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prudentes como as serpentes, simples como as pombas
tempo de lobos
LASANA LUKATA




Um dia pela manhã, saindo de plantão noturno fiquei esperando o ônibus e enquanto isso olhava os pombos andando pelo meio da rua. Vinham os carros e observei que os pombos deixavam para voar já com o carro bem próximo. Perigo. Apareceu um carro numa velocidade de não mais que uns 20 km/h, diminuindo na curva, era uma curva, e um dos pombos continuou a comer naquela parte da estrada, deixando para voar com o carro bem em cima. O pombo levantou voo, mas na velocidade a roda o pegou no ar, esmagando-o no chão. Houve uma pequena explosão. Naquele momento lembrei-me de Cristo: “Sede prudentes como a serpentes, simples como as pombas”.
A primeira coisa que nos ocorre quando pensamos em serpentes e pombas é a de associarmos fraqueza com astúcia, estas unidas, transformadas em prudência, mas se mergulharmos e relacionarmos com o que Cristo dizia aos discípulos ver-se-á que entre serpentes e pombas, no versículo, não há paradoxo algum, pois ambas tratam do tempo.
Uma passagem bíblica que ilumina bem o caso é quando Cristo decide ir ver Lázaro que estava enfermo e os discípulos temeram porque era na Judeia, lugar onde quase o apedrejaram. Cristo respondeu: não há doze horas no dia? Se alguém andar de dia, não tropeça, porque vê a luz deste mundo, mas se andar de noite, tropeça, porque nele não há luz. Cristo fala do tempo determinado, que já havia falado Salomão em Eclesiastes: tudo tem o seu tempo determinado. O filho da promessa de Abraão nasceu no tempo determinado. Nem antes nem depois. Sei o quanto a palavra determinado incomoda o homem secular, porque parece anulá-lo como ser humano, manipulado por um Deus caprichoso, mas isto é assunto para outro tempo.
Ora, Cristo fala sede prudentes como as serpentes, simples como as pombas porque ele está enviando seus discípulos como ovelhas no meio de lobos, um tempo de lobos e a união da serpente com a pomba traz à baila exatamente o princípio da complementaridade. Cristo mostra que deve haver uma interdependência entre esses dois animais. Por quê? Porque entre os animais a serpente é o que melhor tem noção de tempo, os pombos não têm noção de tempo, não reconhecem o tempo do perigo, por isso muitos são atropelados, o que mais se vê no chão são pombos esmagados por carros. Têm asas e deixam para usar em cima da hora. Há pessoas que são como pombos, deixam tudo para a última hora; das dez virgens cinco eram pombas, sem noção de tempo, suas lamparinas não tinham azeite suficiente e o azeite tem que durar até a chegada do noivo. Porquanto tempo durará o seu azeite? Os pombos têm uma visão imperfeita, não conseguem reconhecer os tempos, têm olhos, mas não veem, falta-lhes o discernimento.
A serpente desprende-se da sua pele velha, renova-se seguindo adiante em seu crescimento e não é o que se vê em Romanos 12:2? “Mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento...”. Crescei na graça e no conhecimento. É preciso conhecer para reconhecer os tempos, daí a serpente que tem muitas particularidades como existem várias particularidades de tempo. Se na serpente existem particularidades como sagacidade, língua ameaçadora, sinuosidade, agressividade, noção de tempo, no Tempo, enquanto gênero, existem várias particularidades de tempo como está em Eclesiastes, tempo de carregar pedra e deitar fora; tempo de sorrir e de chorar... Quem já não ouviu falar no “estraga prazer”, aquele que aparece numa festa e começa a contar histórias tristes? Ou num enterro aproveita para convidar a todos para o aniversário da filha no próximo sábado?! Numa ciclovia da minha cidade, um mendigo com uma caixa de papelão capturava pombos. Vários pombos viam a caixa descer sobre um deles, mas voltavam a se expor na armadilha de arroz, o mendigo se fartou.
Na Carta aos Efésios capítulo 5:6-16 diz: “ninguém vos engane com palavras vãs...” Portanto, vede prudentemente como andais, não como néscios, mas como sábios, remindo o tempo, porquanto os dias são maus.” Veja-se que assim como Cristo está para igreja, dias maus está para lobos, logo, remir aqui está no sentido de eximir-se do perigo, não se expor ao perigo, pôr-se a salvo, livrar-se, o pombo não tem noção, a todo instante é atropelado, esmagado, mas a serpente tem a noção de tempo, tempo de avançar, tempo de recuar. A serpente tem muitas particularidades mas em Mateus 10:16 a hermenêutica aponta para o tempo e não para a sagacidade, agressividade ou língua ameaçadora como a do profeta Elias; por isso Jesus usa a imagem da serpente como símbolo. O traço dominante que Cristo quer destacar da união desses dois animais é o tempo, é nesse sentido, e Ele vai insistir sem parar, reafirmar a questão do tempo através das cartas de Paulo. Em Lucas 19: 41-44 Cristo entra em Jerusalém e chora sobre ela, decepcionado porque: “não conheceste o tempo da tua visitação”. Cristo está enviando para uma colheita e uma colheita tem um tempo determinado. Um plantador de algodão no roçado dos anos 30, 40, para colher sem poeira, levantava em dia de lua no alto, na alta madrugada para que o algodão não ficasse empoeirado, era uma espécie de controle de qualidade que se fazia. Embarcava nos navios, mas as sacas de algodão sujo eram rejeitadas. A serpente tem a noção de tempo, meu avô era serpente ao colher algodão, com a lua no alto, o sereno contendo a poeira, suas sacas eram todas aproveitadas, iam para a Itália, mas muitos não conseguiam embarcar seu algodão, perdiam a oportunidade, tempo perdido.
Em Gálatas 6:10 o apóstolo reitera a questão temporal: “então, enquanto temos tempo, façamos o bem a todos, mas principalmente os da fé.” Cristo não inspira o apóstolo a dizer: somente os da fé como fazem outros segmentos de fé por aí. Novamente falando aos gálatas apóstolo Paulo vai repetir: “andai com sabedoria para com os de fora, remindo o tempo”. Esses de fora que Paulo diz são inclusive os lobos. Quando Cristo envia ovelhas no meio de lobos, Ele garante, mas não é por isso que o cristão vai sair pelas ruas, tentando a Deus. Quando os discípulos voltaram alegres porque até os espíritos imundos se submetiam a eles, Jesus alertou: eu via Satanás caindo como um raio sobre vós.
É óbvio que não havia automóveis no tempo de Cristo, mas já tinham inventado a roda, as carruagens indo e vindo, pombos esmagados por patas de cavalos ou rodas não seria possível? Sem noção de tempo, claro que sim!
Nas observações do dia a dia dificilmente veremos uma serpente esmagada numa estrada, lá uma vez ou outra, já os pombos... Basta olhar o chão ou o mendigo da ciclovia que todos os dias captura pombos com a mesma caixa de papelão, com a mesma comida.








Biografia:
Lasana Lukata é poeta, escritor por usucapião, São João do Meriti, RJ.
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