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Procuram-se amoladores I
Pandora Agabo

Resumo:
Sinopse: Dois amigos. Duas amigas. Afinal de contas, quem importa mais? Bárbara sempre foi uma pessoa de poucas amizades, mas leal a quem lhe correspondia... Até quando essa pessoa não se demonstrava a melhor das amigas. Sua lealdade, contudo, foi a porta de entrada para um trauma. Dizem que o tempo cura tudo. Bárbara discorda. Observação: como adulto, talvez você não seja o público alvo para esse romance.

Queria que fosse tão simples assim: colocar a mochila nas costas e caminhar pra escola. Mas não era. Meu pai se ofereceu a dar carona, aliás, disse que até fazia questão, mas o ponto não era esse também. A solução seria estudar em casa, como fiz nesse último ano, mas minha mãe disse que eu precisava voltar a viver em sociedade, até porque esse ano termino o colégio e ela acha que tenho o direito de desfrutar isso, por mais que eu não queira. Já que era assim, eu podia ir sozinha, até porque a escola não fica muito distante daqui de casa. A distância não é exatamente o problema.

Eu faltei todo o primeiro mês de aula. Além de ter de lidar com um monte de panelinhas dos anos anteriores, ainda teria de lidar com as panelinhas que agregaram os poucos alunos novos desse ano. Tudo bem, não vim com a pretensão de fazer amigos - e nem de retomar os meus antigos. Muito pelo contrário, quanto menos contato eu fizer, melhor, mas quando eles estão em bando têm uma tendência a incomodarem ainda mais.
Ao pisar na escola, como eu já imaginava, muitos dos olhares se voltaram para mim. Olhares de conhecidos, claro, todos os que sabiam da história. Não se contentando em apenas olhar, eles ainda tinham que ficar cochichando, mas em uma tentativa estúpida para que eu não percebesse. Acordem, eu estou vendo que vocês estão falando de mim!

Tirei o papelzinho do meu bolso e conferi onde eu teria aula. Entrando na sala que correspondia à 3ª série do Ensino Médio turma "B", de cara, vi um grupinho de garotas reunidas perto da mesa do professor. Uma delas cutucou o braço da única loura entre elas e me indicou com a cabeça. A loura virou em direção à porta e expressou surpresa quando me viu.

— Eu já tinha perdido a esperança de que você voltasse. - comentou.

Não respondi, apenas continuei encarando.

— Quer sentar perto da gente? - perguntou educadamente, tentando ser receptiva.

"Não", foi o que eu quis responder, mas no lugar disso eu perguntei:

— Onde vocês tão sentadas?

Lúcia apontou para as cadeiras da frente e então tive a desculpa perfeita para não me misturar:

— Prefiro sentar lá no fundo. Mas valeu de qualquer jeito.

Enquanto colocava minha mochila nas costas da carteira, reparei que Lúcia voltara-se para seu grupinho de amigas e elas começaram a cochichar. Sobre mim, claro. Não, eu não precisava lidar com isso e abaixei a cabeça, ansiosa para quando tocasse o sinal.
     
                   ***

Tive até o intervalo para me convencer de que eu estava ferrada com as matérias. Eu não conseguia entender! Aqueles conteúdos eram completamente abstratos pra minha cabeça e eu juro que tentei me concentrar, mas os olhares que volta e meia vinham pra mim não me deixaram ter sucesso nesse plano. E mesmo com os professores me dando uma atenção especial, perguntando se eu queria que eles repetissem a explicação, nada disso me serviu, até porque eu disse que estava tudo bem, porque de nada adiantaria que eles repetissem. Eu estava perdida.

Se fosse uma opção, teria escolhido continuar as aulas direto, mas esse não era o caso e tive que aguentar mais olhares que insistiam em me seguir por onde eu passava. Sendo assistida enquanto comia a minha maçã, como que fosse uma grande bizarrice da minha parte, tentei ignorar toda aquela gente - ou fingir que a ignorava - e segui vivendo... Não tão rápido, porque ficar me olhando e cochichando, aparentemente, não era suficiente também.

— Seja bem vinda. - Karine, nossa representante de turma do 1º ano, veio falar comigo, como que se ainda tivesse alguma responsabilidade ou obrigação comigo. Pelo menos ela veio sozinha.

— Obrigada. - respondi sem muita emoção.

— Como você ta?

— Bem.

A diplomacia de Karine - e a sua curiosidade - não permitiria que a nossa conversa terminasse ali.

— Você já viu a Lúcia?

— Vi. - e abri um sorriso simpático, como que querendo dizer "Viu? Eu to bem, agora você já pode ir".

— Eu sei que as pessoas são diferentes e reagem de maneiras diferentes, mas... - ela se acomodou ao meu lado e eu tive certeza que essa conversa me tomaria todo o intervalo - Eu acho que você deveria ter vindo pra escola no passado. Eu sei que o que vocês passaram foi difícil, mas a Lúcia já está bem melhor e tenho certeza que foi porque ela ergueu a cabeça pra seguir em frente.

Eu não entendi muito bem o propósito de ela ter vindo me dar esse sermão, mas eu fiquei ouvindo seu discurso e fingindo que estava levando-o em consideração.

— Mas antes tarde do que nunca, é o que eu sempre digo. - e soltou uma risadinha de garota sem sal.

Por mais que eu não falasse muito mais que "hum", "nossa" e "sério?", Karine ficou sentada ao meu lado e tagarelando por todo o intervalo, como que se eu tivesse mesmo interessada no que aconteceu naquela escola no ano em que eu não estive lá. De todas as coisas que ela disse, a única coisa que eu realmente apreendi foi: a recuperação de Lúcia foi surpreendentemente rápida e todos a admiram por isso. Não demorei pra concluir que isso não me parece justo.


Este texto é administrado por: Sabrina Queiroz
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