O Prêmio Baixada foi criado pelo Forum Cultural da Baixada Fluminense em 2002 para homenagear as pessoas que se destacaram na cultura, educação e arte na baixada.
Esse ano o Prêmio Baixada de Literatura foi para o poeta Tony Maneiro que já possui três livros publicados: Raízes, Sensibilidade e o mais recente, em 2007, Duo Vate, ou composição poética com duas vozes. A outra voz é do estreante Evandro Júnior.
Por ser crônica, reteremos apenas Duo Vate e a voz do Tony Maneiro na poesia, pois há também crônicas.
O livro conta com uma bonita capa, 68 páginas e teve como revisor ninguém menos do que o grande historiador da Baixada Fluminense e Subsecretário de Cultura de Meriti, tendo sido inclusive num passado não muito distante, Presidente da ALAM (Academia de Letras e Artes de São João de Meriti), professor Gênesis Torres.
Em que pese o aparato, observam-se erros simplórios de sintaxe como o solecismo de regência verbal na última estrofe do poema DIVAGANDO: “Por amar minha vida tanto/Encontrei-te afinal no meu destino/Não lhe abracei não lhe beijei/Parti sozinho...”. Os verbos abraçar e beijar são Transitivos diretos, pedindo, na norma culta, objetos diretos assim: “Não a abracei, não a beijei”. Mas suponhamos que o poeta quis gozar da tão falada licença poética. Seria forçar demais porque Tony Maneiro ao escrever “não lhe abracei não lhe beijei” desobedeceu à sintaxe, mas não trouxe nenhuma beleza ao verso que justificasse a desobediência. Bem diferente de alguém que rompendo com a regra diz: “Joana abraçou-se ao poste, crendo ser seu homem”.
Os poemas do livro não beiram à irregularidade. Fica difícil dizer ao menos que existam um céu e um inferno na poesia do autor. É notória a pobreza vocabular, repetindo palavras sem submetê-las à polissemia; à plurissignificação, ao simbólico; acompanhada também da pobreza das rimas, que apelando, reincide no clichê: Alma/Calma/Acalma: pg 25: No frio torpe da alma/Tua lembrança me acalma; pg 26: Respiração calma/A alma clara; pg 27: Me desnuda e penetra minha alma/.../.../Exaurindo minha calma. Parece que calma é uma ausência que nos poemas grita por uma presença. Há outros detalhes, mas fiquemos por aqui para estimular a leitura. Parece rigoroso, mas quando um poeta ou cronista escreve para um jornal e tudo sai no calor da batalha, perdoa-se muita coisa, porém, um livro é feito na paz, sem a serpente da pressa, picando nossos calcanhares. O livro deve passar por uma revisão minuciosa. É claro que sempre fica um calcanhar de Aquiles, escapa, mas no caso em apreço, deixaram uma centopéia, cheia de calcanhares de Aquiles. Não podemos em nome da Auto-Estima fazer como disse um poeta meritiense: “Aí, escrevi qualquer coisa, embrulhei e joguei nos peitos delas!”.
A crítica, quando um poeta ou escritor lança um livro, é unânime, hoje em dia, em dar um descontão para o estreante, mas para quem já está no seu terceiro livro como é o caso do poeta Tony Maneiro, o olhar é mais rígido, cobra-se mais. Desde a correção da língua até o fenômeno literário. Por falar nisso: Onde está o fenômeno literário no livro Duo Vate? Onde acontece a poesia nos textos do poeta? O Forum da Baixada poderia criar um prêmio para animador cultural porque literatura é outra coisa. Roland Barthes nos fala sobre escritores e escreventes e é um bom ensaio para despertar as aventuras na escrita.
Quanto a mim, alguém me perguntou o motivo de eu não me inscrever para o Prêmio Baixada. Bem: primeiro não concordo com um prêmio simbólico, vivendo num país capitalista selvagem, onde os livros não têm preços simbólicos, a comida não é simbólica, as aulas de música e canto não têm preços simbólicos e o Prêmio Baixada é simbólico. Que resgate da auto-estima é esse? Segundo, não se gasta vela com mau defunto. Minha poesia, minha escrita ainda não têm méritos e não podem ser distinguidas com um Prêmio Baixada e terceiro, na estrofe 93 do Canto IX dOs Lusíadas, Camões é muito claro ao dizer e bem se aplica ao nosso tempo: “Porque essas honras vãs, esse ouro puro,/Verdadeiro valor não dão à gente:/ Milhor é merecê-los sem os ter,/ Que possuí-los sem os merecer.”
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