E lá vai o amor vestido de mel, seda e pimenta
Em salto alto desfila, sabendo que pode cair, ele treina
Sabendo que pode matar, ele sofre
Querendo poder agradar, ele fere, e se fere
Esse amor atravessa a rua sem olhar
Para, fica em meio ao sinaleiro e espera-o abrir
Sabe bem que será atropelado, mas não se move
Enfim, o sangue e suas partes esfaceladas ficam jogadas em rua crua e asfalto quente
Por vezes cicatriza-se infinitamente como antes
Por vezes junta algumas partes, e outras partes, que escorram por algum boeiro qualquer
Sem mal saber por que fazes isso, ele se prepara novamente
Corre para o sinaleiro ainda fechado
As unhas machucam a mão cerrada
Seus olhos continuam vendados, prefere assim, não ver o próximo carro
E torce para que quando o sinal abrir, o motorista não avance
Quem sabe buzine e ainda grite
Quem sabe o convide para dar uma volta
Quem sabe o amor seja a morte de quem conduz o carro, a morte da inconstante vida sofrida e contínua
Quem sabe esse sofrego tentador da vida judiada seja uma bendita ferida que não se fecha, pois simplesmente queremos sempre avançar o sinal
E se escolhêssemos simplesmente parar?
To esquecendo a chave do carro
To vendo o reflexo estampado daquele coração sofredor no meu peito também
To vendo que assim que parei pra amar, por mim mesmo e mais ninguém
As cicatrizes sumiram, e um novo coração surgiu
E esse...só sai de casa acompanhado.
Alexandre
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