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AOS DESAPARECIDOS POLÍTICOS
Heróis da Liberdade
Diana Albuquerque

O AI-5 saiu! Correi, guerreiro da paz!
E que teus pés honrem o chão adotivo
de fronteiras abertas a teu ideal altivo
antes que te imolem e esse rosto não fite mais!

Não deves com um último ósculo consolar
o coração da mãe que há de te abençoar a fuga,
se deseja o abraço caloroso à boca muda
ou a saudade à barbárie que o forte faz chorar.

Vai! Os abutres já em tua casa estão,
famintos da robusta carne -banquete farto.
Apressa-te! O cheiro de morte em trabalho de parto
já ronda o artista, vigário, repórter e irmão.

Lembras do Honestin? O companheiro destemido
das cortantes palavras virguladas de bravura?
Aprisionado foi pelos despóticos braços da tortura,
amante adúltera -suas ancas arrancam rubro gemido.

Adeus! E não mais chores pela terra ingrata
que os filhos espanca rejeitando o afeto puro!
Leves este torrão para te consolar o exílio duro
e te apoiar os pés quando a lua se fizer prata.

Oxalá teu regresso te alcance a mocidade
e converta esse pranto no orgulho da vitória,
e as precoces rugas em pendão de tua glória,
e tua história: um legado para a posteridade.

:::   :::   :::   :::   :::   :::   :::   :::      

Poucos dias se escoaram e que me dizes?
Não podes agora voltar! Teu país é selvagem arena!
Ou esposas essa saudade ou a morte que te acena!
Ou acaso pensas que o suicídio respeitará tuas raízes?

Amigo! O calor de teu abraço já se faz frio!
Ei-los em teu encalço! Dá cá um último abraço...
Meu Deus, peço-te que lhe firme o passo
e lhe roube a vida mas não lhe tolha o brio!

Quantas vidas idealistas ceifadas, Pai!
Ainda ouço o horror dos gritos a ecoar,
o corpo disforme vendo a resistência tombar
na tortura da carne. Tantas, Pai... Quantas mais?!

Ainda vejo os imberbes pêlos na face inteligente
e a determinação dos finos lábios,
e os belos olhos mergulhados em debates sábios
questionando, indignados, a miséria de nossa gente.

No suspiro moribundo chorou pela Maria que deixara
e se foi -mártir- em meio à horrendo suplício.
No rosto a derradeira lágrima foi para o patrício
que viu ainda atado nas garras da arara.

À Pátria oferendou as chagas expostas
do macilento corpo -patético espectro do que fôra.
-Amigo, que fizestes?!- O ferro aos braços da Moura...
só para legar à terra-mãe o adubo da matéria morta!

Recebei, Pai, a ele e a tantos outros bravos
com as honras que o tirano lhes negou!
Devolvei a luz aos olhos que a solitária cegou!
Como a teu Filho, às mãos guerreiras calaram os cravos!

Se o Filho do Espírito Santo desfaleceu na dor,
que dizer, Pai, dos mortais moldados em barro?
Atendes, Senhor, ao desejo daqueles que narro,
supliciando no inferno o maldito ditador!





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Poesias ANJO Diana Albuquerque

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