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Procuram-se amoladores III
Pandora Agabo

O sinal que anunciou o fim da aula foi como um coro dos anjos. O peso da mochila nas minhas costas na verdade era um alívio, porque significava que eu estava indo embora.

— Bárbara... - a professora mais força amizade da escola me chamou antes que eu tornasse realidade o meu sonho de ir pra casa.

Me aproximei de sua mesa e fiquei olhando pra ela.

— Olha, se você quiser ajuda, em qualquer coisa... Mesmo! Pode me pedir, ta?

Eu entendia que ela era a professora favorita de muitas garotinhas que adoram choramingar pelos namoradinhos, mas isso não fazia o meu tipo. Se eu quisesse a sua ajuda, não acha que eu já teria pedido? Não é o que todas fazem? Pois é. Mas ela adora reforçar sua imagem de professora bacana, que se orgulha de suas relações extra-classe com os alunos. Só queria saber se fosse o professor de inglês fazendo a mesma coisa, se a direção não ficaria no pé do pobre, desconfiando de suas intenções.

__ Ta. - respondi com um sorriso bastante convincente.

Sorrisos e respostas afirmativas são excelentes pra colher resultados. Eu estava livre. E eu teria me sentindo ainda mais caso não tivesse uma multidão no portão impedindo a minha passagem.

Muitos esperavam seus pais, transportes escolares ou qualquer carona, mas havia um grupo que simplesmente estava lá, servindo de obstáculo para quem queria passar, fosse a pé ou com suas bicicletas. Não importava a brecha que eu encontrasse no meio daquele povo, bastava que eu desse mais alguns passos pra dar de cara com outra pessoa no meio do caminho.

— Licença. - disse apressada para um deles.

Ele virou a cabeça para trás e se surpreendeu quando me viu.

— Bárbara? - perguntou ao colocar as duas mãos no meus braços - Eu não sabia que você tinha voltado! - e me abraçou de lado, procurando alguém com os olhos e dizendo assim que encontrou quem ele queria - Caramba Lúcia, você nem me contou! - e apontou pra mim.

Lúcia, que estava conversando com algumas pessoas (nenhuma das quais estavam com ela quando cheguei na sala), parou de falar imediatamente e ficou olhando pra mim e pro Oscar, que costumava ser um grande encosto nosso no 1º ano, com um sorriso discreto.

Voltando-se pra mim, Oscar abriu um sorriso de orelha a orelha e exclamou:

— Quanto tempo!

— Pois é... - disse impaciente.

— Você morando na casa de sempre por todo esse tempo, mas mais parecia que você tinha ido morar no exterior. Você sumiu.

— Né? - concordei com uma risada nervosa e então cortei logo a conversa - Hein, eu tenho que ir, minha mãe ta me esperando.

— Tudo bem. Vamos marcar alguma coisa qualquer dia. - e me deu um beijo na bochecha.

— Claro. - que não, apenas.

O meu dia horripilante foi uma total justificativa para os meus passos largos e apressados rumo a minha casa. Não importava o que viessem a me dizer por isso, mas o fato de eu ter dormido por toda aquela tarde era mais do que perdoável... Exceto, talvez, para os meus pais.

— Como foi o seu dia? - meu pai perguntou durante o jantar.

— Bom. - menti.

Meu pai conhecia o meu lado mentiroso, pois era muito parecido com o meu lado neutro e ele ficou me encarando desconfiado. Continuei comendo, como que se nem tivesse passado pela minha cabeça mentir.

— Bárbara. - mas minha mãe também me conhecia e sabia que eu tava mentindo.

— Ah gente, é a escola. Sempre é um saco, nada mudou.

— Não estamos falando da escola em si. - meu pai completou.

— Do que então? - me fiz de desentendida de propósito, porque meus pais nunca tocavam no assunto de maneira literal, sempre contornavam com insinuações e na hora que eu os intimava a dizer com todas as palavras, eles recuavam.

— Se você disse que foi bom, então eu vou acreditar. - meu pai foi o primeiro.

— Passa o sal, filha? - e minha mãe fez o mesmo logo em seguida.


Este texto é administrado por: Sabrina Queiroz
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