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Máquina do Tempo
FERNANDO HORA

A comunidade científica entra em frisson, diante do anúncio das recentes descobertas de ilustre cientista correlacionadas ao tempo e a possibilidade de incursões nele.
Chegado o momento da coletiva, o grisalho doutor de sessenta e tantos anos se apresenta diante de um quadro branco.
Silêncio total.
Nele, com o pilot, desenha uma reta de ponta a ponta do quadro. No meio dela, dá um pequeno traço, e ao seu lado a letra “O” . E explica:
- Suponhamos que esta semirreta represente nossa linha temporal. O momento atual é o ponto “O”. O segmento de reta após é formado por uma sucessão infinita de pontos interdependentes. Desta forma, alterando-se qualquer ponto destes, alteramos os posteriores com de forma mais ou menos drástica. Não há, contudo, proporcionalidade entre a magnitude da mudança e seus reflexos. Uma folha a mais retirada de uma árvore pode ocasionar importantes alterações na vida de muitas pessoas.
Pausa, dá um gole na água e segue.
- Suponhamos agora que consigamos voltar nesta reta a um ponto anterior ao da letra “O”...
Quebra-se o silêncio na plateia. Viam-se cabeças agitadas para os lados e para trás e murmúrio generalizado. Segue o cientista...
- ...e alterássemos algo. Neste ponto de mudança, criar-se-ia uma linha temporal alternativa, paralela a original. Os fatos e as coisas seriam diferentes seguindo a mesma regra anteriormente mencionada.
Neste momento, aumenta o volume do murmúrio e todos se voltam para a frente aguardando a conclusão. O palestrante segue o discurso:
- Mas o que nos reserva adiante dessa reta? Um mundo melhor? pior? Sem guerras? Destruído por elas? Sem doenças? Degradado? Enfim, não é preciso uma máquina do tempo para prever que, se continuarmos vivendo desta forma individualista, os pontos que se seguirão nesta reta serão cada vez mais negros para nossos descendentes.
Emudece a plateia. Um celular ameaça tocar mas é silenciado de pronto.
-Amigos, tive a oportunidade de vivenciar diversos futuros e diversos presentes em incursões diversas que fiz. O empirismo desta viagem me expôs a desconhecidas formas de radiação e me custou um câncer em estágio adiantado que, ironicamente, limita o tempo de vida que me resta.
Caem queixos.
- Estou certo de que, no estágio moral em que estamos, viajar pelo tempo só ocasionará prejuízos irreparáveis à humanidade. Vi isso tudo acontecer e, por mais que retornasse e tentasse uma correção dos fatos, eram cada vez mais horríveis os resultados.
- Sendo assim, enviei todo o aparato da minha pesquisa, juntamente com o equipamento desenvolvido para um lugar onde jamais alguém encontrará...bem distante no futuro.
Gritaria geral...”impostor”....”louco”...ouvia-se.
- Doravante, aproveitarei o pouco tempo que me resta seguindo o que minhas conclusões de cientista apontam como sendo a salvação da humanidade.
Pede licença e sai do recinto, rumo a um asilo a pessoas necessitadas, com o qual se comprometera a prestar trabalhos assistenciais.
Indignados, seus colegas abandonam o recinto, prontos a pô-lo em descrédito atribuindo-lhe inclusive insanidade. Porém, ao se levantarem, todos os celulares acusam a chegada de uma mensagem. Era uma mesma foto a todos endereçad: uma selfie do cientista tirada do outro lado da rua onde ao fundo, via-se todos os presentes já fora do prédio...


Biografia:
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Publicações de número 1 até 5 de um total de 5.


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