William Bolt era sócio presidente de um dos mais renomados escritórios de advocacia de Manhattan o qual detinha a conta de ilustres empresas como The Coca-Cola Company, General Motors e DC Comics entre outras. Conquistara o prestígio da direção de grandes empresas pelo modo pragmático de solucionar os empasses dentro e fora do tribunal, eventualmente, valendo-se de meios questionáveis. Os resultados, contudo, inibiam qualquer discussão sobre a ética dos meios adotados.
Mesmo com toda sua experiência e sensação de que “já vira de tudo”, aquele final de tarde de sexta-feira lhe guardava algo de novo e com um quê de insólito. Sentado em sua latifundiária mesa com vista cinematográfica da cidade, sua secretária lhe transfere uma ligação do Brazil. Tratava-se de um advogado de Itabuna (Bahia) que se dizia representar os herdeiros de Jorge Leal Amado de Faria.
George what???? Perguntava o americano.
Dr. Gervásio, tranquilo e sereno, se referia a Jorge Amado, figura que para nós brasileiros dispensa qualquer apresentação. Contudo, para o mais culto americano, conhecer um escritor do terceiro mundo, seria exigir demais. Depois de muito exercício mental, lembrara de um papel que representara a única brasileira que ele conhecia: Sonia Braga em Gabriela - Cravo e Canela.
O motivo da ligação era bombástico: o brasileiro anunciava provas concretas e convincentes de que o personagem THE FLASH teria sido criado originalmente por Jorge Amado e sua ideia roubada por Gardner Fox em 1941 em Buenos Aires. Sim, o Flash original seria um baiano agitado de Salvador chamado Jurandir.
Aos poucos os detalhes apresentados pelo baiano davam consistência e aumentavam seu nível de batimento cardíaco. Tudo se encaixava. Jorge, comunista de carteirinha, teria escolhido até a cor vermelha do uniforme em homenagem ao partido comunista.
Sob a condição de sigilo absoluto, Bolt agenda uma reunião com o brasileiro. Solicita a sua secretária uma passagem para Salvador e uma ligação urgente para a presidência da DC. Devido a sua intimidade com a empresa, sabia que o problema não seria com as reparações pecuniárias com a família Amado. Isso um cheque resolveria. Sabia ele, por conta das viagens de férias na Costa do Sauípe, que o cerne da preocupação seria a “bomba” sobre a imagem do herói: The Flash - um soteropolitano, a expressão máxima da tranquilidade e do descanso! O prejuízo seria incalculável. Pensou nas consequências com o contrato com a Warner.
Durante toda a noite, todas as soluções legais ou não lhe ocorreram. Por fim, ao clarear, o brilhante e bem-sucedido advogado já tinha toda a estratégia montada para resolver o assunto. O acordo milionário com cláusula de sigilo associado a providências soturnas envolvendo ameaças e chantagens era a solução positiva para a situação. Estava tudo sob controle.
Após sua corrida matinal, entra no banco traseiro de seu carro e solicita ao motorista que o conduzisse com celeridade ao escritório da DC, onde teria uma reunião de emergência com a presidência. Confiante em seu estratagema, mal abria o N.Y. Times e o seu telefone celular toca. Do outro lado da linha, um sujeito com sotaque gaúcho querendo discutir sobre sobre uma certa guria criada por Erico Veríssimo que tinha um laço prateado e cavalgava num potro invisível...
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