou-se em Letras Português/Espanhol pela Unioeste. Em 2007 formou-se em Métodos e técnicas de Ensino pela UTFPR.
O compositor iniciou a carreira como vocalista e letrista, onde acabou escrevendo canções para sua própria banda de rock underground, Queima de Arquivo. Possui cerca de 500 letras de musica. A banda teve curta duração (1996 a 1998) e deixou como legado um CD (O futuro da nação, 1998, Sanval).
Como escritor, Adroaldo Barbosa Jr. tem uma produção literária bem ampla, onde não há um estilo literário em específico. Escreve romances voltado para o público adolescente e adulto, livros infantis, contos e poesias.
Em sua primeira obra destinada ao público infantojuvenil O castelinho mais importante do mundo, o autor aborda o tema da separação dos pais e suas consequências em forma de metáforas, fazendo com que a leitura seja leve, porém, um tanto quanto ácida. No prefácio da obra, o Autor pede que o Livro seja lido pelos pais devido a complexidade do tema.
O livro Zeca Baleiro e as escolas literárias brasileiras é, praticamente, um apanhado de seus estudos e análises sobre diversas letras de músicas do cantor comparadas a todas as escolas literárias brasileiras.
Em Minha terra desolada, o escritor faz uma homenagem a T.S.Eliot e aborda temas como tristeza e solidão e os compara com a situação do país em que vive.
Carta ao irmão distante é o emocionante relato de um homem que percebe a plenitude do que se trata realmente ser humano.
A poesia O desmatamento da alma é considerada sua obra mais ambiciosa, pois, trata-se de uma obra com 300 estrofes e ainda em processo de revisão pelo escritor. Sua intenção é que a poesia some um total de 1000 estrofes e não há uma data pré-definida para sua finalização. |
Número de vezes que este texto foi lido: 61636 |
Outros títulos do mesmo autor
Publicações de número 1 até 8 de um total de 8.
|
|
|
Textos mais lidos
|