Sempre jogava de lateral direito nos timinhos de camisa perto da minha casa. Fui para a EAMES (Escola de Aprendizes de Marinheiro do Espírito Santo) e continuei sendo o lateral direito do quarto pelotão. Conquistei tanto a confiança do time e do cabo Luis Carlos, comandante do pelotão, como eu enganava, que o cabo gritava para o time na beirada do campo: “Desce todo mundo e deixa só o Lasana atrás”.Como eu enganava. E dava conta do recado, com requintes, estilo. Eu era um lateral direito driblador, dava lençolzinho, jogava entre as canetas do adversário, pintava.
Mas na intimidade os amigos me apelidaram de louco porque saía driblando da lateral direita até a meia-direita e na linha divisória do gramado fazia uma diagonal indo parar na ponta esquerda e de lá fazia os lançamentos. Minhas loucas inversões resultaram em muitas goleadas... Porque, chutando apenas com direita, os adversários, escravos do raciocínio lógico, esperavam que eu descesse feito um cavalo antolhado toda a vida pela direita para de lá fazer os cruzamentos. Se eu fosse aluno de César todo mundo saberia por onde eu atacaria; se eu fosse aluno de Pelé também. Fui aluno desses todos, mas também da minha loucura. Eu precisava ser eu e era: um lateral direito doidão que invertia da direita para a esquerda.
Um lateral doidão e firuleiro que tem me chamado à atenção nos dias atuais é o presidente Lula, que já está no segundo tempo, está ensebando e aponta com ousadia para uma prorrogação. É o presidente da sobra, aproveitando a bola que escapou de Fernando Henrique Cardoso e sai driblando da lateral esquerda até a meia-esquerda e na linha divisória do gramado ele inverte, faz uma diagonal e vai parar na ponta direita e de lá faz os lançamentos, mas só os cartolas, sentadinhos em seus “Bancos”, têm sido os artilheiros, as estrelas. Aqueles jogadores mais apagadinhos do time recebem os lançamentos mais em conta, no estilo Lançamento Bolsa Família. O Bolsa Família prende o jogo e quando a jogada é complicada como a jogada aérea que está um caos, formando um sururu, o nosso lateral doidão demonstra não ter intimidade com a bola e por não ter pegada, faz uma substituição, chamando um pé de apoio, um Xerife para ganhar a jogada, no grito, no peito, na raça, na marra, na ditadura.Vejam os senhores que no futebol certas loucuras funcionam, já na política...
Parece que estamos numa pelada e aí a torcida vaia tentando acordar o time, queimar os mascarados e evitar o rebaixamento para a Quarta Divisão. Eu parei de enganar, pendurei as chuteiras. O cabo Luís Carlos ficou triste porque esperava um presidente que comesse a bola.
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