Login
E-mail
Senha
|Esqueceu a senha?|

  Editora


www.komedi.com.br
tel.:(19)3234.4864
 
  Texto selecionado
AOS DESAPARECIDOS POLÍTICOS
Heróis da Liberdade
Diana Albuquerque

O AI-5 saiu! Correi, guerreiro da paz!
E que teus pés honrem o chão adotivo
de fronteiras abertas a teu ideal altivo
antes que te imolem e esse rosto não fite mais!

Não deves com um último ósculo consolar
o coração da mãe que há de te abençoar a fuga,
se deseja o abraço caloroso à boca muda
ou a saudade à barbárie que o forte faz chorar.

Vai! Os abutres já em tua casa estão,
famintos da robusta carne -banquete farto.
Apressa-te! O cheiro de morte em trabalho de parto
já ronda o artista, vigário, repórter e irmão.

Lembras do Honestin? O companheiro destemido
das cortantes palavras virguladas de bravura?
Aprisionado foi pelos despóticos braços da tortura,
amante adúltera -suas ancas arrancam rubro gemido.

Adeus! E não mais chores pela terra ingrata
que os filhos espanca rejeitando o afeto puro!
Leves este torrão para te consolar o exílio duro
e te apoiar os pés quando a lua se fizer prata.

Oxalá teu regresso te alcance a mocidade
e converta esse pranto no orgulho da vitória,
e as precoces rugas em pendão de tua glória,
e tua história: um legado para a posteridade.

:::   :::   :::   :::   :::   :::   :::   :::      

Poucos dias se escoaram e que me dizes?
Não podes agora voltar! Teu país é selvagem arena!
Ou esposas essa saudade ou a morte que te acena!
Ou acaso pensas que o suicídio respeitará tuas raízes?

Amigo! O calor de teu abraço já se faz frio!
Ei-los em teu encalço! Dá cá um último abraço...
Meu Deus, peço-te que lhe firme o passo
e lhe roube a vida mas não lhe tolha o brio!

Quantas vidas idealistas ceifadas, Pai!
Ainda ouço o horror dos gritos a ecoar,
o corpo disforme vendo a resistência tombar
na tortura da carne. Tantas, Pai... Quantas mais?!

Ainda vejo os imberbes pêlos na face inteligente
e a determinação dos finos lábios,
e os belos olhos mergulhados em debates sábios
questionando, indignados, a miséria de nossa gente.

No suspiro moribundo chorou pela Maria que deixara
e se foi -mártir- em meio à horrendo suplício.
No rosto a derradeira lágrima foi para o patrício
que viu ainda atado nas garras da arara.

À Pátria oferendou as chagas expostas
do macilento corpo -patético espectro do que fôra.
-Amigo, que fizestes?!- O ferro aos braços da Moura...
só para legar à terra-mãe o adubo da matéria morta!

Recebei, Pai, a ele e a tantos outros bravos
com as honras que o tirano lhes negou!
Devolvei a luz aos olhos que a solitária cegou!
Como a teu Filho, às mãos guerreiras calaram os cravos!

Se o Filho do Espírito Santo desfaleceu na dor,
que dizer, Pai, dos mortais moldados em barro?
Atendes, Senhor, ao desejo daqueles que narro,
supliciando no inferno o maldito ditador!





Biografia:
-
Número de vezes que este texto foi lido: 61401


Outros títulos do mesmo autor

Poesias CAOS Diana Albuquerque
Poesias MEU LAGO Diana Albuquerque
Poesias ESQUECENDO Diana Albuquerque
Poesias ALMA MINHA Diana Albuquerque
Poesias SAUDADE TUA Diana Albuquerque
Poesias CONTEMPLAÇÃO Diana Albuquerque
Poesias BONECO DE NEVE Diana Albuquerque
Poesias CRUEL MORDAÇA Diana Albuquerque
Poesias SOL E LUA Diana Albuquerque
Poesias PERDIÇÃO Diana Albuquerque

Páginas: Próxima Última

Publicações de número 1 até 10 de um total de 51.


escrita@komedi.com.br © 2025
 
  Textos mais lidos
Ao calor do incenso - Flora Fernweh 61827 Visitas
DIA VINTE DE NOVEMBRO – MAIS UM DIA PARA ESQUECER - Antonio de Jesus Trovão 61779 Visitas
Perseverança ou teimosia - Patrícia 61655 Visitas
Insônia - Luiz Edmundo Alves 61540 Visitas
PERIGOS DA NOITE 4 IND 14 ANOS - paulo ricardo azmbuja fogaça 61537 Visitas
O pseudodemocrático prêmio literário Portugal Telecom - R.Roldan-Roldan 61526 Visitas
Canção - valmir viana 61523 Visitas
Viver! - Machado de Assis 61521 Visitas
A menina e o desenho - 61515 Visitas
Jornada pela falha - José Raphael Daher 61507 Visitas

Páginas: Próxima Última