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Piriguete Capítulo 8
Pandora Agabo

Expediente de 8 horas em um trabalho que te consome é uma barra, só que não uso isso como desculpa para me descuidar. Três vezes por semana, depois que chego em casa e faço um lanchinho, me visto pra e vou à academia que fica aqui pertinho. Pois é, faço o que posso para manter esse corpo que tanto me agrada.

Não vivo pela busca do corpo perfeito, até porque nunca vi um para que eu quisesse imitar, então sou satisfeita com o meu. Sou mesmo. Acho que estamos muito habituados a uma cultura onde todo mundo tem que estar insatisfeito e que sempre temos que nos melhorar. Eu até consigo enxergar o que eu poderia melhorar, mas não vejo essa necessidade. Estria, celulite... Ora, todo mundo tem, inclusive eu! Faz parte, ué. Por que isso tem que ser o fim do mundo pra tanta gente? Faça o que pode para que você se sinta bem com seu próprio corpo e quanto a essas coisinhas que não podemos evitar, só aceita que dói menos.

Mas voltando ao foco, gosto muito do ambiente da academia. Um, porque eu amo estar vestida em roupas esportivas tanto quanto gosto de ver os outros vestidos nos mesmos trajes; dois, porque eu gosto de malhar; três, porque a troca de olhares aqui é quase tão intensa quanto em uma balada. Ta bom, também tem o fator saúde, mas não vou fingir que isso fica em primeiro plano. Até porque consegui de 7 a 10 parceiros na academia e alguns desses caras, como pessoas que cuidam da sua saúde, têm uma disposição incrível na cama - menos os que estão lá mais pela pose de maromba do que pela saúde, que daí ficam usando essa porcaria de anabolizantes e na hora do vamos ver... É, é só "vamos ver" mesmo, porque no "vamos fazer" eles acabam pecando.

O problema é que eu não sou a única que vai e fica de olhos nos boys. Uma penca de mulheres estão lá pra fazerem exatamente o mesmo que eu, o que não teria o menor problema se só dependesse de mim. Se estamos de olho no mesmo cara e ele está dando mais bola pra uma delas que pra mim, reconheço a derrota e fico na minha, até porque homem nenhum é o último da Terra. O bicho pega quando é o contrário.

Fico chateada com essa tremenda falta de união entre as piriguetes e acho que é isso que enfraquece o movimento - se é que eu posso chamar de movimento. Já notei que nenhuma de nós somos de ter muitas amigas, mas algumas delas se amontoam em grupinhos e em vez de se unirem contra toda essa opressão que recai sobre a gente, elas ficam umas contra as outras e acho que esse é um dos maiores motivos por sermos discriminadas, porque nossas semelhantes nos discriminam tanto quanto qualquer homem. Vou usar um episódio de exemplo pra que vocês entendam melhor.

Lembro de um antigo personal trainner que eu tinha, o qual eu dividia com uma moça que (ainda) frequenta essa mesma academia. O cara era uma verdadeira gracinha! E simpático, muito simpático. Se vocês são de conversar, ele com certeza desenvolveria altas conversas contigo e brincaria e riria e... Enfim, ele era um amor. Acontece que ele era um amor com todo mundo e eu tinha consciência disso, obviamente. A moça que dividia esse personal trainner comigo - de um comportamento muito similar ao meu, diga-se de passagem -, contudo, achava que o tratamento VIP que recebia do rapaz era exclusivo e de longe eu já tinha sacado que ela estava investindo. Bom, eu também estava e acho que no que se refere a resultados, estávamos na mesma. Até então eu não sabia se ela já havia reparado que eu estava em campo, só que cara, não sei nem se isso se tratava de uma competição, mas se tinha uma moça com o mesmo objetivo que o meu e se, aparentemente, estávamos empatadas, uma das duas teria que tomar uma atitude primeiro, certo? Sob essa lógica, acabei tomando a iniciativa e mandei a real em um dia que o Guga (o personal trainner) conversava comigo logo após um dia de treino.

— Aaah, eu tenho que ir pra casa, to precisando de um banho urgente! To só a nojeira... - e puxei a parte inferior da minha camiseta, que estava bastante suada.

— Hum... Será que eu posso fazer parte desse banho? - apesar disso ter soado bastante galanteador, acredite: ele falou de um jeito tão cômico, que até mesmo a mais iludida da mulher compreenderia que ele estava brincando, só que eu, que não sou boba e nem nada, aproveitei a brincadeira como uma deixa.

— Só se você disser "sim" quando eu fizer o convite.

O sorriso no rosto do Guga diminuiu significativamente, porque ele não esperava por isso. Aos poucos, ele foi refazendo seu sorriso e perguntou:

— É sério isso?

Afirmei com a cabeça.

— E tenho a possibilidade de dizer "não"? - ele estava blefando, se fazendo de difícil.

— Só se você quiser. - e eu me fiz de indiferente, olhando pras minhas unhas.

— Mas eu quero dizer "sim". - ele sussurrou no meu ouvido.

Quando fui soltar a minha risada, olhei para os lados e percebi que a moça estava nos assistindo com fogo nos olhos. Eu sei que eu falei a parada de as piriguetes se unirem, mas lembrando que somos piriguetes e que não temos compromisso com nenhum desses caras com quem saímos, ir pra casa com o Guga não seria quebrar com esse código imaginário que só existe na minha cabeça e então falei pra ele:

— Então só bora.

— Vou pegar as minhas coisas, rapidão. - e ele me deixou sozinha.

A moça estava com a sobrancelha hiper-arqueada e com os lábios comprimidos, supus que ela estava me xingando mentalmente de tudo quanto é nome. Para não ter de encará-la, peguei meu celular e fingi que estava muito distraída, lendo fosse lá o que fosse. Mas ah, qual é! Quantas vezes eu estava investindo num cara e outra mina teve mais sorte que eu, levou a melhor e eu simplesmente aceitei aquilo? Sabe, acho que todo mundo tem que aprender a perder... E quem garantia que ela estava perdendo, afinal de contas? Era só uma transa, nada mais. Depois que tivéssemos a nossa chance, ela poderia continuar investindo no Guga com a passagem totalmente livre. Só que não, ela preferiu levar aquilo totalmente pro lado pessoal.

Vocês acham que eu me importei?... Sim, me importei, mas aquele lindo do Guga estava pronto pra me acompanhar até o apartamento e ele sabia ótimos truques pra um bom sexo no chuveiro - e na cama... E na sala... E na cozinha.

O Guga foi pro meu apartamento não mais que duas vezes e foram ótimas vezes, mas depois meio que deixamos isso pra lá e continuamos a nossa relação de personal trainner e aluna. Ponto final, mas ponto final só pra mim e pra ele, porque a moça desenvolveu um ódio inacreditável por mim, até parecia que eu estava novamente no colégio. Algumas vezes, quando eu estava caminhando pra um aparelho, ela ia na frente e demorava mais do que o necessário. Pra não arranjar confusão, mudava meus planos e ia pra outro, assim, numa boa. Vocês acham que isso era suficiente pra ela? Não! Ela esbarrava "sem querer" em mim com certa frequência e nem mesmo pedia desculpa. Se cara feia fosse fome, ela com certeza estaria subnutrida, porque ela não fazia a menor questão de aliviar suas linhas de expressão quando eu estava por perto e estava sempre mal encarada.

Um belo dia, o Guga saiu da nossa academia e com a chegada do novo personal trainner - ainda mais gato que o Guga -, ela teve a sua chance de "dar a volta por cima". Antes mesmo que eu pensasse em investir no cara, ela já tratou logo de inventar uma boatinho básico: que o Guga só saiu da academia porque estava praticamente impossível trabalhar no lugar que uma das alunas com quem ele se envolveu frequentava, já que desde que tínhamos saído juntos, eu não parava mais de persegui-lo e de prejudicá-lo. Pois é. Como eu descobri isso? Pelo próprio Xavier (o novato), que com muito custo eu consegui conversar e acho que assim que ele se deu conta de que eu não parecia ser essa ameaça da lenda, perguntou se a história era verdadeira e eu contei exatamente o que aconteceu: nada; o Guga só saiu porque encontrou uma oportunidade de emprego melhor. No fim das contas, a moça que ficou mal vista pelo Xavier e nós dois tivemos a chance de termos uma rapidinha na própria academia, que não foi grande coisa - acho que para os dois - e também deixei essa história pra lá.


Este texto é administrado por: Sabrina Queiroz
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