Era tudo uma questão de deixar de ser uma novidade. Tive que lidar com uma atenção e um cuidado excessivo nas primeiras semanas, mas logo se acostumaram com a minha presença, principalmente porque eles viram que ela não tinha nada de demais e, por fim, resolveram me deixar em paz. Claro, tudo isso só foi possível porque eu não quis receber os holofotes, o que, evidentemente, não era a pretensão de Lúcia, que adorava ser paparicada e adorada pelos outros.
Todos queriam estar perto dela, todos queriam fazer grupo com ela, todos queriam ser amigos dela. Ah, mas a Lúcia dava corda pra esse povo, sendo receptiva com toda essa atenção, fazendo com que todos acreditassem que ela queria exatamente o mesmo.
— O que eu acho mais bonito é essa vontade dela de viver.
Era o que eu ouvia pelos corredores.
Então era isso: Lúcia tinha virado uma heroína, um grande exemplo a ser seguido. Uma lição de vida.
— Eu, no lugar dela, nunca mais ia conseguir me recuperar.
— Acho que eu estaria me comportando tipo que nem a Bárbara, na real.
E eu fiquei com a imagem de traumatizada maluca, a introspectiva depressiva. Bonito, muito bonito. Na realidade era mesmo, até porque isso não era bem mentira; não que fosse uma verdade também, mas eu não fazia o menor esforço pra mudar essa impressão. Na realidade, ela me era bastante conveniente. Enquanto eles acham que eu fiquei assim por algum trauma, eles também perdoam minhas horas de sono durante a aula, meus atrasos com os trabalhos e minhas notas baixas.
"Traumatizada". Foi o que a psicóloga disse aos meus pais e por isso eles ficam perguntando como foi meu dia todos os dias. Fico me perguntando se os pais da Lúcia fazem isso também... Melhor! Se perguntaram à ela como foram aqueles dias. Bom, ninguém nunca me perguntou sobre eles, mas eu bem que gostaria que perguntassem.
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