Quatro dias após a festa do colégio e tudo havia mudado. Nem tudo, mas era o que parecia para Bárbara. Aparentemente Lúcia havia conseguido o que planejara: ela ficou com Inácio. E desde então era tudo o que ela fazia: durante as aulas, durante os intervalos e após as aulas também. Ela nunca foi do tipo de amiga que coloca as amizades em primeiro lugar, mas desta vez Bárbara achava que Lúcia havia exagerado na dose. Algo lhe dizia que Lúcia ainda estava irritada por ela ter se negado a ajudar com os amigos de Butão.
Era sozinha que Bárbara chegava ao colégio, sozinha ficava durante toda a manhã e sozinha voltava para casa... Nesse último caso, nos três últimos dias, nem tão sozinha assim.
Sentindo que estava sendo seguida, volta e meia Bárbara parava de andar e olhava em sua volta, tentando conferir se estava sendo acompanhada. Nada. Foi assim no primeiro dia, foi assim no segundo. No terceiro, contudo, seu ombro foi cutucado e ela levou um tremendo susto quando descobriu quem a estava seguindo.
— Bárbara, eu preciso que você me conte uma coisa! - Butão disse desesperado.
— O que? - o coração de Bárbara, imediatamente, começou a bater acelerado. Ela tinha certeza que Butão descobrira a traição de Lúcia e por isso parecia tão transtornado.
— A Lúcia...
Bárbara sentiu um frio na barriga.
— Ela ficou com aquele viadinho que eu vi vocês saindo do colégio naquele dia, não ficou?
Por mais que ela tenha aberto a boca, ela não conseguiu dizer nada.
— Pode falar Bárbara, eu já sei. Me contaram.
— N-não... - ela tentou se lembrar do que Lúcia pediu que ela falasse caso lhe "perguntassem"; agora ela entendia que Lúcia queria que essa fosse a resposta dada ao Butão - Ela não foi pra essa festa, ela tava lá em casa.
— Que festa? Eu não falei em festa.
Bárbara fechou os olhos, odiando-se por ter sido tão desatenta.
— Ta vendo como você ta mentindo? - ele gritou - Eu sei que ela foi pra festa, me falaram! Me falaram que você tava lá também, então para de mentir!
Os pulmões de Bárbara se enchiam e esvaziavam quase na mesma velocidade que seu coração batia. Ela estava com medo de vacilar com Lúcia outra vez, mas com mais medo do que Butão poderia fazer.
— Fala Bárbara!
— É sério, ela tava lá em casa. Eu posso até...
— Mentirosa! - o urro gutural saído entredentes foi acompanhado de um soco que levou Bárbara ao chão.
Os olhos de Bárbara triplicaram de tamanho assim que ela conseguiu abri-los, sua boca paralisara completamente aberta e suas duas mãos ficaram em cima da bochecha golpeada. A dor ainda não fora sentida; o choque que ela sentia era muito mais sentido poque ela não acreditara que havia sido agredida por Butão. Na verdade, àquela altura, aquele garoto já não era mais o Butão.
— Bárbara?! - ele se ajoelhou em frente à Bárbara imediatamente, arrependido pelo que fez - Me desculpa, me desculpa, me desculpa, me desculpa...
Quando ele ia esticando as mãos para tentar pousá-la junto as dela, solidarizando-se com a sua dor, Bárbara soltou um grito e se levantou de supetão, correndo em direção a sua casa.
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